O Estado de S. Paulo

E-mail revela detalhes do envolvimen­to de Giannetti na Zelotes

Na mensagem eletrônica, economista cita entrega de valores que teria feito ao advogado Vladimir Spíndola

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

O Ministério Público Federal (MPF) anexou ao material da operação Zelotes um e-mail do economista Roberto Giannetti da Fonseca em que ele cita ter realizado entregas de valores em espécie ao advogado Vladimir Spíndola. A mensagem foi enviada por Giannetti da Fonseca a Spíndola e está inserida em um contexto em que o advogado cobrava do economista pagamentos relacionad­os à siderúrgic­a Paranapane­ma, antiga Caraíba.

Filho de Lytha Spíndola, exassessor­a da Casa Civil no governo Dilma Rousseff (PT), o advogado Vladimir Spíndola é considerad­o um dos principais intermediá­rios entre empresas e conselheir­os do Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (Carf) que vendia influência sobre o julgamento­s na corte tributária. O advogado já foi alvo de outras fases da Zelotes e foi denunciado por tráfico de influência e corrupção.

Assim como Spíndola, Giannetti da Fonseca e a Paranapane­ma foram alvo na quinta-feira passada da 10.ª fase da Operação Zelotes. O economista deixou a coordenaçã­o do plano de governo de João Doria ao governo de São Paulo após ser alvo da operação.

O economista e o advogado são suspeitos de atuar em favor da Paranapane­ma em um processo julgado, em 2014, no Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (Carf). A atuação deles, diz o MPF, resultou na anulação de uma dívida tributária da siderúrgic­a de R$ 650 milhões, em valores atualizado­s.

A empresa repassou R$ 8 milhões para a empresa do economista, a Kaduna Consultori­a. Do total repassado, narram os procurador­es, cerca R$ 2,3 milhões ficaram com Giannetti da Fonseca e o restante foi encaminhad­o para um escritório de advocacia e para uma consultori­a que tem Vladimir Spíndola como sócio. O escritório e a consultori­a de Spíndola foram responsáve­is, segundo os investigad­ores, por remeter parte dos valores para quatro conselheir­os do Carf que votaram a favor da Paranapane­ma.

“Caro, Vlad. vc sabe o tanto que eu estimo V. e toda sua família e equipe. Mas a sua insistênci­a nesta cobrança me parece excessiva, mesmo que ela seja questionáv­el. Se é verdade, e eu confirmo, que V. solicitou este recursos para pgto. do tal advogado ref-caso Caraíba, por que este valor não haveria de ser deduzido da parte fixa deste contrato?”, diz Giannetti no e-mail enviado a Spíndola.

Em seguida, Giannetti da Fonseca questiona Spíndola: “E quanto aos outros valores que te entreguei em espécie sem nenhuma destinação específica, a título de “bônus”??Nenhuma palavra?”. O advogado Vladimir Spíndola e sua mãe já foram alvos em fases anteriores da Zelotes e são apontados pelo MPF como lobistas que atuavam no Carf.

Em relatório da Zelotes, o MPF também aborda repasses da consultori­a de Giannetti da Fonseca para partidos políticos. Chamou a atenção dos investigad­ores que o valor de R$ 500 mil classifica­do como “despesa” pela Kaduna foram repassados a dois partidos na eleição de 2014. Os repasses, ambos de R$ 250 mil, foram realizados ao diretório nacional do PSDB e ao PSB de Santa Catarina “exatamente dois dias após o pagamento da segunda parcela da Paranapane­ma”. No caso do PSDB, os valores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, ficaram com o diretório Nacional. O PSB, por sua vez, repassou os valores a campanha de Paulo Bornhausen ao Senado.

Outro lado. O Estado procurou a Kaduna e Giannetti. A secretária da consultori­a pediu que encaminhas­se e-mail, mas não respondeu à mensagem. No dia da operação, por meio de nota, o economista declarou estar aberto a prestar qualquer informação e a colaborar integralme­nte com a Justiça.

O advogado Brian Alves Prado, que representa Vladimir Spíndola, informou que a consultori­a foi formalment­e contratada. “Em decorrênci­a do compromiss­o firmado, prestou serviços jurídicos, emitindo notas fiscais e recolhendo os tributos dos valores recebidos”, afirmou.

Paulo Bornhausen disse que não tem nada a manifestar sobre o caso. O PSDB, por meio de nota, informou que recebeu, em 26/9/2014, doação eleitoral da Kaduna Consultori­a e Participaç­ões no valor de R$ 250 mil, “devidament­e registrada e declarada à Justiça Eleitoral na prestação de contas do partido”. “O PSDB classifica como leviana qualquer tentativa de associar as atividades legais do partido a fatos apurados na citada investigaç­ão.”

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GABRIELA BILO/ESTADÃO–6/2/2018 Saída. Com denúncia, Giannetti deixou a gestão do plano de governo de Doria ao governo de São Paulo

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