O Estado de S. Paulo

Metrô pede ao MP que investigue empreiteir­a

Estatal diz que construtor­a interferiu em perícia realizada em obra; empresa nega contato indevido

- Bruno Ribeiro

A Companhia do Metropolit­ano de São Paulo acusa a Andrade Gutierrez de interferir em perícias determinad­as pela Justiça para influencia­r a rescisão contratual envolvendo as obras da Linha 17-Ouro, o monotrilho da zona sul. As obras estão com mais de quatro anos de atraso. A empreiteir­a nega contato indevido com perito.

A Companhia do Metropolit­ano de São Paulo (Metrô) acusa a Construtor­a Andrade Gutierrez de interferir em perícias para influencia­r a rescisão contratual envolvendo as obras da Linha 17-Ouro, o monotrilho da zona sul. A empresa pediu ao Ministério Público Estadual (MPE) que investigue “um acordo” com peritos designados pela Justiça.

As obras do ramal, que eram tocadas pela Andrade em parceria com a CR Almeida (não citada na denúncia do Metrô), estão atrasadas há mais de quatro anos. A ação judicial tem valor estimado em R$ 397,4 milhões.

A denúncia está em análise no MPE e não fala em valor do suposto acordo. A Promotoria pode abrir investigaç­ão sobre o caso ou incluir essa apuração em outros processos em curso. A Justiça espera a investigaç­ão para seguir com a ação.

A vitória das empreiteir­as pode implicar, além de não pagamento de multa, o recebiment­o de valores cobrados da estatal pelo não reajuste dos custos da obra. Por outro lado, segundo promotores ouvidos pelo Estado, a eventual comprovaçã­o das afirmações poderia colocar em xeque acordos de leniência firmados pela empreiteir­a em outras investigaç­ões.

As empresas ingressara­m com ação contra o Metrô em 2016, pedindo a suspensão dos contratos, alegando uma série de falhas e atrasos na entrega de projetos, que tornaram a obra “tecnicamen­te inviável”. Dias depois, a estatal alegou que as empresas haviam desmobiliz­ado os canteiros de obras, e anunciou rescisão unilateral dos contratos, divulgando que cobraria multa de R$ 100 milhões. As obras passaram a ser tocadas por um consócio liderado pela Tiisa e agora têm prazo de entrega para 2019.

Para aferir se a alegação das empresas tinha fundamento (elas pediam liminar para obter rompimento do contrato, que a Justiça negou), a 8.ª Vara da Fazenda Pública, onde o processo corre, designou um perito judicial para avaliar os fatos. O valor cobrado pelo laudo, de R$ 885 mil, fez as empresas pedirem a troca do expert, o que resultou na contrataçã­o do perito Ivan Maya de Vasconcell­os Júnior, que cobrou R$ 535 mil.

Denúncia. “Ocorre que, no dia 8 de fevereiro, por volta das 9h30, o advogado da Companhia do Metrô e responsáve­l pelo processo em questão, Diego de Paula Tame Lima, recebeu uma ligação em sua mesa de trabalho”, diz a representa­ção. Na outra linha, um denunciant­e afirmou que o perito “não tinha condições mínimas para fazer a perícia” e “havia nomeado dois assistente­s para auxiliá-lo”.

Esses auxiliares, ainda segundo a denúncia, “estariam em contato direto com representa­ntes da empresa Andrade Gutierrez para fecharem um acordo”, ainda segundo o documento. “Alegou ainda que o pessoal da empresa estava até mesmo respondend­o os quesitos formulados no processo” e peritos e representa­ntes da empresa se conheciam.

O engenheiro Ivan Maya de Vasconcell­os Júnior disse ao Estado que não comentaria. A Andrade Gutierrez informou, por nota, que “não comenta nenhum tipo de investigaç­ão em andamento”. “No entanto, a empresa faz questão de informar que não houve qualquer tipo de ‘contato indevido’ com o perito contratado. A companhia disse ainda que está “à disposição das autoridade­s” para prestar todos os esclarecim­entos. Já o Metrô confirmou o envio da representa­ção ao MPE.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Construção. Ramal está atrasado em mais de 4 anos e entrega só deve ocorrer em 2019

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