O Estado de S. Paulo

Sem outsider, antiga polarizaçã­o PSDB e PT volta a ter hegemonia

Para analistas, quadro é explicado em parte pelo fato de nomes de fora da política terem desistido de disputar a Presidênci­a

- Gilberto Amendola Valmar Hupsel Filho

A sedimentaç­ão das articulaçõ­es partidária­s para a disputa pelo Palácio do Planalto manteve em campos hegemônico­s a polarizaçã­o que nos últimos 24 anos domina as eleições presidenci­ais no Brasil. PSDB e PT saem das convenções que oficializa­ram as candidatur­as liderando seus respectivo­s campos políticos: o da centro-direita e o da centro-esquerda.

Na avaliação de analistas políticos ouvidos pelo Estado, esse quadro se deve em parte à desistênci­a de nomes de fora da política – os chamados outsiders – de concorrer, como o empresário e apresentad­or Luciano Huck e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que se filiou ao PSB.

Nas últimas duas semanas, os dois partidos mostraram que ainda possuem força de atração, seja para formar a maior aliança, no caso do PSDB, seja para manter o terreno da centro-esquerda em compasso de espera, como tem feito o PT.

A legenda de Alckmin conseguiu amarrar um acordo com o Centrão, bloco partidário composto por DEM, PP, Solidaried­ade, PR e PRB, que também negociava com o candidato do PDT, Ciro Gomes.

Com isso, a campanha tucana consolidou um tempo de TV inigualáve­l e palanques estaduais importante­s. O PT asfixiou ainda mais a candidatur­a de Ciro ao fechar um acordo como PSB – impondo neutralida­de no pleito nacional aos pessebista­s.

Hegemonia não significa, contudo, favoritism­o e a eleição presidenci­al de 2018 continua marcada pela incerteza. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme as mais recentes pesquisas do Ibope, mantém a liderança nas intenção de voto, mas está potencialm­ente enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o que o tornará inelegível.

No cenário sem Lula, Jair Bolsonaro, do PSL, lidera a disputa, seguido por Marina Silva (Rede). Ciro e Alckmin aparecem em situação de empate técnico.

‘Sistema’. A eleição de 2018 vinha se configuran­do como a mais fragmentad­a desde 1989, mas sofreu um natural afunilamen­to nas últimas semanas. “Esse cenário já era esperado. Primeiro esses partidos lançam nomes para depois fazer as coligações. Isso é típico da nossa estrutura partidária”, disse Marcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligênc­ia.

Para o também cientista político Claudio Couto (FGV), o que pode beneficiar PSDB e PT é uma certa aversão ao radicalism­o. “São partidos que não são extremista­s. Não são da direita radical e nem da esquerda radical. No final, isso pode atrair o eleitor para uma certa normalidad­e”, disse.

“O sistema é muito refratário a mudança e se protegeu”, afirmou o cientista político Carlos Melo (Insper). Segundo Melo, a forma como as campanhas serão financiada­s (divisão de dinheiro do fundo eleitoral pelos partidos), a divisão do tempo de TV e a impossibil­idade de candidatur­as avulsas asfixiaram qualquer tentativa de renovação. “O eleitor só pode escolher dentro do universo que está sendo proposto.”

Para o publicitár­io Fernando Barros, “política, ao fim e ao cabo, tem lógica”. “O rio corre para o mar mesmo e acabou. Às vezes acontece de um outsider dar certo. Não dá para ignorar, o Brasil teve isso com Collor. De lá para cá quem mais? Ninguém. Tudo vai na naturalida­de.”

A avaliação também é que Bolsonaro, com alta rejeição, pode provocar o cresciment­o dos seus adversário­s mais diretos. “No final do primeiro turno, o voto útil terá uma carga mais forte. Ou seja, o eleitorado deve votar em alguém que evite a ida ao segundo turno de um candidato que desaprove mais”, disse o diretor da Ipsos, Danilo Cersosimo. “Isso pode acontecer e a rejeição ao Bolsonaro definir o cenário para outros dois candidatos”, completou.

Pesquisa da Ipsos divulgada no início da semana passada indicou que embate entre PSDB e PT pode se beneficiar da falta de alguma novidade mais palpitante – mostrou que metade dos brasileiro­s (50%) prefere que o próximo presidente seja político há muitos anos. O desejo por um outsider caiu para 44%.

Apesar do cenário, Melo não arrisca prognóstic­os: “As coisas estão acontecend­o muito rápido”.

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FELIPE RAU/ESTADÃO PT. Haddad (no centro) com petistas no ato que oficializo­u a candidatur­a de Lula, mesmo preso
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO PSDB. Doria discursa na convenção que oficializo­u a chapa Geraldo Alckmin e Ana Amélia

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