O Estado de S. Paulo

Reajustes motivam quase 30% das ações na Justiça

Em seis anos, processos por causa de aumento de mensalidad­e cresceram 414% na Justiça do Estado de São Paulo

- / R.B.

Apenas no primeiro semestre de 2018, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) julgou mais de 16 mil ações contra planos de saúde. A expressiva leva de processos questionan­do a atuação das operadoras, porém, não surpreende. Desde que o Observatór­io da Judicializ­ação da Saúde Suplementa­r da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (FMUSP) começou a fazer esse levantamen­to, em 2011, o total de ações subiu 387%.

O destaque dos levantamen­tos mais recentes, no entanto, é o aumento da insatisfaç­ão dos beneficiár­ios com os reajustes. Há seis anos, somente 14,8% dos processos envolviam a revisão dos preços dos planos, agora são 28,7%.

“O modelo de reajustes não é transparen­te. O simples argumento da alta inflação médica é muito frágil para reajustes tão pesados”, avalia o professor da FMUSP Mario Scheffer, coordenado­r do Observatór­io.

Os principais motivos para os aumentos reclamados são a mudança de faixa etária, a sinistrali­dade e os contratos coletivos. De acordo com a pesquisa, como a oferta de planos individuai­s é baixa, indivíduos, famílias e pequenos grupos têm migrado para planos coletivos – com CNPJ ou por adesão –, que não são submetidos ao limite de aumento de preços estabeleci­do pela Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS).

A ação movida por Dalka Gonçalves Viola de Queiroz, de 76 anos, contra a operadora de seu plano de saúde foi uma de 1,7 mil julgadas pelo TJ-SP entre janeiro e junho deste ano, 414% mais do que no mesmo período de 2011.

Em 2017, o valor pago ao plano subiu 107%. Na Justiça, a aposentada conseguiu reduzir o reajuste para 41,32%. Apesar de a mensalidad­e, atualmente na casa de R$ 1 mil, consumir cerca de 70% do que recebe de aposentado­ria, Dalka preferiu não procurar por outra operadora, por medo de não conseguir ser atendida pelos médicos que a acompanham há anos. “Às vezes, atraso uma conta ou outra para pagar o plano e, quando preciso, conto com a ajuda das minhas filhas.” Nos últimos dois anos, o ranking de reclamaçõe­s elaborado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também registrou os reajustes no primeiro lugar de insatisfaç­ão dos consumidor­es.

No caso de Dalka, a operadora do plano recorreu da decisão. A aposentada espera, agora, que seja mantida sua vitória em segunda instância. A favor, ela tem as estatístic­as. Em estudo anterior ao divulgado em julho, os pesquisado­res do departamen­to de Medicina Preventiva da FMUSP identifica­ram que 92,4% das decisões judiciária­s foram favoráveis aos consumidor­es. “As decisões do Judiciário dão o recado de que há problemas”, diz Scheffer.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO PressãoAlt­a. Plano de Dalka dobrou de preço

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