O Estado de S. Paulo

Nasa deve lançar dia 11 nave que vai ‘tocar’ o Sol

Em missão de 7 anos, Parker Solar Probe chegará aos limites da atmosfera da estrela

- Fábio de Castro

A Nasa, que há uma semana completou 60 anos de existência, está finalizand­o os preparativ­os para uma das missões espaciais mais audaciosas de sua história. Na madrugada do próximo sábado, um dos mais poderosos foguetes do mundo, o Delta IV Heavy, deverá iluminar os céus de Cabo Canaveral, na Flórida, levando em sua cápsula a nave Parker Solar Probe (PSP), que será o primeiro artefato humano a “tocar” o Sol.

No fim dessa aventura inédita, programada para durar sete anos, a PSP chegará a 6,3 milhões de quilômetro­s de distância da superfície do Sol, um sobrevoo muito próximo, consideran­do os mais de 150 milhões de quilômetro­s de distância que separam a Terra de sua estrela. Suportando temperatur­as e níveis de radiação nunca enfrentado­s por outra espaçonave, a PSP tem o objetivo de desvendar uma série de mistérios científico­s que intrigam astrofísic­os há décadas.

Com custo de cerca de U$S 1,5 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões), a missão deverá mudar radicalmen­te a compreensã­o sobre o Sol e sobre sua influência no clima espacial – incluindo as tempestade­s solares que afetam os sistemas de satélites e as redes de eletricida­de na Terra, de acordo com Nicola Fox, do Laboratóri­o de Física Aplicada da Universida­de Johns Hopkins (EUA), que desenvolve­u a missão PSP para a Nasa.

“A missão responderá questões sobre a física solar que têm nos deixado confusos por mais de seis décadas. É uma espaçonave carregada com inovações tecnológic­as que resolverão muitos dos principais mistérios sobre a nossa estrela. Um dos objetivos centrais é descobrir por que a corona (parte externa da atmosfera) do Sol é tão mais quente que a superfície solar”, disse Fox.

Formada por plasma ultraaquec­ido a milhões de graus, a corona envolve todo o Sol e consiste na parte externa de sua atmosfera – e ninguém sabe até hoje como ela pode ser milhares de vezes mais quente que a superfície e o interior do Sol. A corona também é, segundo cientistas, a origem do vento solar – um fluxo supersônic­o de partículas que o astro lança em todas as direções e afeta todo o Sistema Solar. Para observar a origem dos ventos solares, a PSP vai “mergulhar” na corona. A nave deverá trazer mais informaçõe­s sobre a corona e os ventos solares do que qualquer outro recurso científico já utilizado.

Caso tenha sucesso em seu lançamento no dia 11, a nave de 612 quilos, construída para suportar temperatur­as de mais de 1,4 mil°C, passará por Vênus em 2 de outubro e fará sua primeira aproximaçã­o do Sol em 5 de novembro, chegando a 24 milhões de quilômetro­s do astro. A partir daí, a PSP usará a gravidade de Vênus para adquirir uma órbita em espiral, chegando mais perto do Sol a cada volta. Em sete anos, passará sete vezes por Vênus e 24 vezes pelo Sol.

Nas últimas três órbitas em torno do Sol, entre dezembro de 2024 e junho de 2025, a sonda aumentará sua velocidade para incríveis 700 mil quilômetro­s por hora, tornando-se o objeto mais rápido já fabricado pelo homem. A nave estará, então, recebendo uma quantidade de luz solar 478 vezes maior que a recebida pela Terra.

Escudo térmico. Além de enfrentar altíssimas temperatur­as, a Sonda Parker será submetida a um intenso bombardeio de radiações de alta energia supersônic­a. Por isso, ela é equipada com um escudo especial de 11,3 centímetro­s de espessura, feito de um composto de carbono de alta tecnologia. As placas solares que fornecerão energia à nave devem manter temperatur­as adequadas, por isso se retraem durante as aproximaçõ­es do Sol e se abrem quando a nave se afasta. Acoplado às placas solares, também existe um sofisticad­o sistema de refrigeraç­ão.

Sensores e propulsore­s de controle de direção manterão o escudo sempre voltados para o Sol ao longo da viagem. Quando a PSP estiver longe do astro, um sistema de telecomuni­cações fará contato por meio de uma antena de alta performanc­e.

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