Três grupos dividem os votos e pressionam os parlamentares
Indústria contribuiu com R$ 899 mil para as campanhas de 17 deputados durante as eleições de 2014
Três grupos de pressão atuam diretamente junto à Bancada da Bala – as empresas de armas e munições, os clubes de atiradores e as associações de classe. Ainda que tenham interesses em comum, nem sempre os focos da indústria de armamentos e os dos atiradores são os mesmos. Recentemente, os representantes dos atiradores entraram em conflito com a indústria por causa de um relatório que os obrigava a utilizar somente munições novas nos clubes de tiro.
A Taurus e a CBC têm o domínio da fabricação de armas e munições no Brasil e fazem parte do mesmo grupo empresarial. Juntas, contribuíram em 2014 com R$ 899 mil para as campanhas de 17 deputados federais eleitos. Naquele ano, a CBC comprou a Taurus, que tinha problemas financeiros. Desde então, a CBC tem o monopólio da fabricação de munições e a Taurus controla o mercado de armas. Juntas, são representadas pela Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (Aniam), entidade que também tem participação da Rossi, especializada na fabricação de armas de pressão.
A indústria das armas têm contato direto e frequente com os parlamentares. A Aniam promove mensalmente um almoço em Brasília para a bancada. São convidados os deputados da bancada da bala e outros que tenham interesse em conversar com o setor. Quem faz o contato direto com os parlamentares é o presidente da associação, Salesio Nuhs, também presidente da Taurus e vicepresidente comercial e de relações institucionais da CBC.
Nuhs comparece a eventos do governo e se reúne com ministros e secretários. Desde 2016, foi recebido sete vezes no Ministério da Defesa. Sua última aparição foi em 27 de fevereiro na posse do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Pouco depois, Taurus e CBC anunciaram a doação de 100 fuzis e 100 mil munições para o Exército, como ajuda à intervenção no Rio.
Nem todos os candidatos da Bancada da Bala defendem os interesses da indústria. Há um racha. De um lado estão os deputados próximos da Taurus/CBC como Alberto Fraga (DEM-DF), autor do maior número de projetos sobre armas e munições nesta legislatura, com 14 propostas. Do outro, os parlamentares que questionam o domínio das empresas no País. O deputado Major Olímpio (PSL-SP), autor de sete projetos, é o mais ativo nesta causa.
Jabuti. Um dos exemplos da atuação da indústria ocorreu em 2015, quando o lobby tentou incluir em uma Medida Provisória um artigo que proibia a importação de armas e munições, exceto pelo Exército e pelas “fabricantes de armas e munições”. “Ele (Salesio) estava botando um jabuti (no texto) para favorecer a empresa dele, dava o monopólio da importação de armas para a Taurus”, disse Olímpio. “É o último dos monopólios no País.” O artigo que favorecia a Taurus foi retirado. Procurado, Nuhs não se manifestou.