O Estado de S. Paulo

China cobra ‘correção’ dos EUA e ameaça retaliar

Secretário do Comércio americano voltou a dizer que o governo chinês têm de ser mais justo com os produtos dos Estados Unidos

- WASHINGTON / GABRIEL BUENO DA COSTA E LETICIA PAKULSKI, COM AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

O governo chinês apelou, ontem, para que os Estados Unidos “corrijam sua atitude”, após a ameaça americana de impor uma tarifa mais alta sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang afirmou que Pequim está aberta ao diálogo, mas não deu indicação sobre o status das possíveis negociaçõe­s. Além disso, acrescento­u que, se necessário, o país vai retaliar para defender seus interesses.

Anteontem, o representa­nte de Comércio dos EUA anunciou que considera elevar a tarifa de importação de 10% para 25%. Isso reflete a frustração americana com retaliação anterior dos chineses em resposta à tarifa americana sobre aço e alumínio.

“Pedimos aos EUA que corrijam sua atitude e não tentem chantagear a China, porque isso não vai funcionar”, afirmou Geng. “Eles fazem coerção e pressão contra outros de maneira unilateral. Isso só pode ser contraprod­ucente.”

Mais tarde, o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, afirmou que o presidente Donald Trump avalia que “potencialm­ente é a hora de elevar a pressão sobre a China” no comércio. Ross concedeu entrevista à emissora Fox Business.

Ross argumentou, porém, que as tarifas anunciadas, mesmo que se materializ­em, terão um impacto pequeno, diante do tamanho da economia da China. “Elas não devem ser um cataclismo”, notou. Segundo ele, o governo Trump avalia que era preciso pressionar Pequim a ser mais justo com os produtos americanos.

Além disso, Ross comentou sobre as negociaçõe­s com a União Europeia para a redução de tarifas. De acordo o secretario, houve um acordo para que não sejam impostas tarifas sobre o setor automotivo durante o diálogo. As tarifas anteriorme­nte anunciadas sobre o aço e o alumínio, porém, continuam em vigor nesse ínterim.

O secretário de Comércio disse que ocorre um processo “cuidadoso” para excluir itens potencialm­ente danosos para empresas americanas das tarifas. “Excluímos mais de mil produtos das tarifas e esse número aumenta a cada dia”, ressaltou, dizendo que as empresas têm também buscado alternativ­as.

As preocupaçõ­es de uma escalada nas disputas comerciais fez as bolsas ao redor do mundo abrirem em queda, mas ao longo do dia, apenas as europeias não conseguira­m se recuperar.

Brasil. O analista sênior de agronegóci­o do Itaú BBA, Pedro Fernandes, destacou que a guerra comercial pode ter efeitos negativos para o agronegóci­o brasileiro. “Se a guerra comercial se prolongar por muito tempo, pode haver instabilid­ade para a indústria esmagadora e, consequent­emente, para a indústria de proteína animal do Brasil”, afirmou. Segundo ele, se a China absorver uma fatia ainda maior da produção brasileira, isso reduziria a disponibil­idade de grãos para esmagament­o interno, o que afetaria os criadores de suínos e aves, importante­s consumidor­es do farelo produzido pelo País.

Já se a disputa entre os dois países caminhar para uma resolução, existe a possibilid­ade de alguma concessão da China ao governo americano, como a reabertura da negociação de frango e, com isso, “pode ser que o espaço que conquistam­os no mercado chinês acabe se reduzindo”, projetou Fernandes.

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AL DRAGO/THE NEW YORK TIMES Guerra comercial. Para Donald Trump, essa é a hora de aumentar a pressão sobre a China

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