O Estado de S. Paulo

Pigossi não quer ficar preso a uma só imagem

Bom moço da TV faz assassino no cinema e ganha força na Netflix

- Luiz Carlos Merten

Desde a apresentaç­ão de O Nome da Morte na Première Brasil do Festival do Rio, do ano passado, tem havido muita polêmica sobre o longa de Henrique Goldman, interpreta­do pelo moço aí da foto. O problema não é Marco Pigossi, mas o foco do filme que conta a história de Júlio Santana, pistoleiro de aluguel que afirmava haver matado 492 pessoas. O filme adota seu ponto de vista evai enumerando os crimes –1, 2, 10, 100... Júlio pode ser um monstro, mas é contraditó­rio. Bom pai, bom marido. De perto ninguém é normal.

Pigossi está ótimo no papel. Para ele, o problema nãoéoperso­nag em–Júlio –, mas o Brasil. “Uma história como essa expõe o grande problema desse País, queéa educação. Oacessoàcu­lt ura, quep od enos fazer pessoas melhores. Destituído de cultura e carregado pelo tio, que é seu ídolo, ele vira esse monstro assassino, que puxa o gatilho quase 500 vezes para matar. Chega uma hora em que não sente mais nada. Está fazendo seu trabalho. Mesmo tentando entendê-lo, eu quero acreditar que o público termina sentindo um mal-estar. Pelo menos, foi assim que o criei.” Um bruto, mas o filme não se esgota nesse registro. Retrata a ineficiênc­ia da Justiça e mostra a polícia corporativ­ista e corrupta. O retrato do Brasil profundo é impactante. Que País é esse? Para pegar carona na campanha da Globo, que País queremos?

Pigossi acaba de participar da bem-sucedida supersérie Onde Nascem os Fortes. Seu personagem aparecia praticamen­te só no primeiro capítulo. Seu desapareci­mento e o suposto assassinat­o só eram solucionad­os no último capítulo. Pigossi ainda apareceu algumas vezes em flashback, mas de maneira muito intensa era a sua ausência que movia a trama e revelava outro retrato da arbitrarie­dade e da violência do sertão como um mundo que se moderniza superficia­lmente – carros, motos, celulares –, mas que permanece arcaico como estrutura de poder. “É um outro retrato do mesmo Brasil de O Nome da Morte. E não deixam

de ser duas vítimas, por mais que Júlio (no Nome) pareça o algoz.” Não por acaso, ambos, o filme e a supersérie, foram escritos por George Moura (o primeiro em parceria com o diretor Henrique Goldman). Brasileiro radicado na Inglaterra, Goldman dirigiu Princesa, sobre uma mulher brasileira trans que migrou para a Itália, e Jean-Charles, sobre o brasileiro morto pela polícia de Londres, como suspeito de terrorismo. É um cineasta que não teme a polêmica.

O ator tem se destacado tanto que é de se perguntar por que topou fazer um papel pequeno como o de Onde Nascem os Fortes? “Pode até parecer clichê, mas um dia a Cássia Kiss me disse, sabiamente, que não existem pequenos papéis, mas pequenos atores. Queria muito trabalhar

com o Zé (José Luiz) Villamarim. Quando ele m e chamou e explicou do que se tratava, não vacilei. Faria de novo.” Paulista da capital, Pigossi nasceu em 1.º de fevereiro de 1989 – tem 29 anos, portanto. Foi nadador profission­al, tendo sido vice-campeão paulista em 2005, quando já atuava e integrava o elenco da Globo. A partir de Um Só Coração, emendou mais 11 novelas e séries, incluindo

Uma história como essa (de Júlio Santana) expõe o grande problema desse país, que é a educação” Marco Pigossi ATOR

trabalhos de grande repercussã­o como Caras e Bocas, Ti-Ti-Ti, Boogie Oogie, A Regra do Jogo, A Força do Querer.

Na TV, criou a imagem de bom moço, que subverte com O Nome da Morte. “Não quero virar um estereótip­o, ficando preso a um só tipo de personagem. Como ator, gosto de mudar, de me testar.” Essa vontade de fazer coisas diferentes o levou a não renovar com a Globo ao ser chamado para fazer uma minissérie da Netflix na Austrália. “Muita gente achou que estava louco, mas não houve rompimento. O que houve foi uma possibilid­ade incrível. Me chamaram para um papel em inglês, no outro lado do mundo, em outra cultura. Como ator, era tudo que eu queria.”

Tidelands é um drama policial de fantasia. Conta a história de

uma ex-presidiári­a que investiga uma série de mortes misteriosa­s na vila de pescadores em que cresceu entre humanos e sereias. Entre outros nomes de prestígio, Pigossi atua com a espanhola Elsa Pataky, mulher de Chris Hemsworth, o Thor, na vida, com quem seu personagem tem um romance. A Netflix internacio­nal gostou tanto que já escalou Pigossi para outra produção – no Brasil. Dessa vez será Cidades Invisíveis, projeto live action do rei da animação Carlos Saldanha. O filme viaja pelo folclore brasileiro por meio de detetive que investiga crimes envolvendo seres fantástico­s. Emendando um trabalho no outro, Pigossi sonha com merecidas férias para fazer outra coisa de que gosta muito, além de atuar – viajar.

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KARIMA SHEHATA O astro. Depois de decisiva participaç­ão em ‘Onde Nascem os Fortes’, ator está no centro do violento ‘O Nome da Morte’

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