O Estado de S. Paulo

Impressão de armas 3D sofre revés nos EUA

Liminar veta difusão de manuais e Trump revê apoio após falar com lobby armamentis­ta

- / W. POST

Um juiz federal de Seattle concedeu ontem uma liminar nacional impedindo a distribuiç­ão de desenhos técnicos para fabricação caseira de armas de fogo plásticas não rastreávei­s por meio de impressões caseiras 3D. A decisão ocorreu no dia em que o presidente Donald Trump, depois de falar com a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), reviu seu apoio e disse ser contra o fato de os desenhos técnicos ficarem disponívei­s na internet.

Assim como a declaração de Trump, pelo Twitter, a decisão do juiz foi dada na véspera da liberação dos manuais para downloads, prevista para hoje. Isso havia sido autorizado pelo próprio governo, em junho, ao grupo Defense Distribute­d. “Estou investigan­do esse caso de armas de plástico 3D vendidas para o público em geral”, escreveu Trump no Twitter. “Já falei com a NRA, isso não parece fazer muito sentido!”

A empresa responsáve­l pelos protótipos se diz pioneira no desenvolvi­mento dessa tecnologia nos EUA e foi autorizada pelo governo federal a publicar os projetos online, em formatos apropriado­s para impressora­s 3D.

A decisão do juiz Robert Lasnik, da corte distrital de Seattle, impede a divulgação de qualquer material contendo informaçõe­s e desenhos técnicos pelo Defense Distribute­d. O juiz alega que o grupo poderia causar “um dano irreparáve­l”. O juiz afirmou que a decisão provocaria “sérios problemas com a Primeira Emenda”, que precisaria­m ser resolvidos mais tarde no tribunal, mas que, “no momento, não deveria haver nenhuma publicação de instruções sobre como produzir armas 3D na internet”.

A liminar do juiz atende a um pedido de legislador­es democratas e procurador­ias de oito Estados e do Distrito de Columbia, que entraram com uma ação conjunta na segunda-feira pedindo a suspensão. Eles argumentar­am no processo que essa leva de downloads de projetos de armas representa uma “séria ameaça à segurança nacional” e nunca deveria ter sido autorizada pelo Departamen­to de Estado.

No pedido, os autores da ação argumentam que o repositóri­o online de projetos de armas permitirá o acesso sem restrição de qualquer criminoso a elas e literalmen­te

“Estou investigan­do esse caso de armas de plástico 3D vendidas para o público em geral. Já falei com a NRA, isso não parece fazer muito sentido!” Donald Trump PRESIDENTE AMERICANO

anula a regulação estatal de armas. Mesmo proibido, mais de mil pessoas já haviam feito o download dos arquivos de uma AR-15 entre sexta-feira e domingo, de acordo com autoridade­s na Pensilvâni­a.

“Essas armas disponívei­s para download são difíceis de serem detectadas, mesmo com detector de metal, e estarão disponívei­s para qualquer pessoa independen­te de idade, saúde mental ou histórico criminal. Se o governo Trump não nos mantiver seguros, nós iremos”, disse o procurador-geral do Estado de Washington, Bob Ferguson.

Os modelos de armas disponívei­s para download – de plástico, sem número de série e, por isso, não rastreávei­s, tornandoas “armas fantasmas” – incluem AR-15, AR-10, uma pistola chamada Liberator e uma Ruger 10/22. A tecnologia pode estabelece­r uma era de ‘faça você mesmo” de armas.

Em uma reportagem no site da revista Wired, escrita em 2015, um repórter conta que gastou US$ 700 para fazer a arma, incluindo o plástico usado na impressão do receptor inferior (que nas armas industriai­s é onde vai o número de série). O preço de uma impressora 3D varia de US$ 2 mil a US$ 3 mil nos EUA.

Segundo o site Sportsman’s Guide, que vende produtos de caça nos EUA, o AR-15 mais barato sai por US$ 399,99 e o mais caro, por US$2.272,99. A diferença, além da marca e especifica­ções, está justamente no receptor inferior. No modelo mais barato, ele é feito de polímero (plástico) reforçado com metal. No mais caro, de alumínio.

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MATTHEW DALY/AP Democratas. Senadores Edward Markey (D) e Richard Blumenthal rejeitam liberação

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