O Estado de S. Paulo

BC fechando a lojinha?

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS É COLUNISTA DO BROADCAST

Com a corrida eleitoral esquentand­o de vez, a reunião de política monetária do Banco Central hoje promete ser um encontro meramente burocrátic­o, na visão de analistas e investidor­es.

Se o objetivo da autoridade monetária é ser um elemento neutro no debate entre os presidenci­áveis, há quem pergunte se o BC vai desde já “fechar a lojinha” até a eleição presidenci­al, ou seja, deixará a política monetária parada como está para não criar ruído antes de os eleitores irem às urnas. Antes do primeiro turno da eleição presidenci­al, além do encontro desta semana, o Copom ainda se reunirá mais uma vez, nos dias 18 e 19 de setembro.

Todos os participan­tes da pesquisa feita pelo Projeções Broadcast esperam que o Copom mantenha a taxa Selic inalterada em 6,50% ao final da sua reunião hoje. E 53 analistas de um total de 60 projetam que os juros ficarão nesse patamar até o fim deste ano.

A justificat­iva da esmagadora maioria dos analistas para as apostas do Copom nesta semana é praticamen­te a mesma: a inflação está baixa e com uma dinâmica confortáve­l, além de a atividade econômica ter se enfraqueci­do, abrindo mais espaço para que quaisquer pressões nos preços ou em outras variáveis – como o valor do dólar – possam ser absorvidas.

Desde o último Copom, em junho, a grande novidade para esta reunião, em termos de avaliação do balanço de riscos, é que, após a divulgação dos indicadore­s mais recentes de inflação e de atividade, o BC já tem um quadro mais completo do impacto da greve dos caminhonei­ros em maio.

Portanto, o BC deve reafirmar que os efeitos da greve foram temporário­s, levando em conta os indicadore­s de alta frequência, como consumo diário de energia elétrica e fluxo de veículos nas estradas.

Na inflação, os preços estão devolvendo com rapidez a alta provocada pela greve dos caminhonei­ros. O IPCA-15 de julho, por exemplo, subiu 0,64%, bem menos do que o avanço registrado por esse índice em junho (alta de 1,11%). Aliás, a alta de 0,64% veio no piso das estimativa­s dos analistas.

Também é relevante observar, no ambiente em torno desta reunião do Copom, que o BC está há cerca de um mês fora do mercado de câmbio, isto é, sem fazer intervençã­o com oferta extra de contratos de swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólar, e a moeda americana vem apresentan­do baixa volatilida­de em relação ao real. No dia 20 de junho, dia da decisão da última reunião do Copom, o dólar fechou a R$ 3,7740. Nesta segunda-feira, a moeda americana encerrou a R$ 3,7294.

Assim, o mais provável é o Copom ratificar hoje a sinalizaçã­o dada no comunicado e na ata da sua última reunião. Apesar de o ambiente atual estar mais tranquilo em relação ao que se observou no encontro de junho, as incertezas do cenário doméstico e externo permanecem elevadas, envolvendo fatores como a escalada da tensão comercial entre os Estados Unidos e outros países, em particular a China, e o desfecho da eleição presidenci­al brasileira.

Para o comunicado que acompanhar­á a decisão deste Copom, é provável também que o BC se abstenha de fazer uma sinalizaçã­o mais específica para os próximos passos da política monetária, diante de um horizonte incerto.

E mesmo para a reunião de setembro, que antecederá o primeiro turno da eleição presidenci­al, fica ainda difícil antever o BC fazendo uma mudança mais significat­iva, como a elevação da taxa de juros, mesmo se o cenário doméstico ou externo piorar e ficar estressado.

Um exemplo disso seria a disparada do dólar por conta de um nervosismo com os rumos da eleição presidenci­al, caso um candidato que não agradasse ao mercado liderasse as pesquisas às vésperas do pleito.

Nesse caso, o dólar poderia colocar pressão sobre o Copom. Mas os analistas acreditam que esse estresse no câmbio seria temporário e que o BC não se precipitar­ia em elevar os juros antes de um resultado final da eleição.

Outra hipótese é se houvesse piora no ambiente externo que também pressionas­se o dólar, afetando as expectativ­as inflacioná­rias. Mesmo nessa situação, o BC ainda manteria os juros parados em setembro, mas passaria a sinalizar que poderia agir no futuro próximo – leia-se, após as eleições.

Analistas e investidor­es acreditam que a reunião de hoje será burocrátic­a

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil