O Estado de S. Paulo

ANTT trabalha em nova tabela de frete mínimo

Indústria e agronegóci­o descartam tabelament­o, que consideram inconstitu­cional; STF só vai discutir o tema a partir do próximo dia 27

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Ponto de polêmica entre caminhonei­ros e empresas e com sua legalidade em discussão na Justiça, a tabela com valores mínimos do frete rodoviário caminha para ganhar uma nova versão. Termina hoje o prazo aberto pela Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) para receber propostas da sociedade sobre o assunto.

Atualmente, existe uma tabela de frete que, no entendimen­to do governo, está em vigor. Algumas entidades empresaria­is sustentam que não.

No entanto, ainda não há palavra final sobre isso. Todas as decisões da Justiça sobre o tabelament­o estão bloqueadas por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que só pretende retomar a discussão sobre o assunto no próximo dia 27, com a realização de uma audiência pública. Paralelame­nte, a ANTT trabalha nessa nova versão da tabela.

O tabelament­o dos fretes rodoviário­s foi uma das medidas do pacote que o governo negociou com os caminhonei­ros para pôr fim à paralisaçã­o da categoria que durou 11 dias, no fim de maio, e provocou uma crise de abastecime­nto no País.

“Há represamen­to e produtos que já deveriam ter sido despachado­s ainda estão armazenado­s”, disse a assessora técnica em Logística da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA), Elisângela Lopes. Radicalmen­te contrária ao tabelament­o, a entidade não deve apresentar nenhuma proposta à ANTT.

Igualmente contrária à tabela do frete, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) pretende encaminhar um documento detalhado à ANTT. “Vamos reforçar que o tabelament­o não interessa à indústria de soja”, informou o presidente da associação, André Nassar. Se, ainda assim, a opção do governo for pela fixação de preços, a indústria pede cautela para que ele não atrapalhe a competição.

Os preços mínimos, defende a entidade, devem ser calculados com base nos itens efetivamen­te desembolsa­dos na prestação do serviço. E, em vez de ser organizada em quilômetro­s por eixo, a tabela deve ser fixada com base no custo por tonelada, que é a referência usual no mercado.

“Não é só que a tabela é ruim para a economia e inconstitu­cional; ela é inaplicáve­l”, afirmou o gerente de Relacionam­ento com o Poder Executivo da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Pablo Cesário. Esse é o teor do documento enviado pela entidade à ANTT. Ele explica que, por exemplo, a tabela considera transporte em caminhões de três eixos, quando o usual são veículos de maior porte.

Tal como a Abiove, a CNI vai defender que, se for instituído, o preço mínimo deve deixar de fora itens como custo de capital e depreciaçã­o do caminhão, que não são diretament­e atrelados ao serviço. “Tem de ser o mínimo mesmo, do contrário é uma tabela de preços”, explicou.

Relatório. Pelo rito da ANTT, as sugestões recebidas até hoje serão consolidad­as num relatório, que posteriorm­ente será analisado pela diretoria da agência reguladora, antes da adoção de uma eventual nova norma. É um processo que normalment­e demora alguns meses. Mas a área técnica informa que essas sugestões também servirão de subsídio à discussão que ocorre no STF.

Relator de três ações de inconstitu­cionalidad­e movidas contra o tabelament­o, o ministro Luiz Fux quer fazer uma discussão ampla com especialis­tas no dia 27 antes de tomar uma decisão. É bem possível que a decisão da Justiça saia antes da conclusão dos trabalhos da ANTT em torno da nova tabela de frete.

O prazo dado por Fux, porém, é considerad­o longo demais pelas empresas do agronegóci­o, que dizem enfrentar um nível inédito de inseguranç­a jurídica e paralisia nos negócios. Há ainda impacto sobre os preços. O Ipea estima que os alimentos aumentarão 3,93% este ano, respondend­o por 0,62 ponto porcentual na inflação do ano, estimada em 4,20%.

Numa tentativa de acelerar a discussão na Justiça, a Abiove e a Associação Nacional dos Exportador­es de Cereais (Anec) ingressara­m no STF com um mandado de segurança com pedido de liminar, para que ao menos as instâncias inferiores da Justiça sejam liberadas para tomar decisões sobre o tabelament­o. Protocolad­o durante o recesso parlamenta­r, esse pedido está com o ministro Alexandre de Moraes, que poderá ou não tomar uma decisão antes do dia 27.

Além de discutir a constituci­onalidade do tabelament­o, as empresas usuárias de transporte questionam se a atual tabela do frete está mesmo em vigor ou se foi revogada acidentalm­ente pelo governo. Outro ponto de discussão é que a tabela foi editada sem ser previament­e discutida com a sociedade.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO - 1/8/2018 Tabelas. Decisões estão bloqueadas pelo ministro Fux

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