O Estado de S. Paulo

A maturidade vem com devaneios

Agora um septeto, banda Catavento, de Caxias do Sul, lança o terceiro disco, ‘Ansiedade na Cidade’, na sexta, 3

- Pedro Antunes

De Caxias do Sul, vinha uma insanidade sonora chamada Catavento. Pipocavam bandas com um ou os dois pés na psicodelia nacional e gringa – liderada por grupos como o australian­o Tame Impala. A Catavento trazia suas pirações estéticas e sonoras, mas não se prendia a elas. Porque a psicodelia, em estado puro, tem as amarras frouxas para a experiment­ação, mas, por conta da experiênci­a sensorial que seu tipo de música propõe, também aprisiona os artistas na vagareza das batidas por minuto desacelera­das.

A Catavento mandava as convenções às favas. O primeiro disco, de 2014, chamado Lost Youth Against the Rush, era tão pancada que parecia ser um álbum perdido de punk furioso nascido em uma cidade mais ensolarada do que aquela Nova York de meados dos anos 1970.

No retorno ao estúdio, para o álbum Chá, de 2016, o grupo tomou consciênci­a da própria musicalida­de. Fica claro como músicas como City’s Angels já abriam a cabeça do grupo, então um sexteto, para a criação de espaço dentro das suas canções. Começa ali a brasilidad­e nas canções deles.

A maturidade de quem não tem mais seus 20 e poucos anos de idade, somada à vivência de quatro anos na estrada e à experiênci­a de ter um selo próprio, o Honey Bomb Records, moldam as cabeças dos agora sete integrante­s do Catavento. E se escancara em Ansiedade na Cidade, um disco realizado com o auxílio do edital Natura Musical, a ser lançado nas plataforma­s digitais nesta sexta-feira, 3.

Sem a necessidad­e de encaixotar suas referência­s todas de uma vez só – o que fazia sentido pela euforia da juventude dos rapazes e ainda é bom voltar a ela, vez ou outra –, a banda escancara que pode soar tropical, viajante e classuda, com a adição de linhas de teclas e saxofone. “Com o tempo, tivemos consciênci­a de que começamos a ficar mais angustiado­s com o que acontece ao nosso redor”, explica Leonardo Sandi, um dos vocalista e compositor­es da banda, “mas, ao mesmo tempo, temos a ideia de encarar tudo isso em paz, com calma”.

O resultado sonoro, em Ansiedade na Cidade, segue por essa linha. As músicas habitam um yinyang muito particular da Catavento, no qual caos e calmaria, juventude e maturidade, fúria e paz coexistem em um ecossistem­a saudável. Sensações opostas, sim, mas que na mão do septeto, fazem sentido muito próprio.

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RODOLFO CEMIN Éramos seis. Banda assume nova formação em álbum

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