BC fechando a lojinha?
Com a corrida eleitoral esquentando de vez, a reunião de política monetária do Banco Central hoje promete ser um encontro meramente burocrático, na visão de analistas e investidores.
Se o objetivo da autoridade monetária é ser um elemento neutro no debate entre os presidenciáveis, há quem pergunte se o BC vai desde já “fechar a lojinha” até a eleição presidencial, ou seja, deixará a política monetária parada como está para não criar ruído antes de os eleitores irem às urnas. Antes do primeiro turno da eleição presidencial, além do encontro desta semana, o Copom ainda se reunirá mais uma vez, nos dias 18 e 19 de setembro.
Todos os participantes da pesquisa feita pelo Projeções Broadcast esperam que o Copom mantenha a taxa Selic inalterada em 6,50% ao final da sua reunião hoje. E 53 analistas de um total de 60 projetam que os juros ficarão nesse patamar até o fim deste ano.
A justificativa da esmagadora maioria dos analistas para as apostas do Copom nesta semana é praticamente a mesma: a inflação está baixa e com uma dinâmica confortável, além de a atividade econômica ter se enfraquecido, abrindo mais espaço para que quaisquer pressões nos preços ou em outras variáveis – como o valor do dólar – possam ser absorvidas.
Desde o último Copom, em junho, a grande novidade para esta reunião, em termos de avaliação do balanço de riscos, é que, após a divulgação dos indicadores mais recentes de inflação e de atividade, o BC já tem um quadro mais completo do impacto da greve dos caminhoneiros em maio.
Portanto, o BC deve reafirmar que os efeitos da greve foram temporários, levando em conta os indicadores de alta frequência, como consumo diário de energia elétrica e fluxo de veículos nas estradas.
Na inflação, os preços estão devolvendo com rapidez a alta provocada pela greve dos caminhoneiros. O IPCA-15 de julho, por exemplo, subiu 0,64%, bem menos do que o avanço registrado por esse índice em junho (alta de 1,11%). Aliás, a alta de 0,64% veio no piso das estimativas dos analistas.
Também é relevante observar, no ambiente em torno desta reunião do Copom, que o BC está há cerca de um mês fora do mercado de câmbio, isto é, sem fazer intervenção com oferta extra de contratos de swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólar, e a moeda americana vem apresentando baixa volatilidade em relação ao real. No dia 20 de junho, dia da decisão da última reunião do Copom, o dólar fechou a R$ 3,7740. Nesta segunda-feira, a moeda americana encerrou a R$ 3,7294.
Assim, o mais provável é o Copom ratificar hoje a sinalização dada no comunicado e na ata da sua última reunião. Apesar de o ambiente atual estar mais tranquilo em relação ao que se observou no encontro de junho, as incertezas do cenário doméstico e externo permanecem elevadas, envolvendo fatores como a escalada da tensão comercial entre os Estados Unidos e outros países, em particular a China, e o desfecho da eleição presidencial brasileira.
Para o comunicado que acompanhará a decisão deste Copom, é provável também que o BC se abstenha de fazer uma sinalização mais específica para os próximos passos da política monetária, diante de um horizonte incerto.
E mesmo para a reunião de setembro, que antecederá o primeiro turno da eleição presidencial, fica ainda difícil antever o BC fazendo uma mudança mais significativa, como a elevação da taxa de juros, mesmo se o cenário doméstico ou externo piorar e ficar estressado.
Um exemplo disso seria a disparada do dólar por conta de um nervosismo com os rumos da eleição presidencial, caso um candidato que não agradasse ao mercado liderasse as pesquisas às vésperas do pleito.
Nesse caso, o dólar poderia colocar pressão sobre o Copom. Mas os analistas acreditam que esse estresse no câmbio seria temporário e que o BC não se precipitaria em elevar os juros antes de um resultado final da eleição.
Outra hipótese é se houvesse piora no ambiente externo que também pressionasse o dólar, afetando as expectativas inflacionárias. Mesmo nessa situação, o BC ainda manteria os juros parados em setembro, mas passaria a sinalizar que poderia agir no futuro próximo – leia-se, após as eleições.
Analistas e investidores acreditam que a reunião de hoje será burocrática