O Estado de S. Paulo

Encontro com o leitor

Uma das editoras mais pop do País, Intrínseca faz 15 anos, acumula best-sellers e lança clube de assinatura de livro

- Maria Fernanda Rodrigues

Jorge Oakim tinha 28 anos e uma breve carreira no mercado financeiro, como analista de empresa, quando se preparava para fazer um MBA no exterior. No meio disso, havia um interesse dele em acompanhar o mercado editorial e uma vontade de ‘quem sabe um dia’ abrir uma editora de não ficção. Era um bom leitor do gênero. Os amigos tentaram tirar a ideia da cabeça do jovem economista, que teria um futuro mais promissor se ficasse com os números, e não com os livros, neste país de baixos índices de leitura.

Oakim, que costumava ouvir do pai, um engenheiro que gostava de livros, ‘para de ler, vai pegar sol’, desistiu do MBA. Foi para a Feira de Frankfurt e comprou os direitos de um livro que estava começando a fazer barulho na França. E foi com Hell – Paris 75016, de Lolita Pille, sobre uma geração de patricinha­s parisiense­s, que a Intrínseca estreou em dezembro de 2003 e viu seu nome estampado nas listas de mais vendidos – fato corriqueir­o nesses 15 anos da editora que ocupa hoje o terceiro lugar em volume de venda no ranking das editoras brasileira­s – atrás do Grupo Companhia das Letras, a segunda, e da Sextante, a líder. A Sextante, aliás, é sócia da Intrínseca. E de todas, a Intrínseca é a mais enxuta, com cerca de 90 lançamento­s por ano.

Hell vendeu 20 mil cópias ao longo da história. Quase nada perto dos sucessos que viriam depois. Cinquenta Tons de Cinza, de E L James, o maior best-seller da casa e o livro que abriu caminho para uma onda de romances soft porn, como ficaram conhecidos, vendeu nada menos que 3 milhões de exemplares desde 2011. Era o primeiro de uma trilogia que se desdobrou em outra série erótica. Somando tudo, E L James fica, também, com o posto de autora mais vendida da Intrínseca, com 7 milhões de exemplares comerciali­zados.

Uma das coisas que Jorge Oakim aprendeu nesses 15 anos é que “o preconceit­o mata o editor”. Foi sua scout, uma espécie de olheira, que falou para ele prestar atenção nessa história – “que ela não leria porque não era seu estilo, mas que tinha potencial”. Houve um leilão acirrado no Brasil. “À medida que o tempo passava eu ficava mais certo do potencial da obra. Tivemos a oportunida­de de fazer uma ‘best offer’ e ela foi muito mais alta que a oferta antiga. Uma coisa totalmente fora do padrão”, conta. Ele pagou US$ 750 mil. “Todo o investimen­to foi pago em 15 dias de livro nas livrarias”, diz.

Houve outros sucessos antes desse, muitos. A Menina Que Roubava Livros, de Markus Zusak, foi um divisor de águas. Crepúsculo também foi um tiro certeiro. Quem acreditari­a que uma história de amor de vampiros se tornaria uma saga best-seller? Stephenie Meyer, a autora, é a segunda mais vendida da Intrínseca, com 6,6 milhões de exemplares no total. Houve quem dissesse que uma história protagoniz­ada por adolescent­es com câncer não daria em nada. E A Culpa É das Estrelas, de John Green, virou o fenômeno que virou – vendendo 1,8 milhão de cópias aqui e se tornado o segundo best-seller da casa.

“Eu quis fazer uma editora legal,

que publicasse livros diferentes e que falasse com um grande público, mas jamais imaginei que a gente chegaria aonde chegou”, conta o editor que comemora um cresciment­o de 25% em relação a 2017, coisa rara hoje neste mercado em crise, mas que amarga dois arrependim­entos. Um deles é a série Crônicas de Gelo e Fogo, que viraria Game of Thrones na TV. Os originais, indicados por um amigo, nunca saíram de cima de sua mesa. E Caçador de Pipas, que ele perdeu num leilão porque não quis dar US$ 1 mil a mais – no início dos anos 2000, o livro saiu por US$ 12 mil. “Nessa hora eu pensei em fechar. Era uma grande oportunida­de e eu não tive coragem de ir um pouco mais longe.”

Se isso o transformo­u no apostador agressivo que dá quase US$ 1 milhão por uma trilogia de uma autora desconheci­da? “Você toma uma porrada aqui, outra ali, a tendência é você ficar um pouco mais forte com isso. Acho que você fica mais consciente.”

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FOTOS INTRÍNSECA Oakim. O economista deixou o mercado financeiro para desbravar o mundo dos best-sellers
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Intrínseco­s. Livros inéditos

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