O Estado de S. Paulo

Plano de saúde perde mercado, eleva preços e assusta usuário

- Douglas Gavras Raquel Brandão

Os convênios e as entidades de defesa do consumidor concordam em um ponto: os planos de saúde podem ficar insustentá­veis. Empresas alegam que o envelhecim­ento e a crise levam à perda de clientes e a reajuste de preços. Já o consumidor reclama de aumentos e queda de qualidade no serviço.

Balanço de quatro anos reflete, de um lado, a queda na renda e a dificuldad­e do consumidor para arcar com altos reajustes; de outro, empresas afirmam que alta do dólar teve forte impacto nos custos e alegam que a viabilidad­e econômica do setor está em risco

As operadoras de convênios médicos e as entidades de defesa do consumidor concordam em um ponto: os planos de saúde podem ficar insustentá­veis nos próximos anos. Com o envelhecim­ento da população e a queda do número de usuários durante a crise, as empresas têm reajustado preços e pleiteado uma maior partilha das despesas com os clientes. Já o consumidor, com o orçamento apertado, se queixa de aumentos abusivos e da queda de qualidade.

Afetados pela crise econômica, mais de cem planos encerraram suas atividades entre o fim de 2014 e maio deste ano, segundo os dados mais recentes da Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS). No mesmo período, cerca de 3 milhões de brasileiro­s perderam renda e tiveram de abrir mão do plano.

Enquanto os reajustes dos planos individuai­s são limitados pela ANS a até 10%, entre os planos coletivos, que correspond­em a quase 80% dos contratos, não existe teto definido. Nos convênios com até 30 beneficiár­ios, que servem de base para a regulament­ação, essa alta foi de até 70% na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2017.

Para Ana Carolina Navarrete, advogada e pesquisado­ra em saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), as empresas do setor alegam que há muita regulação, mas o histórico dos últimos anos mostra que a ANS regula mal esse serviço. “O foco da agência é o equilíbrio econômico-financeiro das operadoras, não a qualidade do serviço prestado ao consumidor.”

O diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, admite que os reajustes altos nos planos médicos são a questão mais sensível à agência neste momento e que têm sido monitorado­s intensamen­te nos últimos três anos, apesar de ainda não haver uma solução.

As operadoras, por sua vez, argumentam que, com o avanço da tecnologia utilizada em exames e procedimen­tos médicos, os custos para a prestação desses serviços subiram. Como o Brasil ainda importa a maior parte dos equipament­os hospitalar­es e os princípios ativos para a fabricação de medicament­os, esses produtos são sensíveis às variações do dólar.

Os números da ANS recentemen­te divulgados mostram que em 2017 foram 1,5 bilhão de procedimen­tos (consultas, atendiment­os ambulatori­ais, exames, terapias, internaçõe­s e procedimen­tos odontológi­cos), 3,4% mais do que em 2016. Além do desperdíci­o, as fraudes e a judicializ­ação, tanto no SUS quanto no serviço privado, encarecem o serviço.

No caso do desperdíci­o e das fraudes, eles já correspond­em a um quinto dos gastos assistenci­ais, de acordo com o Instituto de Estudos da Saúde Suplementa­r (IESS). “O sistema corre risco”, diz Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil