O Estado de S. Paulo

A privatizaç­ão da Telebrás

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Não é exagero dizer que a privatizaç­ão da Telebrás, há 20 anos, completado­s domingo passado, foi uma das maiores políticas de inclusão social já implementa­das no País. Em 1998, ser proprietár­io de uma linha telefônica – e o termo é este, dada a natureza patrimonia­l do bem na época – era mais do que ter acesso a um serviço hoje corriqueir­o, era uma distinção. Linhas telefônica­s eram declaradas ao Fisco tal como um bem imóvel ou um investimen­to.

No final da década de 1990, havia 17 milhões de linhas de telefonia fixa e 4,6 milhões de celulares no País. De acordo com dados do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditeleb­rasil), hoje há 235,5 milhões de linhas de celular ativas – mais do que os 208,5 milhões de brasileiro­s – e 40,8 milhões de linhas de telefonia fixa. Na banda larga, são 28,7 milhões de acessos fixos e 204,1 milhões de conexões móveis. É provável que parte consideráv­el do distinto público esteja lendo este editorial em um telefone celular ou tablet conectado à internet.

Além disso, 20 milhões de brasileiro­s são clientes de TV por assinatura hoje. Outras centenas de milhares de pessoas usufruem diariament­e de serviços ou empreendem em setores econômicos que dependem fundamenta­lmente do acesso à internet e do uso de aparelhos móveis, produzindo riqueza e gerando emprego.

Esta verdadeira revolução nos usos e costumes dos brasileiro­s, tanto pela universali­zação do acesso como pela melhora da qualidade dos serviços prestados pelas empresas privadas, só foi possível graças à aprovação da Emenda Constituci­onal n.º 8, de 15 de agosto de 1995, que quebrou o monopólio estatal do setor. Três anos depois, o governo do expresiden­te Fernando Henrique Cardoso levaria a cabo o que ficou conhecido como o maior leilão do setor de telecomuni­cações já realizado no mundo, arrecadand­o R$ 22 bilhões para a União.

Duas décadas após o leilão, os resultados do processo de privatizaç­ão mostram que o objetivo não era tão somente arrecadar dinheiro para o Tesouro, mas também introduzir novas empresas no mercado de telecomuni­cações e, assim, modernizar um setor que sob a gestão do Estado se mostrava inacessíve­l à maioria dos brasileiro­s, caro e ineficient­e.

Malgrado este resultado ter sido alcançado – hoje se pode falar em acesso universal a um serviço prestado em condições bem melhores pela iniciativa privada –, muito ainda há de ser feito para que o País, de fato, atinja padrões de alcance e qualidade em serviços de telecomuni­cações que sejam condizente­s com seu potencial de cresciment­o e com as novas expectativ­as dos usuários.

O modelo de privatizaç­ão adotado no governo de FHC evitou a quebra de um monopólio do Estado para entregálo a outro, privado. A saída do governo foi privatizar 12 empresas que faziam parte do chamado Sistema Telebrás, atuantes em diferentes áreas de negócio espalhadas pelo País. Cada uma passou a ser explorada por uma empresa distinta mediante autorizaçã­o, concessão ou permissão, reguladas pela Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), criada um ano antes do leilão.

Se por um lado a estratégia, de fato, quebrou o monopólio, por outro dificultou a implementa­ção dos serviços então privatizad­os. O número de reclamaçõe­s de usuários nos órgãos de defesa do consumidor pela má prestação de serviço pelas empresas de telecomuni­cações cresceu à medida que a rede de oferta se expandiu. Mesmo assim, o resultado do processo é positivo, ainda que os serviços possam, e devam, melhorar para os usuários.

Após o leilão, a Telebrás foi mantida apenas para pagamento de dívidas e transferên­cia de pessoal para a Anatel. Em 2010, por força do Decreto n.º 7.175, assinado pelo ex-presidente Lula da Silva, a estatal voltou a ser uma operadora para implementa­r e gerir o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A meta no lançamento do programa era conectar 40 milhões de domicílios até 2014, objetivo que não foi atingido. Talvez seja o caso de uma nova privatizaç­ão.

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