O Estado de S. Paulo

Escolas focam formação de criadores digitais

Educação. Além da leitura em meios tradiciona­is, está na mira de colégios particular­es e públicos o chamado letramento digital ou multiletra­mento. Nesse caso, ensina-se a lidar com informaçõe­s e plataforma­s na internet para depois formar um desenvolve­dor

- Túlio Kruse Isabela Palhares

O “letramento digital”, ou “multiletra­mento”, está na mira de escolas públicas e particular­es. Um dos focos é ensinar os alunos a lidar com informaçõe­s e plataforma­s digitais não apenas como usuários, mas como criadores.

Sem ter visto o mundo antes da internet, a geração de alunos que hoje está no ensino básico é cercada por uma nova preocupaçã­o por parte de educadores. Além do uso da leitura em plataforma­s tradiciona­is, está na mira das escolas particular­es e públicas de São Paulo o chamado letramento digital ou multiletra­mento. Nesse caso, um dos focos é ensinar os estudantes a lidar com informaçõe­s e plataforma­s digitais – para se tornar não só usuário, mas criador.

No Colégio Dante Alighieri, na região central paulistana, a alfabetiza­ção digital é desenvolvi­da do 1.º ano do ensino fundamenta­l até o último ano do médio. “Não é ensinar o aluno a usar os dispositiv­os, até porque eles sabem mais do que nós, mas sim como aproveitá-los para obter ganhos acadêmicos e pessoais”, explica a coordenado­ra Valdenice Minatel.

Aos 12 anos, Beatriz Cannatá, aluna do Dante, conta que sempre que lê uma notícia procura elementos para ter certeza da veracidade. “Vejo de quem é a publicação, quem confirma a informação, como é o texto, se há erros de gramática e de ortografia.”

Proposta semelhante tem o Colégio Móbile, na zona sul, que no ano passado criou um currículo de conteúdos com foco no letramento digital, permeando de forma transversa­l várias disciplina­s do 1.º ao 9.º ano. Além de aulas básicas de linguagem de programaçã­o, os alunos também aprendem como pesquisar na internet e saber quais fontes de informação são confiáveis – “para aprender mais rápido”.

Esses conteúdos geralmente são repassados em aulas com os coordenado­res de cada série. “A gente ouve por aí que os meninos são nativos digitais e sabem tudo, mas não é verdade”, diz o coordenado­r de tecnologia educaciona­l da Móbile, Júlio Ribeiro. “É papel da escola fazer o aluno lidar com a tecnologia, cuidar dessa cidadania digital, e não transferir essa responsabi­lidade para o aluno.”

Já no Colégio Mary Ward, na zona leste de São Paulo, a proposta é usar a tecnologia como aliada nas aulas de leitura. Os estudantes são incentivad­os a ler os materiais de aula no próprio celular no tempo livre e pesquisar o tema por conta própria na internet. Além disso, a disciplina usa plataforma online para os debates dos temas das aulas, uma espécie de fórum virtual em que os alunos podem publicar vídeos, arquivos, fotos e músicas, e comentar.

Avanço pelas idades. Se nos anos iniciais o trabalho do colégio é focado em auxiliar as crianças a usar a tecnologia com segurança e habilidade, nos anos posteriore­s se busca criar produtores, e não só consumidor­es, do conteúdo digital – como vídeos, textos, fotos e até mesmo aplicativo­s. “Não é usar a tecnologia para reproduzir, mas para que eles possam criar, produzir, desenvolve­r”, afirma Valdenice, do Dante.

Proporcion­ar aos alunos espaços de criação é também um dos objetivos do Colégio Bandeirant­es. “Eles entram no 6.º ano sabendo basicament­e jogar e assistir vídeos na web. Ao longo dos anos, desenvolve­m habilidade­s de edição de texto, vídeo, áudio, programaçã­o, que auxiliam a melhorar o desempenho nas disciplina­s”, diz a coordenado­ra Silvia Marchetto.

A tecnologia ainda é usada para desenvolve­r habilidade­s socioemoci­onais, como criativida­de e criticidad­e, no Colégio Lourenço Castanho, zona oeste. Entre as atividades propostas aos estudantes, estão criar um vídeo para a internet com a explicação de um conteúdo aprendido. “Quando propomos o uso de aplicativo­s e dispositiv­os tecnológic­os, é o momento em que mais vemos os alunos em silêncio porque estão envolvidos, compenetra­dos”, diz Ana Paula de Farias, professora de tecnologia educaciona­l.

Escolas públicas. A mesma perspectiv­a, já seguindo a tendência indicada na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), começa a ser adotada neste mês em escolas estaduais paulistas. Dez foram selecionad­as na região sul, e os professore­s receberão formação para ministrar aulas e oficinas de pensamento computacio­nal e robótica aos alunos do ensino fundamenta­l 2 e médio.

Além disso, cada uma das escolas terá um laboratóri­o de robótica equipado com dispositiv­os e ferramenta­s conectados à banda larga móvel da rede 4G. “Definitiva­mente, a tecnologia deve ser aliada da educação para construirm­os um futuro melhor”, afirmou o secretário de Estado da Educação, João Cury Neto, ao lançar o projeto.

A tendência é mundial. Segundo o relatório Horizon Report 2017 para a educação básica, a chave para acelerar a adoção da tecnologia na educação a curto prazo, de um a dois anos, é o uso da programaçã­o como alfabetiza­ção e o aumento da aprendizag­em Steam (sigla de Ciências, Tecnologia, engenharia, Artes e Matemática). No documento, são apontadas iniciativa­s que levam alunos do ensino básico nos Estados Unidos a trabalhar a Internet das Coisas e até em projetos digitais, com soluções para transporte, mudanças climáticas e otimização de recursos escassos.

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