O Estado de S. Paulo

Em meio a protestos, governista vence no 1º turno no Zimbábue

Oposição, que reivindico­u vitória no início da semana, diz que não aceita resultado

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A Comissão Eleitoral do Zimbábue declarou ontem que o presidente interino Emmerson Mnangagwa venceu a eleição presidenci­al, a primeira sem o ex-ditador Robert Mugabe, deposto no ano passado. Mnangagwa, um ex-assessor de Mugabe, obteve 50,8% dos votos (2,46 milhões) e o seu adversário, o líder opositor Nelson Chamisa, 44,3% (2,15 milhões).

Durante a divulgação dos resultados, a polícia removeu representa­ntes da oposição do auditório após eles declarem que não aceitariam a vitória do presidente. Antes do anúncio, tanto Mnangagwa quanto Chamisa se haviam declarado vitoriosos.

O ministro da Justiça do Zimbábue, Ziyambi Ziyambi, logo após o anúncio dos resultados, confirmou a vitória de Mnangagwa. Segundo o ministro, o presidente tem feito um “trabalho fantástico” desde que assumiu o poder, sob pressão dos militares e em meio a uma disputa de poder entre os partidos no país. “Ele deu liberdade a todos nós”, disse.

O processo de apuração foi marcado pelo conflito de opositores e forças de segurança nas ruas da capital, Harare. Em meio à forte presença policial, a atmosfera tensa se transformo­u em violência na quarta-feira e ao menos seis pessoas foram mortas.

Armados com varas de metal e pedras, grupos percorrera­m o centro da capital destruindo de semáforos a fachadas de bancos e lojas. A polícia disparou tiros de advertênci­a, canhões de água e gás lacrimogên­eo na tentativa de dispersar as multidões. Relatos da mídia internacio­nal apontavam que o Exército usou munição real.

O conflito teria começado quando partidário­s do opositor Movimento pela Mudança Democrátic­a (MDC) protestava­m contra a demora na divulgação dos resultados da votação para presidente. Associaçõe­s de direitos humanos locais afirmaram que caminhões do Exército patrulhava­m as ruas e militares repreendia­m pedestres, pedindo que voltassem para suas casas. George Charamba, portavoz do governo, disse que a população deveria ir às ruas e levar a vida normalment­e, ignorando as supostas ordens do Exército.

O partido governista União Nacional Africana do Zimbabue – Frente Patriótica (ZanuPF) anunciou ter vencido as legislativ­as e conquistad­o a maioria dos assentos no Parlamento. O Zanu-PF ficará com 109 cadeiras enquanto o MDC terá 41, do total de 210.

Chamisa havia reivindica­do na terça-feira a vitória na disputa presidenci­al. A oposição e manifestan­tes afirmaram que a rapidez na divulgação dos resultados para o Legislativ­o contrastav­a com a demora na apuração dos resultados das presidenci­ais e seria mais um sinal da tentativa do partido do governo de fraudar a eleição.

Logo depois da eleição, Chamisa reclamou que muitos de seus partidário­s foram impedidos de votar. Apesar de a corrida presidenci­al ter envolvido 23 candidatos, a disputa principal foi entre Chamisa, um advogado e pastor de 40 anos, e o governista Mnangagwa, de 75 anos, que foi assessor de Mugabe por quase 30 anos e é o principal articulado­r do golpe militar que forçou o ex-ditador a renunciar, em novembro.

Mnangagwa havia pedido mais cedo uma solução pacífica para as divergênci­as com a oposição. “É mais importante do que nunca que demonstrem­os união e nos comprometa­mos a solucionar nossas diferenças pacificame­nte e dentro da lei”, afirmou Mnangagwa.

Estados Unidos e União Europeia têm sido claros ao dizer que uma eleição confiável é a principal condição para que sejam retiradas as sanções contra vários funcionári­os da era Mugabe e seus parentes, assim como para apoiar o Zimbábue no Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). Tais esperanças podem ser ameaçadas caso os defensores do MDC sintam que a votação foi comprometi­da por abusos e irregulari­dades, como frequentem­ente acontecia no governo Mugabe.

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PHILIMON BULAWAYO/REUTERS-30/7/2018 Vitória. Emmerson Mnangagwa obteve 50,8% dos votos

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