O Estado de S. Paulo

‘Lava Jato’ argentina prende kirchneris­tas

‘Lava Jato argentina’. Justiça ordena detenção de 10 políticos e executivos, com base em anotações feitas em caderninho­s por um motorista que relata ter transporta­do pelo menos US$ 160 milhões em propina de 2005 a 2015; casa do casal Kirchner seria um des

- BUENOS AIRES

Pelo menos dez ex-funcionári­os de administra­ções kirchneris­tas e grandes empresário­s foram presos por corrupção em obras públicas, num processo apelidado no país de “Lava Jato argentina”. O depoimento principal na investigaç­ão é o de um taxista que afirmou à Justiça ter transporta­do US$ 160 milhões em propina. Ele cita envios à casa de Néstor e Cristina Kirchner. A senadora foi chamada a depor.

A Justiça da Argentina deteve ontem ao menos dez ex-funcionári­os kirchneris­tas e grandes empresário­s por corrupção em obras públicas, em uma operação apelidada de “Lava Jato argentina” no país vizinho. O depoimento principal na investigaç­ão é o de um motorista que anotou ao longo de anos em caderninho­s o transporte de pelo menos US$ 160 milhões em propina. Ele cita envios à casa de Néstor e Cristina Kirchner, senadora que foi chamada a depor.

O processo relaciona muitas das empresas mais importante­s da Argentina que, segundo a apuração, durante anos entregaram milhões de dólares em dinheiro a Roberto Baratta, exsubsecre­tário de Coordenaçã­o e Gestão do Ministério de Planejamen­to. O dinheiro de propina arrecadado terminaria na casa particular do casal Kirchner, na Quinta de Olivos, ou no escritório da chefia de gabinete.

Vários dos funcionári­os mais próximos do ex-presidente Néstor (2003-2007), morto em 2010, e do ministro de Planejamen­to do período kichnerist­a, Julio de Vido, são acusados de formar uma associação ilícita que, de 2005 e 2015, se dedicou a obter propinas de empresas terceiriza­das de obras públicas.

Cristina, que governou a Argentina de 2007 a 2015 e exerce o cargo de senadora, foi convocada pelo juiz federal Claudio Bonadío para prestar declaraçõe­s no dia 13, mas não se sabe se na condição de testemunha ou indiciada. Ela não fez declaraçõe­s sobre essa nova acusação.

Também deverão ser ouvidos o ex-juiz Norberto Oyarbide, que manteve reuniões com pessoas envolvidas no esquema de propinas, segundo anotações feitas por dez anos pelo motorista Oscar Centeno, exfuncioná­rio do Ministério de Planejamen­to. Centeno trabalhou como motorista de Baratta, mão direita de De Vido. De acordo com o jornal Clarín, a Justiça propôs ontem a ele participar de uma delação premiada, para obter vantagens no cumpriment­o de sua pena, caso haja condenação.

A investigaç­ão começou quando cadernos nos quais Centeno anotou vários dados sobre o esquema de propina foram entregues anonimamen­te ao jornal La Nación. Três jornalista­s iniciaram a apuração, sobre a qual a Justiça avançou desde abril, checando as milhares de anotações feitas pelo ex-motorista.

Cadernos. Nos oito cadernos cujas cópias foram entregues pelo jornal ao promotor Carlos Stornelli, há datas, valores nomes

e endereços dos envolvidos no esquema.

Segundo as anotações de Centeno, o pagamento em dinheiro dos subornos seguia para a residência presidenci­al e para o apartament­o onde a senadora Cristina Kirchner vive quando está em Buenos Aires, no bairro Recoleta.

Após a morte de Kirchner, Centeno interrompe­u as anotações, que foram retomadas em 2013. De acordo com a apuração, o método foi então alterado e começaram a ser usados veículos da chefia de gabinete para o transporte de propinas.

Segundo cálculos da promotoria, somente pelo Toyota Corolla conduzido por Centeno passaram US$ 160 milhões, apesar de os investigad­ores acreditare­m que o valor transporta­do poderia ter sido 50% maior, se forem levadas em consideraç­ões anotações sem um valor concreto.

Não é a primeira vez que Cristina é chamada a depor, pois é investigad­a por outros casos de suposta corrupção. A senadora tem foro privilegia­do e teria de ser removida do cargo no Congresso para ser detida.

A ex-presidente argumenta que Bonadío é um juiz parcial e responde aos interesses do governo do presidente Mauricio Macri. O juiz pediu em 2017 a remoção do foro da senadora com o objetivo de prendê-la no contexto de outra investigaç­ão, mas o pedido está até hoje em avaliação pelos legislador­es. Cristina negou em reiteradas ocasiões as acusações contra ela.

Além de Centeno e Baratta, foram detidos Rafael Llorens, ex-secretário de Coordenaçã­o e Controle de Planejamen­to; Walter Fagyas, ex-diretor da Energia Argentina SA (Enarsa). Entre os empresário­s, já foram presos Gerardo Ferreyra e Luis Neyra, da Electroing­eniería, e Javier Sánchez Caballero, da Iecsa, companhias que ganharam licitações durante a gestão de De Vido.

 ?? DIARIODECU­YO.COM.AR ?? Detenção. Roberto Baratta, ex-braço direito do ministro de Planejamen­to da era kirchneris­ta, é suspeito de ter recebido as propinas
DIARIODECU­YO.COM.AR Detenção. Roberto Baratta, ex-braço direito do ministro de Planejamen­to da era kirchneris­ta, é suspeito de ter recebido as propinas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil