Atiradores brigam com indústria por recarga
Conflito entre atiradores e empresa de munição divide bancada da bala; grupos conseguiram liberar porte de arma
Outro lobby forte junto à bancada da bala é das associações de atiradores civis, os chamados CACs (caçadores, atiradores e colecionadores). Os interesses destas associações são defendidos pela Associação Brasileira de Atiradores Civis (Abate), com 180 mil membros, entre ativos e inativos. Ao contrário da indústria, eles não financiam os deputados com doações eleitorais, mas fazem campanha pelos parlamentares que os ajudam.
“É uma via de mão dupla. Se for o caso de a gente acreditar na pessoa, nós apoiamos e somos apoiados”, diz o presidente da Abate, Arnaldo Adasz. Assim como a Aniam, a associação da indústria de armas, a Abate tem cadeira no Conselho Consultivo do Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército e trânsito com alguns dos principais deputados da bancada da bala. Esse conselho tem a função de prestar “assessoramento setorial” em decisões sobre fiscalização de produtos como armas e munições no País.
“Nós somos o primo pobre dos lobistas porque não temos verba, mas a gente marca audiência com os deputados, expõe problemas, levanta debates”, disse Adasz. A relação da Abate com os parlamentares é tão próxima que seis deputados federais são membros da associação: Alexandre Leite (DEMSP), Onyx Lorenzoni (DEMRS), Jair Bolsonaro (PSL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Major Olímpio (PSL-SP) e Rafael Motta (PSB-RN). O major Olímpio frequenta o clube de tiro do empresário Leonardo Melo, na zona norte de São Paulo, onde atira até com submetralhadora. “Tenho 1,3 mil sócios”, diz Melo. “A recarga de munição e o porte de arma são duas de nossas grandes preocupações.”
Recarga. Por isso, parte da energia da Abate está voltada para barrar o projeto que proíbe a recarga de cápsulas, prática comum entre atiradores esportivos. “O projeto acabaria com tiro desportivo no Brasil”, disse o presidente da entidade. Cada cartucho da CBC custa de R$ 10 a R$ 12. Com a recarga, sai por R$ 1,20 e R$ 1,30. “A instrução de tiro só existe por causa da recarga.”
Mas a maior conquista deles é de 2017, quando o Exército publicou a portaria permitindo porte de arma para os atiradores civis com Certificado de Registro (CR) no trajeto de casa para os clubes. “Em uma audiência com o general Ivan Neiva Filho expus a fundamentação jurídica do porte de armas dos atiradores. A partir daí saiu a portaria”, disse Adasz.