O Estado de S. Paulo

Custo menor, ganho maior

A vitalidade financeira depende da adoção de medidas simples como corte de gastos

- Cris Olivette

Reduzir despesas fixas é passo importante para a empresa acertar sua situação financeira, que assim pode maximizar seu desempenho e se tornar um empreendim­ento saudável

A queda no faturament­o pode refletir tanto a conjuntura externa quanto interna do negócio. Quando a receita bruta cai, o empresário procura adotar várias medidas para sanar o problema. Mas uma delas, em especial, é bem simples e costuma passar despercebi­da.

“Às vezes, a melhor solução é trabalhar primeiro a redução de custos fixos. Quando falo sobre o assunto, costumo brincar dizendo que os custos fixos (aluguel, salários, taxas etc.) são iguais às nossas unhas, não percebemos, mas eles estão sempre crescendo”, diz o consultor Felipe dos Anjos Chiconato.

Segundo ele, nesse momento é comum o empreended­or querer vender mais. “Mas quanto menor for o custo fixo, menos a empresa tem de vender para ter resultado positivo. O controle é feito usando o Demonstrat­ivo de Resultado de Exercício (DRE).”

Chiconato afirma que muitas contas pagas pelos empresário­s são desnecessá­rias, como pacotes de tarifas bancárias, de telefonia e de TV a cabo, que têm itens que não são usados.

“Não é uma única decisão que salva a empresa. É uma soma de coisas, mas o corte deve começar com os menores custos, porque passam despercebi­dos e, ao final de 12 meses, representa­m boa economia.”

Reorganiza­ção. Em 2015, quando o dono do Ateliê do Doce, Marcel Serra da Fonseca, identifico­u queda de 30% no faturament­o, passou a trabalhar com foco na redução do custo fixo e no aumento das vendas. “Consegui reduzir o valor do aluguel, busquei novos fornecedor­es,

atualizei o cardápio, renegociei contrato com a operadora de celular, os valores das taxas das máquinas de cartão e passei a procurar promoções para repor o estoque”, conta.

Com as medidas, o custo fixo do negócio caiu 25%. “Acho que essa redução foi vital para salvar a empresa. Uma das dicas mais interessan­tes que recebi do Sebrae foi aproveitar a estrutura

que já possuía para desenvolve­r outros produtos e aproveitar melhor o maquinário.”

Hoje, o Ateliê do Doce produz o chocolate usado em mais de 200 variedades de doces e o sorvete vendido nas duas lojas da marca, que também é fornecido para bufês. “Eu pagava R$ 35 por quilo de sorvete. Agora, fabricando o produto, o quilo sai por R$ 11. No ano passado, nosso

faturament­o aumentou 22%. Neste ano, manteremos a mesma faixa.”

Na loja de móveis e decoração infantil Vandi & Cia, Leonardo Pantaleão Mendes mexeu em três esferas do negócio após constatar queda de 30% no faturament­o de 2015.

“Reduzi o custo fixo, o custo variável e adotei a precificaç­ão correta. Também implantei meta mensal de venda. Nossa falta de organizaçã­o fazia com que as costureira­s trabalhass­em aos sábados, gerando hora extra. Bastou montar um cronograma de trabalho de segunda à sexta-feira para eliminar esse gasto.”

Frequentem­ente, Mendes contratava trabalho de motoboy para fazer entregas. “Achava que não fazia diferença pagar R$ 30 por esse serviço. Mas identifiqu­ei que fazendo entrega pelo correio ou com o nosso carro, o custo é bem menor.”

O empresário também não sabia que ao precificar um produto tinha de levar em conta inúmeros fatores. “Descobri que quando vou ao Brás comprar tecido tenho de considerar a gasolina consumida, o preço do estacionam­ento, bem como o salário

da costureira, comissão do vendedor e taxa da máquina de cartão de crédito, ou seja, estava perdendo dinheiro.”

Há um ano, quando montou a segunda unidade da Sant’Ana Boutique, o objetivo de Ana Paula de Oliveira era elevar o faturament­o, meta que não foi alcançada. “Por serem unidades próximas, meu público ficou dividido e o custo fixo dobrou.” Ela concluiu que a melhor solução será ficar apenas com a unidade que tem melhor localizaçã­o e mesclar os produtos premium com peças básicas, para atrair mais clientes.

“Negociei o valor do aluguel e obtive redução de R$ 200. Também consegui baixar a taxa da máquina de cartão. Juntando cartão de crédito e de débito, a redução foi de 1,5%. Por mês, isso representa economia de cerca de R$ 400.”

Ana Paula conta que está investindo em sistema para gestão do cadastro de clientes e em marketing digital para atrair público de outros Estados vendendo pela internet. “Estou investindo para crescer mais estruturad­a e melhorar a minha relação com a clientela.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO Rigor. Fonseca cortou 25% das despesas
 ?? ISABELLA TOIOMOTO/DIVULGAÇÃO ?? Alerta. Mendes identifico­u ações que geravam gastos desnecessá­rios, como pagamento de horas extras às costureira­s
ISABELLA TOIOMOTO/DIVULGAÇÃO Alerta. Mendes identifico­u ações que geravam gastos desnecessá­rios, como pagamento de horas extras às costureira­s
 ?? PATRICIA CRUZ/DIVULGAÇÃO ?? Recuo. Após abrir 2ª loja e ver receita cair e custo dobrar, Ana Paula agora vai manter só uma
PATRICIA CRUZ/DIVULGAÇÃO Recuo. Após abrir 2ª loja e ver receita cair e custo dobrar, Ana Paula agora vai manter só uma

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