O Estado de S. Paulo

Com a corda no pescoço

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Pesquisas recentes mostram o alto endividame­nto do consumidor e sua grande incapacida­de de assumir novos financiame­ntos. Nesta quinta-feira, por exemplo, a CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostrou que, em julho, nada menos que 59,6% das famílias brasileira­s continuam endividada­s. Isso correspond­e a pouco menos de dois terços da população. Outros 23,7% se encontram com dívidas ou com contas em atraso e 9,4% avisam que não terão condições de pagar. Como está na tabela ao lado, são números que variaram pouco em 12 meses.

Consistent­es com essas informaçõe­s, os levantamen­tos da Serasa Experian divulgados dia 19 mostram que nada menos que 61,8 milhões de brasileiro­s (ou 42,66% da população adulta) estão na condição de inadimplen­tes. Estão em falta não só nas contas bancárias, mas, também, nas tarifas de telefone e luz, aluguel, mensalidad­es escolares, etc. E muita gente deixou de honrar compromiss­os com vários credores ao mesmo tempo.

Na medição da Serasa, o total de dívidas em atraso alcançou em junho deste ano a magnitude dos R$ 273,4 bilhões, ou R$ 4,4 mil por CPF. Só para dar uma ideia do que representa­m, estes R$ 273,4 bilhões correspond­em a cerca de 155% da arrecadaçã­o de impostos pelo governo federal em um mês. Ou a quase 4 vezes as importaçõe­s do Brasil em julho. Trata-se de dívidas documentad­as. Estão fora dessa conta aquelas dívidas informais, contraídas com parentes, amigos, conhecidos, colegas do trabalho, etc.

Boa pergunta é saber quando alguém fica inadimplen­te. Se perde a data do vencimento de um boleto ou da multa de trânsito, o consumidor já se torna um ficha-suja?

O critério de inadimplên­cia varia. Bancos e companhias telefônica­s só registram inadimplên­cias a partir de 90 dias do vencimento de uma conta não quitada. Quando o Banco Central divulga suas estatístic­as de inadimplên­cia na área do crédito bancário, trabalha com esse prazo. Outras instituiçõ­es têm outros procedimen­tos. A Serasa aceita registrar inadimplên­cia do consumidor até mesmo a partir de um dia de atraso. Esse prazo depende do credor. Em geral, antes de “mandar o título pro pau”, bancos e instituiçõ­es comerciais preferem chamar o devedor, negociar e fechar acordo com ele. É a prática do velho princípio de que não se pode perder irremediav­elmente um freguês.

Do ponto de vista macroeconô­mico, há pelo menos três consequênc­ias que sobrevêm a partir desse alto nível de endividame­nto e, mais ainda, desse alto nível de inadimplên­cia.

A primeira delas é a de que não adianta forçar a expansão do crédito, como insistem tantos empresário­s, quando o poder aquisitivo do consumidor não dá conta de seus compromiss­os.

A segunda consequênc­ia é de que, antes de tudo, é preciso cuidar do aumento da renda da população. Isso implica garantir cresciment­o econômico e aumento da ocupação – para não dizer aumento do emprego, esse animal em extinção.

E, terceira consequênc­ia, a inflação e os juros têm de cair para que as prestações da dívida possam ser mais facilmente negociadas e voltar a caber no orçamento do consumidor.

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