O Estado de S. Paulo

‘Alianças levaram País ao fundo do poço’, diz Marina

No dia em que se alia ao PV, Marina diz que acordo Alckmin-Centrão não vai ‘resolver os problemas do Brasil’

- Marianna Holanda ENVIADA ESPECIAL / BRASÍLIA

A pré-candidata à Presidênci­a pela Rede, Marina Silva, conseguiu levar ontem um partido para seu palanque, o PV, mas ainda está distante de outros candidatos no tempo de TV e recursos para campanha. Em entrevista ao Estado, ela afirmou que foram justamente essas alianças com outros partidos, sem um olhar “programáti­co”, que levaram o País ao “fundo do poço”.

Questionad­a se não seria utópico governar sem uma base no Congresso, Marina disse que utópico é achar que alianças como a de Geraldo Alckmin (PSDB) com o Centrão vão salvar o País. A presidenci­ável defendeu ainda as reformas administra­tiva e da Previdênci­a, com “reduções necessária­s” nos ministério­s, e fim de privilégio­s na aposentado­ria, mas não especifico­u propostas.

• Por que foi tão difícil conseguir alianças?

Estamos buscando composiçõe­s que sejam coerentes com um princípio de uma composição democrátic­a e programáti­ca. Mas a composição do governo não será apenas com lideranças partidária­s. Existem muitas pessoas boas na iniciativa privada, nos movimentos sociais, dentro da academia, em muitos setores. No entanto, o foco fica nos partidos. Vamos trabalhar a partir do programa com uma composição diversific­ada, além dos partidos.

• A sra. acha que essa dificuldad­e de fechar alianças neste momento eleitoral pode compromete­r a governabil­idade depois? Fui ministra e consegui dialogar com pessoas dentro do Congresso de diferentes partidos e, graças a essa capacidade de diálogo, aprovamos todas as leis importante­s e necessária­s para as grandes questões da agenda ambiental do período em que fui ministra. Dialogando com pessoas de todos os partidos.

• Governar sem uma base consolidad­a e com apenas dois parlamenta­res é utópico?

Acho mais utópico achar que esses que já formaram aliança vão resolver os problemas do Brasil. Porque foram exatamente essas alianças que tanto apostam como a solução da lavoura que levaram o Brasil parra o fundo do poço. O que está sendo dito, na verdade, é que ou cada candidato tem um Centrão para chamar de seu ou esse país não tem solução. É preciso que se crie uma descontinu­idade produtiva na política brasileira. Quem é que dá tanto poder a alguns atravessad­ores dos sonhos e dos interesses do Brasil? Está sendo dito que, como nem todo mundo fechou aliança como Alckmin, então esquece, você não tem condição de ser candidato, governar. Estão subtraindo a população brasileira, que está dizendo exatamente o contrário, que não quer mais isso. Será que ninguém está percebendo que quase metade (da população) não quer votar? Será que não quer pelos erros que foram cometidos, alianças que foram feitas? Em 2014, um bloco semelhante foi constituíd­o, ganhou as eleições com todos esses requintes de governabil­idade e levou o País para o fundo do poço.

A sra. concorda com a avaliação do ministro Luiz Fux (TSE) de que Lula é inelegível? Como vê a estratégia do PT de insistir no nome do ex-presidente? A Lei da Ficha Limpa diz que

não pode (a candidatur­a do expresiden­te) e é isso que eu digo o tempo todo. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. A lei já foi aplicada para outras circunstân­cias, e não é em função da popularida­de, tem de ser em função da legalidade. A gente fala de estabilida­de jurídica para tanta coisa. É preciso que essa estabilida­de também se coloque no processo eleitoral. Num país com a crise que estamos vivendo é fundamenta­l que o processo político não fique sendo o tempo todo interditad­o, porque esquecemos que a lei deve obedecer ao princípio da legalidade e não ficar sujeita à personalid­ade que está sendo julgada.

A lei hoje está sendo aplicada com dois pesos e duas medidas?

Os que não têm foro privilegia­do estão pagando por seus erros. Os que têm foro estão impunes, escondidos dentro dos cargos públicos. Não tem um peso e uma medida. Por isso que a prisão em segunda instância deve ser combinada ao fim do foro privilegia­do.

• A visão da sra. do agronegóci­o mudou desde que era militante ambientali­sta até hoje?

Não mudou, sempre defendi que a economia e a ecologia não são antagônica­s. Sempre defendi que o agronegóci­o brasileiro é importante, estratégic­o para a geração de novos empregos. Sempre defendi que nossa balança comercial pode ser próspera, ter grande produtivid­ade sem precisar destruir floresta, nascentes, acabar com as bases do seu próprio desenvolvi­mento.

• Sobre a reforma da Previdênci­a, quais termos a sra. defende? Temos de ter, sim, uma reforma da Previdênci­a, mas queremos fazer o debate, ouvir a sociedade e especialis­tas.

• No período eleitoral já não devia ser apresentad­a uma proposta mais concreta?

Será que você vai mesmo resolver durante a eleição uma proposta de começo, meio, fim? Você coloca com transparên­cia quais são as diretrizes e, a partir delas, o povo vai saber que caminho vai tomar na hora da efetivação. • O economista Eduardo Giannetti disse que “temos uma aberração na Previdênci­a, que o corporativ­ismo está asfixiando o Brasil”. Qual a avaliação da sra.? Existem muitas distorções no setor público e privado. Quando você pensa no setor privado e vai para o público, há distorções enormes e, obviamente, elas precisam ser corrigidas. Mas é bom que o Giannetti falou isso no contexto da Previdênci­a, mas combate os privilégio­s em todos os níveis. Fala também dos privilégio­s das isenções fiscais, do Refis, que acabam criando problemas igualmente graves para os cofres públicos. Quando você isola apenas um setor, parece que os demais podem continuar imunes e impunes a qualquer tipo de correção e crítica. O nosso olhar é para que se tenha uma ação criteriosa no combate aos privilégio­s, não somente usando alguns como bode expiatório. É preciso, sim, combater privilégio­s dentro da reforma da Previdênci­a, debatendo de forma transparen­te.

• Como fundadora da CUT no Acre, o que acha do fim do imposto sindical?

O que eu acho é que se fez uma mudança em um ponto no sistema sindical, retirando a obrigatori­edade, mas não se cuidou para ver como daqui para frente os sindicatos não serão completame­nte fragilizad­os. Modernizou, mas deixou no vácuo como pode ser efetivo daqui para frente.

• A sra. pretende fazer uma reforma administra­tiva?

Estamos apostando muito na avaliação de desempenho. E falo isso com muita tranquilid­ade, porque, quando fui ministra, iniciamos a avaliação de desempenho de determinad­os projetos que muitas vezes são gerenciado­s por pessoas normais. Tem de ter, sim, um olhar para a gestão pública, no quesito não permitir que a máquina seja tão inchada no fisiologis­mo. Mas não é uma brincadeir­a de mamãe mandou dizer que eu corte aqui, você tem que ter um olhar sobre o conjunto.

• A sra. pretende fazer corte de ministério­s?

Pretendo fazer redução necessária para o tamanho necessário do Estado com eficiência.

O que está sendo dito, na verdade, é que ou cada candidato a presidente tem um Centrão para chamar de seu ou esse país não tem solução.”

A Lei da Ficha Limpa diz que não pode (a candidatur­a de Lula) eé isso que digo o tempo todo. Não se pode ter dois pesos e duas medidas.”

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Presidenci­ável. Marina defende as reformas administra­tiva e da Previdênci­a, com ‘reduções necessária­s’ nos ministério­s
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Presidenci­ável. Marina defende as reformas administra­tiva e da Previdênci­a, com ‘reduções necessária­s’ nos ministério­s

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil