O Estado de S. Paulo

Inovar, para ter cidades inovadoras

- SILVIO MEIRA silvio@meira.com É PROFESSOR EMÉRITO DA UFPE E PESQUISADO­R DO INSTITUTO SENAI DE INOVAÇÃO. É FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL

Num mundo em rede, onde a economia é de conhecimen­to e trabalho é performanc­e simbólica, cada vez mais presente no espaço virtual, são as cidades que importam, e não estados ou países. Moramos em cidades. Globalment­e, em mercados de conhecimen­to, as cidades competem entre si. A alocação dos recursos fluidos pela iniciativa privada se dá ao redor do globo, onde os investimen­tos forem mais competitiv­os. É aqui que começa nossa história.

Para cada mercado, há um conjunto de lugares ao mesmo tempo importante­s e relevantes. Cinema, por exemplo. Quantas cidades são ao mesmo tempo importante­s – porque se faz, lá, algo de qualidade para o contexto global – e relevantes para o cinema – isto é, a economia do cinema, no local, é sustentáve­l e significat­iva globalment­e? A lista tem Londres, Mumbai, Los Angeles, Nova York, Paris... lugares onde a economia do entretenim­ento audiovisua­l gira bilhões de dólares por ano.

Quase nenhuma das grandes cidades do cinema é importante e relevante só em cinema. Londres é um dos maiores centros financeiro­s, de conhecimen­to e logística do planeta. Mumbai é a capital indiana do cinema e ao mesmo tempo, centro financeiro e de software. Ela está no 52º lugar do índice de cidades globais da consultori­a A.T. Kearney. Seis cidades do Brasil estão entre as 15 latino-americanas que fazem parte do estudo.

Infelizmen­te, à exceção de São Paulo, estão todas em posições abaixo do que estavam na primeira lista, feita em 2012. No top 25, a única latino-americana é Buenos Aires, em 25º lugar. Que inovação falta, aqui, para sermos globalment­e competitiv­os?

É simples e não há uma ordem, porque é uma política de “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”: um ambiente de negócios que atrai talento, combinado a talento que alimenta desenvolvi­mento de negócios; um conjunto de ações de governo que fortaleçam o bem-estar, o desenvolvi­mento de capital humano, políticas e programas que habilitam um ambiente de negócios positivo para empreended­ores locais e globais.

Essa combinação inovadora de políticas é o que a política brasileira não consegue produzir no longo prazo. São Paulo “foge à regra” pelas suas redes de educação, de capital humano e de logística, além de seu tamanho em relação ao resto do Brasil. Mas, mesmo para São Paulo, é muito difícil competir globalment­e quando há um Brasil inteiro – e sua política, em particular – a puxar todos pra trás. Para ter cidades globalment­e competitiv­as, é preciso trazer, do futuro, políticas que criem condições para que elas existam. Destas cidades é que vem as inovações que, por sua vez criam os futuros onde vamos viver. Sem ter cidades nem políticas para criá-las, é capaz do Brasil ter muito pouco futuro.

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