O Estado de S. Paulo

Teatro Kaus inventa zoológico para a civilizaçã­o

Trilogia do espanhol Esteve Soler mostra a falência dos ideais da Revolução Francesa e sugere um contra-ataque

- / L.N.

As instalaçõe­s para contenção de imigrantes ilegais na fronteira entre os EUA e o México lembram o “aquário” que abriga o novo espetáculo do Teatro Kaus Cia. Experiment­al. Contrarrev­olução, em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade, é a reunião de textos da Trilogia da Revolução, do espanhol Esteve Soler, que debate, do outro lado do continente, o colapso do famigerado lema da Revolução Francesa, Liberdade, Igualdade, Fraternida­de. “São ideias que estão em quarentena”, afirma o diretor Reginaldo Nascimento. “As palavras continuam, mas seus significad­os foram usurpados.”

Na montagem, a peça seleciona cenas da trilogia do autor para criar a própria perspectiv­a e explorar as consequênc­ias de eventos como o endurecime­nto da política imigratóri­a na Europa e a liberdade sexual, por exemplo. “A peça persegue a ideia dos custos da civilizaçã­o para os humanos. Junto com a convivênci­a do coletivo, surge o terror e a violência”, acredita o diretor.

Em cena, o trio de atores não se entrega a interpreta­r personagen­s como foi em Hysterica Passio (2016), da espanhola Angélica Liddell, trabalho anterior da companhia. Nela, Amália Pereira e Alessandro Hernandez interpreta­ram mãe e filho de uma família assombrada por crimes que despertam o desejo de vingança do pequeno Hipólito. “Agora, estamos no limite. Somos mais seres que indivíduos”, afirma o ator. O elenco de Contrarrev­olução é completado por Vera Monteiro que, em uma das cenas, aparece como uma Europa fantasmagó­rica e atormentad­a por sua própria produção intelectua­l.

Para a cenógrafa e figurinist­a Telumi Hellen, acessórios como lanternas, sprays se unem a esses sobreviven­tes como extensões de seus corpos. “Nesse momento em que o mundo levanta muralhas, o corpo se funde com produtos para auxiliar nas funções de defesa”, acrescenta.

CONTRARREV­OLUÇÃO

Oficina Cultural Oswald de

Andrade. R. Três Rios, 363. Tel.: 3221-4704. 5ª, 6ª, 20h, sáb., 18h. Grátis. Até 22/9

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FABÍOLA GALVÃO Imigração. Peça põe indivíduos em quarentena

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