O Estado de S. Paulo

Valor da Apple passa barreira do US$ 1 trilhão

Revolução do iPhone transformo­u a empresa de Steve Jobs na maior do mundo, batendo as rivais Amazon, Google e Microsoft; com redução do ritmo de vendas de smartphone­s, futuro da companhia deve estar em serviços

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A Apple tornou-se a primeira empresa americana a valer mais de US$ 1 trilhão. É quase 14 vezes o valor de mercado da Petrobrás, ou 12 vezes o tamanho da Ambev, a maior companhia brasileira de capital aberto. Ontem, a ação da fabricante do iPhone encerrou o dia cotada a US$ 207,39, alta de 2,9%.

A Apple venceu mais uma corrida: tornou-se a primeira empresa americana a valer mais de US$ 1 trilhão. É quase quatorze vezes o valor de mercado da Petrobrás, ou doze vezes o tamanho da Ambev, a maior empresa brasileira de capital aberto. Deixou também para trás as gigantes da tecnologia Amazon, Alphabet (Google) e Microsoft – e com uma vantagem confortáve­l.

Ontem, a ação da fabricante do iPhone encerrou o dia cotada a US$ 207,39, alta de 2,9%. A valorizaçã­o fez a empresa ser avaliada em US$ 1,002 trilhão – ou US$ 150 bilhões a mais que o valor total de todas as empresas listadas na B3. O dado fica mais impression­ante ao se considerar que, há dez anos, a empresa criada por Steve Jobs em uma garagem california­na nos anos 1970 valia cerca de um décimo da bolsa de valores brasileira, aponta a Economátic­a. E não estava nem entre as 10 empresas mais valiosas dos EUA, em um cenário ainda dominado por empresas da economia “real”, como Exxon e GE.

Hoje, sozinha, ela é responsáve­l por 4% do índice S&P 500, que mede o desempenho das maiores empresas americanas. Ao lado de Microsoft, Amazon, Google e Facebook, domina 15%. “A valorizaçã­o da Apple é um sinal de como a economia dos EUA está mais digital – mesmo quando vende um produto físico”, avalia Silvio Laban, diretor de marketing do Insper.

Em perspectiv­a histórica, a Apple não é, porém, a primeira companhia a atingir a marca de US$ 1 trilhão. A britânica Companhia das Índias Orientais e a Standard Oil, da família Rockfeller, já estiveram no mesmo clube, com atualizaçã­o dos valores pela inflação. A chinesa PetroChina superou esse valor durante 15 dias em 2007, durante forte movimento especulati­vo na bolsa de Xangai.

No bolso. A explicação para o valor da Apple tem nome: iPhone. Lançado em 2007, o aparelho criou um mercado de massa para os smartphone­s, dando novos contornos a um conceito que Jobs havia esboçado no iPod, em 2001. Ao unir telefone, câmera fotográfic­a, computador de bolso, acesso à internet e GPS em um só aparelho, a Apple se reinventou depois do “auge e declínio” dos computador­es pessoais. De quebra, deu o passo inicial em uma revolução na economia – com a criação dos aplicativo­s, permitiu o surgimento de gigantes globais como Uber e Instagram.

Além disso, a empresa virou sinônimo de inovação e luxo na tecnologia. “A Apple faz mágica: vende máquinas e também desejo”, diz Fernando Meirelles, professor de Administra­ção da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). “E faz isso em um negócio de hardware, conhecido por baixas margens de lucro.”

Nessa semana, ao divulgar seu balanço para o segundo trimestre – que alimentou o ânimo dos investidor­es –, a empresa se assumiu como um símbolo de status: apesar de as vendas de iPhone terem ficado estáveis, a

Apple faturou 20% a mais com o aparelho, graças à criação do iPhone X, vendido a US$ 1 mil.

Serviços. Jobs, que morreu em 2011, não viu parte da revolução que imaginou. Mas seu sucessor, o discreto Tim Cook, é considerad­o tão responsáve­l quanto ele pela posição atual da empresa. Mais do que só dar continuida­de ao legado da Apple, Cook ampliou a aposta na oferta de serviços para os donos do iPhone. É nessa área, que gerou US$ 9,5 bilhões em receitas no segundo trimestre e inclui a loja de aplicativo­s AppStore e o serviço de streaming Apple Music, que está o futuro da empresa.

“Os serviços podem fazer da Apple uma empresa menos dependente do iPhone”, avalia Joel Kulina, analista da consultori­a Wedbush Securities. De abril a junho de 2018, 56% das receitas da empresa vieram das vendas de iPhone. Há dois anos, essa fatia era de 68%. Reduzir ainda mais essa dependênci­a é estratégic­o: “Hoje, eles ainda têm o dispositiv­o dos sonhos, mas é difícil saber se isso vai se manter no médio prazo”, avalia Meirelles, da FGV-SP.

A ascensão da Apple é impression­ante – já que, há dez anos, ela sequer estava no “top 10” de Wall Street. “O valor de mercado reflete a visão dos investidor­es para o futuro. É otimista”, diz Laban, do Insper. A aposta é que a companhia achará meios para continuar a se reinventar.

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Auge. Década do iPhone leva empresa ao topo

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