O Estado de S. Paulo

O preço das ineficiênc­ias

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Oproduto industrial brasileiro chega ao mercado internacio­nal a um preço até 30% maior do que o de similares produzidos nos Estados Unidos ou na Alemanha. Embora seja excessivo, esse diferencia­l é bem menor do que o constatado em 2010, quando o produto nacional era até 44% mais caro do que o fabricado em outros países com os quais o Brasil compete.

A melhora seria bem mais animadora se tivesse decorrido de mudanças estruturai­s em curso na economia brasileira ou de novas atitudes do setor empresaria­l em relação a temas como inovação e modernizaç­ão tecnológic­a. Mas, como mostrou reportagem do Estado, ela resultou de fatores que não refletem mudanças no padrão de competitiv­idade da economia brasileira, pois são de natureza conjuntura­l, como a depreciaçã­o do real em relação ao dólar e a redução da taxa básica de juros.

O mais recente estudo Custo Brasil realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq) mostra que o custo adicional do produto industrial brasileiro em relação ao dos principais países concorrent­es diminuiu de 44% na primeira edição do trabalho, realizado em 2010, para 37% em 2013. Nos últimos quatro ou cinco anos, registrou-se nova redução de 7 pontos porcentuai­s.

Nos dois casos, a queda relativa do custo de produção no Brasil se deveu a fatores ocasionais, como a desoneraçã­o da folha de pagamentos instituída em 2011 pelo governo Dilma Rousseff que beneficiou alguns segmentos industriai­s – e resultou em sérios desequilíb­rios nas contas do governo federal, sendo por isso revista na maior parte dos casos –, e, mais recentemen­te, à redução dos juros. A taxa de câmbio teve papel importante nas duas quedas. Sem o efeito do câmbio, provavelme­nte a diferença de preço não teria registrado mudança significat­iva nos últimos três anos.

O que os estudos mostram é que as ineficiênc­ias que a economia brasileira vem acumulando há décadas, e cuja eliminação na maioria dos casos depende de iniciativa­s do setor público ou de políticas de responsabi­lidade do Estado, continuam a onerar a produção. Eles são conhecidos de todos os que examinam os obstáculos que o País precisa superar para ganhar competitiv­idade e produtivid­ade.

A alta carga tributária, apontada no estudo da Abimaq, é invariavel­mente citada entre os componente­s mais pesados do chamado custo Brasil que encarece excessivam­ente o produto brasileiro. No caso dos produtos industriai­s, a Abimaq observa que o peso excessivo dos impostos sobre os insumos e sobre toda a cadeia produtiva torna o problema ainda maior, pois não existe forma de recuperaçã­o dos excessos como crédito tributário.

A burocracia e o excesso de regulament­ação se juntam à legislação trabalhist­a – ainda excessivam­ente detalhista, a despeito da reforma por que passou – para elevar os custos administra­tivos. Um sistema educaciona­l desvincula­do da realidade e das necessidad­es do País, e por isso incapaz de preparar os jovens para um mundo do trabalho em rápida transforma­ção, resulta em carência de mão de obra qualificad­a em setores vitais para a modernizaç­ão da estrutura produtiva. A precarieda­de da infraestru­tura dificulta e encarece a distribuiç­ão dos produtos. O alto custo do crédito, para todos os tipos de operação, igualmente onera os bens locais. São, em geral, componente­s de custos cuja redução depende de políticas públicas.

Dentro das fábricas – como nas fazendas da porteira para trás – a busca da eficiência é permanente. Investimen­tos em fatores de competitiv­idade – gestão, inovação, treinament­o, modernizaç­ão –, quando feitos em volume expressivo, asseguram ao setor produtivo condições de competir, o que explica a presença ainda expressiva do produto brasileiro no mercado externo. Mas muito mais o País ganharia se o Estado reduzisse seu peso sobre a economia e eliminasse muitos dos obstáculos que criou para o avanço da produção.

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