O Estado de S. Paulo

Entrevista

- Marcelo Lima / REPORTAGEM GUSTAVO BITTENCOUR­T

Gustavo Bittencour­t

Designer continua a produzir suas peças em ateliê, mas lança no próximo mês dois de seus móveis na Novo Ambiente

Desembarca­m na loja Novo Ambiente de São Paulo, a partir de agosto, as primeiras unidades industrial­izadas da cadeira Iaiá e da poltrona Ioió: duas recentes criações do designer Gustavo Bittencour­t, antes disponívei­s apenas em versões artesanais, produzidas em seu ateliê, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. “No artesanal, os materiais são mais caros, o tempo de produção mais longo, mas há um ganho grande porque é um produto feito por pessoas e, para mim, quando elas colocam a mão no que fazem, elas dão alma ao móvel”, afirma o designer, a quem interessa continuar produzindo suas peças uma a uma, embora, também veja com bons olhos a produção em série. “Ela possibilit­a ampliar a faixa de consumo, obter preços melhores. Só não abro mão da qualidade. Quero que minhas peças sejam o mais atemporal possível, não queremos criar um descarte para daqui cinco ou dez anos”, como ele afirmou nesta entrevista ao Casa.

• O que te levou a fundar o seu ateliê?

Sempre tive o intuito de abrir minha própria empresa, mas desde que eu pudesse focar somente no meu desenho e naquilo que acredito. Trabalhei com Rodrigo Calixto, Marcelo Rosenbaum e Zanini de Zanine. Em escritório­s de arquitetur­a e até em uma metalúrgic­a. Nesse intervalo, também fui estudar na Itália e trabalhei numa galeria em Los Angeles. Aprendi muito nestes lugares. Quando voltei ao Brasil em 2012, passei um ano terceiriza­ndo a produção, mas não fiquei satisfeito. Passei, então, a procurar marcenaria­s para produzir por conta própria. Foi quando encontrei uma indústria de móveis planejados de madeira maciça, em Petrópolis. Havia um galpão subutiliza­do e eles abraçaram o meu projeto. Na semana seguinte eu me mudei e comecei a produzir.

• Como funciona a nova empresa?

Participo um pouco em todas as etapas. Da criação à administra­ção. Temos quatro marceneiro­s na produção. Nossa proposta é desenvolve­r e comerciali­zar. Nossas peças têm um componente artesanal muito forte, mas a escolha dos processos e dos materiais são muito rigorosos. Por exemplo, só usamos acabamento­s feitos com ceras e óleos naturais, para evidenciar o toque e o cheiro da madeira. Embora cada vez mais rara, também mantemos a palha trançada à mão, fio a fio.

• Quais suas habilidade­s manuais, ou seja, o que você consegue executar por conta própria?

O que eu faço melhor é criar, mas consigo executar alguns processos de serralheri­a e marcenaria. Entendo que um ponto fundamenta­l é saber como será executada a peça para poder desenhá-la, uma noção que aprendi na Itália. Diferentem­ente de outras áreas do desenho industrial, como a de produtos, para se construir um móvel depende-se muito de algo ou de alguém.

Por isso, ver uma ideia surgindo e poder transformá-la numa peça que eu mesmo possa produzir, é, para mim, uma das minhas maiores realizaçõe­s.

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c Três faces da poltrona Ioió, produzida de forma artesanal em Petrópolis
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 ??  ?? cCom estrutura metálica, a cadeira Iaiá. À direita, o designer Gustavo Bittencour­t
cCom estrutura metálica, a cadeira Iaiá. À direita, o designer Gustavo Bittencour­t

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