Inovar, para ter cidades inovadoras
Num mundo em rede, onde a economia é de conhecimento e trabalho é performance simbólica, cada vez mais presente no espaço virtual, são as cidades que importam, e não estados ou países. Moramos em cidades. Globalmente, em mercados de conhecimento, as cidades competem entre si. A alocação dos recursos fluidos pela iniciativa privada se dá ao redor do globo, onde os investimentos forem mais competitivos. É aqui que começa nossa história.
Para cada mercado, há um conjunto de lugares ao mesmo tempo importantes e relevantes. Cinema, por exemplo. Quantas cidades são ao mesmo tempo importantes – porque se faz, lá, algo de qualidade para o contexto global – e relevantes para o cinema – isto é, a economia do cinema, no local, é sustentável e significativa globalmente? A lista tem Londres, Mumbai, Los Angeles, Nova York, Paris... lugares onde a economia do entretenimento audiovisual gira bilhões de dólares por ano.
Quase nenhuma das grandes cidades do cinema é importante e relevante só em cinema. Londres é um dos maiores centros financeiros, de conhecimento e logística do planeta. Mumbai é a capital indiana do cinema e ao mesmo tempo, centro financeiro e de software. Ela está no 52º lugar do índice de cidades globais da consultoria A.T. Kearney. Seis cidades do Brasil estão entre as 15 latino-americanas que fazem parte do estudo.
Infelizmente, à exceção de São Paulo, estão todas em posições abaixo do que estavam na primeira lista, feita em 2012. No top 25, a única latino-americana é Buenos Aires, em 25º lugar. Que inovação falta, aqui, para sermos globalmente competitivos?
É simples e não há uma ordem, porque é uma política de “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”: um ambiente de negócios que atrai talento, combinado a talento que alimenta desenvolvimento de negócios; um conjunto de ações de governo que fortaleçam o bem-estar, o desenvolvimento de capital humano, políticas e programas que habilitam um ambiente de negócios positivo para empreendedores locais e globais.
Essa combinação inovadora de políticas é o que a política brasileira não consegue produzir no longo prazo. São Paulo “foge à regra” pelas suas redes de educação, de capital humano e de logística, além de seu tamanho em relação ao resto do Brasil. Mas, mesmo para São Paulo, é muito difícil competir globalmente quando há um Brasil inteiro – e sua política, em particular – a puxar todos pra trás. Para ter cidades globalmente competitivas, é preciso trazer, do futuro, políticas que criem condições para que elas existam. Destas cidades é que vem as inovações que, por sua vez criam os futuros onde vamos viver. Sem ter cidades nem políticas para criá-las, é capaz do Brasil ter muito pouco futuro.