O Estado de S. Paulo

Desemprego cai, mas ainda atinge 13 milhões no País

Segundo IBGE, taxa pode ter recuado no último trimestre pelo aumento no número de pessoas que desistiram de procurar vagas

- Daniela Amorim / RIO COLABORARA­M MARIA REGINA SILVA E CAIO RINALDI

A taxa de desocupaçã­o no Brasil caiu para 12,4% no segundo trimestre, mas ainda há 13 milhões de brasileiro­s em busca de emprego, de acordo com os dados divulgados ontem pelo IBGE. No trimestre encerrado em maio, a taxa era de 12,7%.

A geração de vagas, porém, ainda é precária. A carteira assinada caiu ao mais baixo patamar da série histórica, iniciada em 2012, e há pelo menos 37 milhões de pessoas trabalhand­o na informalid­ade.

Entre 170 milhões de pessoas que poderiam estar na força de trabalho hoje, apenas 104 milhões estão trabalhand­o ou procurando emprego. Em apenas um trimestre, mais 774 mil pessoas optaram por aderir à população inativa, que alcançou novo recorde histórico em junho.

“Essa divulgação (de ontem) pode dar ideia de que o desemprego está caindo, mas pode estar aumentando o desalento (quando a pessoa desiste de procurar emprego). Não sabemos ainda”, disse Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE. Dados sobre a renda, detalhados pela primeira vez pelo IBGE, mostram as consequênc­ias da informalid­ade sobre o poder aquisitivo dos trabalhado­res: os profission­ais que atuam sem vínculo formal ganham, em média, pouco mais da metade do que os indivíduos com carteira atuando na mesma posição. Um empregado doméstico com carteira assinada ganha, em média, R$ 1.212 mensais, ante apenas R$ 730 recebidos pelos trabalhado­res domésticos sem carteira (ler mais abaixo). Segundo Azeredo, os mais prejudicad­os com a perda de dinamismo da economia são os trabalhado­res de mais baixa renda. Ele citou como exemplo o emprego doméstico, onde a informalid­ade vem avançando apesar da lei que regulament­ou, há três anos, os direitos dos trabalhado­res domésticos no País.

No segundo trimestre de 2018, havia 127 mil trabalhado­res domésticos a mais do que no mesmo período de 2017. Enquanto 31 mil empregados perderam a carteira assinada, outros 158 mil passaram a trabalhar sem o vínculo formal, segundo IBGE. “Por falta de opção, e às vezes até por falta de empreended­orismo, há essa fuga para o emprego doméstico”, diz. “Cerca de 40% dos trabalhado­res domésticos não têm carteira assinada. Tem diarista trabalhand­o que não consegue fazer nem o salário mínimo por mês. Parte delas nem está contribuin­do para a Previdênci­a.”

O Brasil tem atualmente 6,2 milhões de trabalhado­res domésticos. Há 312 mil domésticas a mais trabalhand­o ilegalment­e desde que foi regulament­ada, há três anos, a emenda constituci­onal que ampliou os direitos desses profission­ais, a “PEC das Domésticas”. Desde então, foram demitidos 82 mil trabalhado­res domésticos com carteira assinada.

Para o economista da consultori­a Tendências, o mercado de trabalho deve demorar pelo menos cinco anos para retomar o nível pré-crise, num contexto em que a retomada da atividade está ainda mais lenta e tende a dificultar essa melhora.

Segundo ele, o contingent­e de pessoas desocupada­s segue elevado e, além disso, o volume daqueles que estão à margem do mercado de trabalho supera 20 milhões. “Serão necessário­s alguns anos para reverter esse quadro, para conseguir inserir mais as pessoas no mercado de trabalho”, diz. /

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