O Estado de S. Paulo

A solução está no livro

- RENATA CAFARDO E-MAIL: renata.cafardo@estadao.com

Em tempos em que a informação está em todo lugar, a um clique de distância, pesquisas mostram a importânci­a dos livros – esses de papel, mesmo – para melhorar a aprendizag­em das crianças. Cidades que inaugurara­m biblioteca­s, por exemplo, registrara­m melhores resultados de seus alunos. E ler livros por prazer ou ouvir dos pais as histórias na infância também fazem o estudante se sair melhor na escola.

A pesquisa inédita sobre biblioteca­s analisou o efeito da instalação de 107 delas em 12 Estados, em um projeto do Instituto EcoFuturo. Elas não necessaria­mente foram colocadas em escolas.

Mesmo assim, houve um aumento de 7,8% no Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb) dos alunos de 6.º ao 9.º ano da cidade. A melhora apareceu tanto em Português quanto em Matemática e ainda cresceu a frequência dos pais em reuniões escolares e o incentivo para fazer lição de casa. Crianças de 1.º ao 5.º ano também foram beneficiad­as, mas com resultados menos significat­ivos.

O Ideb é considerad­o hoje no País como a melhor maneira de expressar a qualidade ou não do ensino em uma cidade, Estado ou escola. Ele é tabulado pelo Ministério da Educação (MEC) e considera o desempenho dos alunos em provas de Português e Matemática, além de taxas de aprovação.

Fabiana Felício, uma das autoras do estudo, explica que a metodologi­a usada garante que os resultados são estatistic­amente significan­tes porque foram comparados com outros municípios de caracterís­ticas muito parecidas. Ou seja, isso minimiza a possibilid­ade de outros fatores terem influencia­do na melhora da aprendizag­em. A pesquisa será apresentad­a na 25.ª Bienal Internacio­nal do Livro de São Paulo, na terça-feira.

O quadro atual do País no que diz respeito à leitura é triste. Os brasileiro­s leem, em média, menos de três livros inteiros por ano. As avaliações nacionais mostram que só 30% dos adolescent­es do 9.º ano, ou seja, de 14 anos, aprenderam o considerad­o adequado em leitura e interpreta­ção de textos. Entre as crianças do 5.º ano, em média com 11 anos, o índice é de 50%.

Para piorar a situação, só 36% das escolas – incluindo as particular­es – têm biblioteca­s. Isso, apesar de uma lei federal que obriga todas as instituiçõ­es de ensino a oferecerem esses espaços de leitura até 2020.

Pesquisas internacio­nais vão no mesmo caminho. Estudos da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) mostram desempenho melhor no Pisa de estudantes que leem diariament­e por prazer. Isso é mais importante do que a quantidade de tempo dedicada à leitura de livros. A diferença no resultado desses bons leitores equivale a um ano e meio a mais de escolarida­de com relação aos que não gostam de ler.

O Pisa é uma prova feita em cerca de 70 países pela OCDE com jovens de 15 anos nas áreas de Leitura, Matemática e Ciência. Os resultados mundiais mostram

Alunos usam site do ‘Estado’ para se informar que meninas, em geral, leem mais por prazer do que meninos.

E para os pais que se questionam sobre como ajudar seus filhos a se sair bem na escola, outros resultados do Pisa indicam como os livros também são importante­s nessa tarefa. Estudantes cujos pais leram para eles um exemplar todos os dias (ou quase todos os dias) quando estavam no 1.º ano do ensino fundamenta­l têm desempenho muito melhor no exame.

Em geral, essa diferença equivale a meio ano a mais de escolarida­de em relação aos adolescent­es cujos pais nunca ou quase nunca leram. E o mais interessan­te: o resultado também é muito melhor do que o apresentad­o por jovens cujos pais deram, na infância, brinquedos com as letras dos alfabeto.

É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTA­S DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

Pesquisa mostra aumento do Ideb em cidades que receberam biblioteca­s

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FELIPE RAU/ESTADÃO Dante.
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FELIPE RAU/ESTADÃO

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