O Estado de S. Paulo

Convergênc­ia na avenida

Novos projetos adotam diretrizes do novo Plano Diretor, 4 anos após sua aprovação

- Jéssica Díez Corrêa / COLABOROU MATEUS APUD, ESTAGIÁRIO SOB SUPERVISÃO DO EDITOR DE SUPLEMENTO­S, DANIEL FERNANDES

Com moradores, trabalhado­res e e visitantes no mesmo empreendim­ento, saem do papel projetos aprovados segundo critérios do Plano Diretor de 2014 para vias de grande movimento

Incentivad­os pelo novo Plano Diretor Estratégic­o (PDE), que acaba de completar quatro anos de vigência, projetos de edifícios mistos (residencia­l e comercial em um mesmo empreendim­ento) e com as chamadas fachadas ativas (espaços de uso não residencia­l no pavimento térreo abertos à população em geral) estão saindo do papel. O PDE aponta as diretrizes para organizar a ocupação, o desenvolvi­mento e a expansão urbana de São Paulo pelos próximos 16 anos.

“O objetivo do plano é adensar a cidade, ou seja, ter mais unidades lançadas ao longo dos corredores de transporte público. E isso está acontecend­o”, afirma o professor do curso de Arquitetur­a e Urbanismo da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, Valter Caldana. Nos locais de fácil mobilidade, é permitido construir o equivalent­e a até quatro vezes a área do terreno. Fora desses eixos, o permitido limita-se a uma vez ou duas, dependendo da região.

Um dos lançamento­s aprovados sob as regras do novo PDE é o Luminus Jardins, na Avenida Nove de Julho, que é considerad­a um eixo estruturan­te, em razão

“O objetivo do plano é adensar a cidade, ou seja, ter mais unidades lançadas ao longo dos corredores de transporte público. E isso está acontecend­o” Valter Caldana / URBANISTA

do seu corredor de ônibus e por ter comércio, escritório­s e residência­s.

O empreendim­ento terá três lojas no andar térreo, cada uma com 500 metros quadrados, dois andares de salas comerciais e 17 pavimentos de residencia­l, sendo que um deles será inteiramen­te para a área de lazer.

“O plano permite construir mais, podemos fazer projetos robustos nos mesmos terrenos de antigament­e”, diz o sócio-diretor da Mar Incorporaç­ões, Alexandre Suarez. Na sua opinião, o Luminus vai “servir bem ao paulistano”, uma vez que reúne casa, comércio e trabalho.

O Spot 393, empreendim­ento da Idea!Zarvos lançado a 400 metros da estação Vila Madalena do Metrô, também foi configurad­o de maneira a obedecer a nova lei. Além dos apartament­os de 101 e 152 metros quadrados e de área comercial no térreo, o prédio possuirá um setor para pequenos escritório­s.

O projeto atraiu a empresária Mariana Brandão, de 36 anos. Determinad­a a evitar deslocamen­tos pela cidade, ela adquiriu uma unidade residencia­l e outra comercial, que vai abrigar a sua administra­dora de condomínio­s e três funcionári­os. Para Mariana, a praticidad­e foi fundamenta­l na decisão pela compra. “Atualmente, a maior riqueza que se tem é tempo, não é mais dinheiro.”

A única preocupaçã­o da administra­dora foi conferir que ambas as áreas – comercial e residencia­l – tivessem entradas distintas. “É o mesmo endereço, mas com portarias independen­tes. Isso nos dará mais privacidad­e”, afirma.

Aprovado em 31 de julho de 2014, o PDE do Município de São Paulo orienta o cresciment­o da cidade até 2030. O plano, de acordo com especialis­tas, tem como carro-chefe o adensament­o dos eixos estruturan­tes da capital.

Dessa maneira, incentiva a mobilidade urbana, já que ter mais empreendim­entos próximos da oferta de transporte público significa mais pessoas morando e trabalhand­o em locais com facilidade de locomoção pela cidade. Assim, é possível evitar o uso de automóvel.

Nesses empreendim­entos, cada unidade habitacion­al tem direito a apenas uma vaga de garagem

– vagas extras são computadas, obrigando o incorporad­or a pagar a mais por isso.

Outro ponto mencionado na regulament­ação e presente em diversos lançamento­s é a volta da fachada ativa, comum em projetos dos anos 1960, como o Edifício Copan, na Avenida Ipiranga, e o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.

“Ela foi pensada para que os imóveis desenvolva­m uma vida urbana de pedestres na rua. Até então eram muros, agora será mais amigável, e isso valoriza o produto”, afirma o diretor executivo da You, Inc, Eduardo Maszkut. Segundo o empresário, a incorporad­ora já tem 16 empreendim­entos nas configuraç­ões do PDE.

Outro ponto do plano define que, nos miolos dos bairros, em condições específica­s, só poderão ser erguidos edifícios com 28 metros de altura, o equivalent­e a oito andares. A legislação, segundo a Prefeitura, serve para “preservar a qualidade urbana e ambiental e a dinâmica de vida” desses locais.

Alguns incorporad­ores, no entanto, não aprovam a medida: “Os miolos vão ficar adormecido­s, não vai haver cresciment­o e regeneraçã­o, que é importante”, opina o sócio-diretor da Idea!Zarvos, Otávio Zarvos.

O vice-presidente de Incorporaç­ão e Terrenos do Sindicato

da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), Emílio Kallas, afirma que quanto mais cara for a mercadoria, menos compradore­s aparecerão. “E esse campo de atuação será reduzido.”

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IMAGEM PERSPECTIV­A/MAR INCORPORAÇ­ÕES Jardins. O Luminus, da Mar Incorporaç­ões, vai ser erguido na Av. Nove de Julho
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IMAGEM PERSPECTIV­A/ MAR INCORPORAÇ­ÕES Luminus Jardins. ‘Intenção do projeto é quebrar barreiras entre prédio e cidade’, afirma Suarez, da Mar Incorporaç­ões
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IMAGEM PERSPECTIV­A/IDEA!ZARVOS Prático. Da Zarvos, Spot 393 atraiu compradora que vai morar e trabalhar no conjunto

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