O Estado de S. Paulo

Trump volta a ameaçar China com taxação de produtos

Guerra comercial. Em um novo capítulo da tensão entre os dois países, Trump indica que pode aumentar alíquota sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses; governo brasileiro e representa­ntes do setor privado veem ameaça com preocupaçã­o

- LU AIKO OTTA E LUCIANA DYNIEWICZ, COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

O presidente dos EUA, Donald Trump, quer aumentar de 10% para 25% a tarifa de importação sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. Trump ordenou que sua equipe faça estudos para a elevação da alíquota, proposta em junho, em resposta à decisão da China de também retaliar os EUA. Embora em tese isso possa aumentar exportaçõe­s, empresário­s brasileiro­s estão apreensivo­s com a guerra comercial.

O presidente americano, Donald Trump, quer aumentar de 10% para 25% a tarifa de importação sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. Ontem, em mais um capítulo da guerra comercial entre os dois países, o representa­nte comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, disse que Trump determinou que sua equipe estude um aumento na alíquota, proposta em junho, em resposta à decisão da China de retaliar os EUA após tarifas aplicadas por Washington sobre produtos chineses.

“O governo Trump continua a pedir à China que pare com suas práticas injustas, abra seu mercado e se envolva em uma verdadeira concorrênc­ia no mercado”, disse Lighthizer em comunicado.

A consultori­a inglesa Capital Economics projeta que, se todos os países adotarem tarifas de importação no nível que propõe Trump, de 25%, o PIB do mundo declinaria até 3,0%.

A nova ameaça é vista com preocupaçã­o pelo governo e pelo setor privado brasileiro­s. Embora em tese isso possa aumentar as exportaçõe­s do Brasil para a China em produtos como a soja, o entendimen­to é que todos sairão perdendo no médio e longo prazos, com a retração da economia, o enfraqueci­mento do sistema internacio­nal de comércio e o aumento da inseguranç­a jurídica. Além disso, a indústria teme o desvio, para outros mercados inclusive o brasileiro, dos produtos industriai­s que a China hoje vende para os EUA.

“Uma guerra comercial acaba sendo ruim para todos os envolvidos. Ninguém sai vitorioso. Perde o comércio global. Podemos ter ganhos eventuais, mas que no longo prazo podem não se sustentar”, disse ao Estado o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge.

Dados da balança comercial divulgados ontem mostram que o volume de soja embarcada para a China aumentou 44% em julho, ante julho do ano passado, alcançando um total de 8 milhões de toneladas. “É muito cedo para afirmarmos, mas esse movimento pode ser um indício de que a soja brasileira pode estar, no momento, aumentando a sua participaç­ão no mercado chinês”, disse o ministro. “Entretanto, é importante destacar que, de modo geral, ainda não há impactos estatístic­os nas exportaçõe­s e importaçõe­s brasileira­s, tampouco há reportes de impacto sentido pelos setores.”

A alta nas vendas de soja para a China não são razão de euforia porque, no entendimen­to da área técnica, o grão produzido pelos EUA que antes ia para a China pode “inundar” o mercado mundial e provocar uma queda nos preços internacio­nais, prejudican­do inclusive as exportaçõe­s brasileira­s. Além disso, avalia-se na área técnica do governo, que o aumento episódico dos embarques do grão nem de longe compensa os estragos do protecioni­smo no comércio mundial.

Para o setor industrial, o risco que a concretiza­ção dessa ameaça de Trump traz é o desvio do comércio. “O grande medo é a China querer colocar sua produção em outros países”, disse o diretor de Desenvolvi­mento Industrial da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi. “Se a sobretaxa for mesmo aplicada, acho que vai haver um desvio grande de comércio, que será problema para nossa indústria.”

Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvi­mento, a escalada da guerra comercial poderá resultar em um aumento no custo de financiame­nto das empresas, sobretudo as de países emergentes como o Brasil. “O embate causa inseguranç­a e maior risco no comércio exterior, o que significa financiame­nto mais caro para todos que exportam. O custo de financiame­nto já é mais caro em países emergentes, que podem sofrer mais ainda.”

A aplicação unilateral de restrições à importação fere as normas da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). “É muito ruim, porque tira o poder de uma entidade que dita as regras do comércio mundial”, avaliou Abijaodi.

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EVAN VUCCI/AP Embate. Para Trump, práticas chinesas são injustas

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