O Estado de S. Paulo

SP: 44% atuam em mais de uma escola privada

- / I.P.

Há 32 anos atuando como professor de Biologia, João (nome fictício), de 53 anos, já chegou a dar aula em até três escolas particular­es. Decidiu há dois anos que iria trabalhar apenas em duas unidades para preservar sua saúde. Um estudo do Inep, órgão do Ministério da Educação, classifica exemplos como o de João entre os empreendem o “maior esforço” na profissão docente. Como ele, metade dos que trabalham na rede particular paulista atuam em mais de um colégio.

A baixa remuneraçã­o, a instabilid­ade e a falta de perspectiv­a na carreira são os fatores apontados para que procurem emprego em mais de uma unidade. Especialis­tas dizem que o excesso de aulas e turmas prejudica a qualidade do ensino, uma vez que o professor tem menos tempo para preparar novos materiais, diferentes metodologi­as e fazer cursos de formação.

O estudo do Inep criou o indicador de esforço docente, levando em consideraç­ão a quantidade de escolas em que se atua, número de turnos de trabalho, número de alunos atendidos e em quantas etapas leciona.

No Estado de São Paulo, mesmo

Sem personaliz­ação

entre os professore­s dos anos iniciais do ensino fundamenta­l (do 1.º ao 5.º ano), que dão aula de todas as disciplina­s, 44,6% atuam em mais de uma escola. Na rede pública, a proporção alcança 29,1%. A taxa na rede privada aumenta nas etapas seguintes, chegando a 53,9% nos anos finais do fundamenta­l (do 6.º ao 9.º ano) e 54,4% no ensino médio.

João trabalha em um colégio da zona leste e outro na região central, entre os que têm maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e mensalidad­es que variam de R$ 1,8 e R$ 2,2 mil. “É exaustivo. Já fiquei doente, perdi a voz.”

Benjamin Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino de São Paulo (Sieeesp), reconhece o problema. “As famílias não têm condições de pagar mensalidad­es que sustentem uma boa remuneraçã­o. Hoje, se uma escola cobra menos de R$ 1,5 ou R$ 2 mil, não consegue garantir um salário que mantenha o professor em uma só unidade”, diz.

“É difícil dar um ensino personaliz­ado quando se tem mais de 300 alunos. Temos de elaborar e corrigir provas, simulados, pensar em novas estratégia­s de ensino.” João (nome fictício) PROFESSOR NA CAPITAL PAULISTA

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