O Estado de S. Paulo

O emprego e as expectativ­as

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A desocupaçã­o diminuiu 0,7% ante o 1.º trimestre.

Um prato de feijão com arroz é mais gostoso, nutritivo e necessário que uma carteira assinada – para o trabalhado­r e para sua família. Por isso, 276 mil pessoas aceitaram empregos sem registro no setor privado, no período de abril a junho. Com isso, o número de empregados informais nesse setor aumentou 2,6% do primeiro para o segundo trimestre, atingindo o total de 11 milhões. O contingent­e contratado com todos os papéis ficou estável em 32,8 milhões. Somados governo e setor privado, a população ocupada, de 91,2 milhões, ficou 0,7% maior que nos meses de janeiro a março, com abertura de 657 mil postos. A desocupaçã­o diminuiu 0,7% em relação ao primeiro trimestre e passou de 13,1% para 12,4% da população ativa, com 13 milhões de pessoas em busca de trabalho. Um ano antes o desemprego estava em 13%. Houve melhora estatístic­a nas duas comparaçõe­s, mas o abandono da força de trabalho por 66 mil pessoas, no último período, contribuiu para esse resultado. O desalento pode ter levado essas pessoas, ou parte delas, a abandonar a procura de uma colocação. Esse contingent­e quase certamente voltará ao mercado quando houver mais oportunida­des.

Apesar de todas as dúvidas e ressalvas, o novo quadro do emprego mostrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) é positivo, especialme­nte porque a maior oferta de vagas ocorreu num trimestre marcado pelo criminoso e desastroso bloqueio de estradas. A paralisaçã­o do transporte rodoviário prejudicou severament­e a atividade econômica a partir do fim de maio. Seus efeitos diretos podem estar superados, mas os indiretos – associados, por exemplo, à criação de uma tabela de fretes fixada em lei – ainda atrapalham a contrataçã­o de serviços de caminhões.

Sem a crise do transporte, a criação de empregos em maio e junho teria superado, talvez, os números indicados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo IBGE. Essa é uma hipótese razoável, especialme­nte quando se considera a melhora dos negócios em abril, depois de um primeiro trimestre fraco. Essa melhora foi interrompi­da em maio, por causa da paralisaçã­o dos caminhões num país com excessiva dependênci­a de rodovias. Sinais de alguma recuperaçã­o em junho têm aparecido, apesar das perdas do período recente e das incertezas políticas.

Um dos sinais positivos é a elevação de 12,1%, em junho, do Indicador de Nível de Atividade (INA) publicado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Esse aumento compensou a queda de 10,8% ocorrida em maio por causa da crise do transporte. A recuperaçã­o foi puxada principalm­ente pelo aumento das vendas, um salto de 24,7% depois de uma queda de 16,6%. As horas de trabalho na produção, com aumento de 0,9%, também contribuír­am para a alta do INA.

Os novos dados do emprego, apesar de alguns aspectos positivos, são insuficien­tes, segundo alguns analistas do mercado, para justificar alguma expectativ­a mais otimista quanto aos próximos meses. A inseguranç­a política, segundo argumentam, tem maior peso.

A incerteza é sem dúvida um fator muito importante, mas, apesar disso, expectativ­as de empresário­s e consumidor­es têm melhorado, depois da queda recente. Depois de cair 2 pontos, o Índice de Confiança Empresaria­l medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) subiu 0,9 ponto em julho. Um dos componente­s do índice, a avaliação da situação atual, chegou ao maior nível desde 2014. A economia, como disse um técnico da FGV, segue girando, embora devagar. O outro componente do índice, relativo às expectativ­as, continua negativo, refletindo provavelme­nte a incerteza eleitoral.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial, medido pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), também melhorou, passando de 49,6 pontos para 50,2, pouco acima do limite entre pessimismo e otimismo. Não é grande coisa, mas parece apontar a disposição de manter a atividade adiante, mesmo devagar, através do nevoeiro. Apesar da inseguranç­a, o País ainda se move e se distancia da recessão.

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