JUNTOS POR UMA CAUSA
Professores da Unifesp já compraram briga com alunos depois de se tornarem colaboradores do candidato na área econômica
Discretos, os irmãos Abraham e Arthur Weintraub assessoram Jair Bolsonaro há mais de um ano. Ambos professores universitários, eles até batem boca com alunos pela causa.
Faltava pouco para chegar à cidade japonesa de Hamamatsu quando Jair Bolsonaro (PSL-RJ) parou para exibir sua comitiva nas redes sociais. Jaqueta de couro para abrigá-lo do frio de fevereiro, posou sério ladeado pelos deputados Luiz Nishimori (PRPR) e Onyx Lorenzoni (DEMRS) e pelos filhos Eduardo, Flávio e Carlos. Ao fundo, Abraham e Arthur Weintraub completavam o grupo.
Neófitos em eventos políticos, os irmãos paulistas, ambos professores universitários, lançaram-se na viagem como assessores técnicos do deputado, que faria encontros ainda em Taiwan e na Coreia do Sul. Já não eram, porém, novatos nas hostes de Bolsonaro. Há quase um ano haviam se tornado uns dos principais colaboradores do então pré-candidato.
Prontificaram-se para a tarefa quando ainda rareavam nomes dispostos a contribuir com Bolsonaro. Paulo Guedes, incensado hoje pelo deputado como seu farol na economia, ainda não havia se unido ao time.
A ponte entre os Weintraub e Bolsonaro foi feita por Lorenzoni, a quem conheceram num seminário sobre Previdência no Congresso em março de 2017. O deputado entusiasmou-se com as ideias da dupla. No mês seguinte, levou-os a Bolsonaro. “Eles tinham a mesma resistência que acadêmicos têm porque não conhecem o Jair. Sou amigo dele e disse que ele era acessível
Desejamos que o Brasil mude, que acabe o roubo epidêmico, a corrupção, os privilégios, o narcotráfico e a ameaça de totalitarismo bolivariano. Em 2014, acreditávamos que Marina era a melhor alternativa. Hoje, evidentemente, Jair Bolsonaro representa o Brasil do futuro pelo qual estamos dispostos a lutar
e com sólida formação matemática”, afirma Lorenzoni. A conversa em Brasília era para durar meia hora. Levou duas. Os dois logo alistaram-se ao grupo.
“Diante de ameaças é necessário lutar pelo país em que se vive. Os venezuelanos descobriram isso muito tarde. Perderam o controle de sua pátria e hoje são colônia dos ditadores que controlam Cuba. São escravos”, disse Abraham, em nome dele e do irmão, sobre o que os motivou a contribuir com Bolsonaro. Não se reconhecem nas classificações políticas tradicionais. “Esquerda ou direita, acho que é uma rotulação pobre. Somos humanistas, democratas, liberais, lemos a Bíblia (Velho e Novo Testamento) e a temos como referência”, afirmou.
Avessos a entrevistas, os dois concordaram em falar ao Estado sob a condição de que registrassem respostas por e-mail. A medida, dizem, visa a preserválos. Arthur e Abraham se dizem perseguidos e alvo de ameaças desde que o vínculo com Bolsonaro tornou-se público.
Economista pela USP, Abraham, trabalhou 18 de seus 47 anos no Banco Votorantim, onde foi de office-boy a economista-chefe e diretor. Demitido, seguiu para a Quest Corretora e, logo depois, deixou a iniciativa privada. Arthur, de 42 anos, formou-se em direito pela USP e advogou por quase duas décadas. Especializou-se em Previdência, tema de seu doutorado.
Ambos passaram a se dedicar à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): Abraham como professor de Ciências Contábeis
e Arthur, de Ciências Atuariais. Paralelamente, fundaram o Centro de Estudos em Seguridade, que presta consultoria a empresas e publica uma revista sobre previdência.
É na universidade, dizem, que se sentem hostilizados. Em novembro passado, Bolsonaro publicou texto no Facebook assinado pelos Weintraub, que defendia a independência do Banco Central. O diretório acadêmico do campus e os centros acadêmicos de economia e de relações internacionais assinaram nota repudiando a parceria dos dois com o presidenciável por “normalizar o candidato como legítimo e que supostamente merece nosso diálogo”.
Os irmãos responderam ao estilo Bolsonaro: achavam impressionante os estudantes de economia darem “lição de moral”, que deveriam deixar de ser “ridículos” e se envergonharem por puxar “a nota do campus para baixo”. Por fim, que aguardavam “ansiosamente pela Ditadura do Proletariado”.
Reação. O texto causou reações indignadas de alunos e professores nas redes sociais – uma mensagem dizia que, aos dois, faltara apanhar. Reclamações chegaram à ouvidoria pela conduta dos Weintraub.
Eles não se arrependem. “Ficamos indignados. Foi patrulhamento ideológico puro”, disse Abraham. “Acreditamos que o humor é redentor. Aproveitamos e desopilamos o fígado”.
Os Weintraub ressentem-se há tempos de a Unifesp não protegê-los. Em 2014, sentiram-se atacados quando e-mail anônimo distribuído a integrantes da universidade dizia que o fato de eles e a mulher de Abraham trabalharem na universidade configurava nepotismo – os três ingressaram via concurso. Acreditam que a mensagem foi enviada porque Arthur, na época, contribuía com a campanha presidencial de Marina Silva.
“Desejamos que acabe o roubo epidêmico, o patrulhamento ideológico, o narcotráfico, a ameaça de totalitarismo bolivariano. Em 2014, acreditávamos que Marina era a alternativa. Hoje, Jair Bolsonaro representa o Brasil do futuro pelo qual estamos dispostos a lutar”.