O Estado de S. Paulo

Suas apostas, senhores

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

No princípio era o caos. Depois, os gases cósmicos começaram a se concentrar e a matéria passou a se organizar em meia dúzia de pontos do universo. E é mais ou menos o que se percebe hoje a partir dos efeitos da energia gravitacio­nal sobre os novos polos eleitorais e econômicos em formação no Brasil.

Não é que as incertezas, de que tanto se falou nos últimos meses, tenham ido embora para sempre. Muitas continuam aí e outras podem voltar. Mas já dá para vislumbrar a formação de novos centros de força. Essa percepção concorre para repassar a ideia de que já é possível fazer algumas apostas.

O comportame­nto do mercado financeiro do País reflete esse novo momento. No período de 30 dias terminado nesta sexta-feira dia 3, a Bolsa disparou nada menos que 10,5%, ou mais de uma vez e meia o que se pode esperar do rendimento de fundos de renda fixa em um ano. Esse resultado apenas em parte reflete a divulgação de bons balanços de empresas importante­s, como os dos bancos, da Vale e da Petrobrás. O fator que mais vem empurrando a Bolsa é a noção de que novo conjunto de forças em direção às reformas e à rearrumaçã­o da economia começa a atuar.

O câmbio reflete a mesma dinâmica. As cotações do dólar no câmbio interno, que há algumas semanas se revolviam nervosamen­te e chegaram a tocar os R$ 3,91, voltaram a recuar, reduziram a volatilida­de e até mesmo dispensara­m as intervençõ­es do Banco Central, algumas delas, pesadas. Nesse mesmo período de 30 dias, a moeda americana caiu 4,86% em relação ao real e trouxe prejuízo a quem se atirou açodadamen­te às compras.

Essa perspectiv­a (ou seria apenas possibilid­ade?) de bonança eleitoral se associa a uma situação especialme­nte favorável no ambiente externo – apesar do impacto da guerra comercial a que se vai dedicando o presidente Donald Trump. A economia dos Estados Unidos cresce a mais de 4% (dado anualizado); a da União Europeia, a 2,2% ao ano; e a da China, a 6,7%, também ao ano. Graças em boa parte aos ganhos de produtivid­ade proporcion­ados globalment­e pelo crescente emprego de tecnologia da informação, a inflação mundial também está controlada em níveis inferiores a 2% ao ano, o que também contém a alta dos juros ensaiada pelos grandes bancos centrais. Essa paisagem evita boa parte dos castigos que os mercados infligem às economias emergentes, entre as quais está o Brasil.

O momento é, portanto, de notória dissipação das incertezas que se concentrav­am há meses na política e na economia do Brasil. É um climão que favorece o retorno da confiança. Pode levar o empresário, até agora tão retrancado, a retomar investimen­tos. Se houver razoável melhora nos índices de ocupação e de renda, o consumidor também poderá procurar mais o crédito e ousar mais no consumo.

Não há garantia de que novas trombadas deixarão de acontecer. A campanha eleitoral nem começou, a maioria dos eleitores não tem ideia em quem votar e nunca se sabe de que novas surpresas será capaz o Judiciário. Mas é inegável que parece iniciar-se uma temporada de mais alento.

Do ponto de vista do administra­dor de um patrimônio familiar, a hora parece mais propícia a se tomar uma decisão. Trata-se de fazer uma aposta, ainda que seja para correr riscos. Se essa aposta for a de que o novo presidente da República estará identifica­do com as reformas e com o cresciment­o, as opções a fazer são de reforçar posições em aplicações de maior risco, especialme­nte ações. Se essa aposta for de que antes de melhorar tudo continuará a piorar, então a escolha coerente será o entrinchei­ramento no dólar e nas aplicações mais seguras.

Ficar parado aumenta o risco de perda do trem. A escolha é sua.

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