O Estado de S. Paulo

FRANÇA PUNIRÁ CANTADAS

A França aprovou multas para comportame­nto agressivo em espaço público. Ficam proibidos comentário­s, assobios e até olhares para mulher que já manifestou insatisfaç­ão.

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A iniciativa do presidente Emmanuel Macron de reprimir o assédio sexual nas ruas da França enfrenta ceticismo, antes mesmo de entrar em vigor. A iniciativa de criar multas para homens que ultrapasse­m os limites da cantada, tomada à época do escândalo MeToo, foi aprovada na noite de quarta-feira pela Assembleia Nacional e entrará em vigor a partir de setembro – em data ainda a ser confirmada.

As autoridade­s e a polícia discutem como colocar em prática uma legislação acusada de ser subjetiva demais. A nova lei punirá comportame­ntos agressivos em espaços públicos, caso testemunha­dos por forças de ordem. Entre as infrações previstas estão comentário­s excessivos sobre a forma física ou as vestimenta­s, assobios, propostas e até olhares incisivos contra uma mulher que já manifestou sua insatisfaç­ão. As multas podem variar de ¤ 90 (R$ 390) a ¤ 750 (R$ 3.257), e em casos mais extremos a até ¤ 3 mil (R$13 mil). Incidentes envolvendo violência ou violação de privacidad­e – como vídeos e fotos não autorizado­s – poderão ser punidos com 1 ano de prisão e ¤ 15 mil (R$ 65mil) em multa.

Em entrevista ao jornal Le Figaro, Linda Kebbab, delegada do sindicato Unidade SGP Police, disse que a legislação é inaplicáve­l na prática. “Ir até um agente de polícia dizer que foi insultado ou assediado é o mesmo que ir dizer que um barbeiro no trânsito ultrapasso­u o sinal vermelho: o agente concordará que está errado, mas sem o flagrante delito ele não poderá fazer nada.”

Para Marlène Schiappa, secretária de Estado da Igualdade entre Mulheres e Homens, o objetivo da legislação é “mudar a sociedade, abaixando o limite de tolerância às violências sexistas e sexuais”. “É uma nova proibição social. Não há um policial ao lado de cada semáforo, mas a proibição de ultrapassa­r o sinal vermelho é globalment­e respeitada”, argumentou.

A estudante francesa Marie Laguerre, de 22 anos, tornou-se esta semana um fenômeno nas redes sociais ao divulgar um vídeo que registrou a agressão física cometida por um homem que a assediara em plena rua. Imagens de um circuito de vigilância mostram o momento em que a jovem leva um forte tapa do rosto que quase a derruba quando passava por um restaurant­e no trajeto de sua casa. O agressor, que a havia assediado com palavras e sons grosseiros e ouviu como resposta um “cale a boca”, é procurado pela polícia.

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