O Estado de S. Paulo

Indústria encolhe 2,5% no 2º trimestre

Em junho, produção industrial teve alta recorde de 13,1% na comparação com maio, mas não foi suficiente para encerrar o trimestre no azul

- Daniela Amorim / RIO Maria Regina Silva / SÃO PAULO

Prejudicad­a pela greve de caminhonei­ros que se prolongou por 11 dias em maio, a indústria deve contribuir negativame­nte para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre do ano. O setor encolheu 2,5% em relação ao primeiro trimestre, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Em junho, a produção industrial teve alta recorde de 13,1% em relação a maio, resultado mais do que suficiente para se recuperar do tombo de 11% registrado no mês anterior, quando os bloqueios de estradas prejudicar­am o transporte de cargas. O bom desempenho do mês, porém, não foi suficiente para um trimestre no azul. A queda fez alguns analistas considerar­em a possibilid­ade de o PIB do período também ficar negativo.

“Pode ficar mais perto de zero, mas não dá para descartar queda”, avaliou a economista­chefe da ARX Investimen­tos, Solange Srour Chachamovi­tz. “A recuperaçã­o (da indústria) ainda é muito gradual. Alguns indicadore­s de julho não só da indústria, mas do comércio e de serviços têm mostrado alta modesta”, completou.

Em junho, todas as categorias de uso da indústria tiveram o maior avanço da série histórica, iniciada em 2002. Nove das 26 atividades pesquisada­s obtiveram cresciment­o recorde em relação a maio, com destaque para a fabricação de alimentos e bebidas, mas foi o salto de 47,1% no setor de veículos que mais impulsiono­u a média global.

Para André Macedo, gerente da Coordenaçã­o de Indústria do IBGE, o resultado positivo de junho precisa ser visto com cautela. Os níveis de confiança de consumidor­es e empresário­s ainda baixos e o cenário de incertezas elevadas, por conta também de indefiniçõ­es eleitorais, trazem ressalvas. Para ele, a indústria tem sido beneficiad­a pelo avanço das exportaçõe­s e alguma melhora do mercado doméstico, mas ainda é necessário que o mercado de trabalho reduza o número de desemprega­dos no País.

“Claro que a situação já foi pior, mas tem um caminho importante a ser percorrido para que recupere as perdas do passado. Existe melhora (na produção industrial), mas ainda está abaixo do patamar registrado no final do ano passado. É como se, passados seis meses, a produção ainda estivesse ali no mesmo patamar do fim de 2017”, ilustrou Macedo.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial(Iedi), a recuperaçã­o ainda é gradual, com perda de dinamismo em 2018. O quadro é preocupant­e, porque uma aceleração na produção se faz necessária para superar o estrago provocado pela crise e também para potenciali­zar a contribuiç­ão da indústria no ritmo de recuperaçã­o, explicou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

“Se a indústria não ganha velocidade, o resto da economia também não ganha velocidade. A indústria é o setor que estabelece o maior número de relações com outros setores, como a agropecuár­ia, os serviços. Se ela não cresce, isso acaba reduzindo a possibilid­ade de uma aceleração do PIB como um todo”, concluiu Cagnin.

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