O Estado de S. Paulo

Retorno médio de investidor na Bolsa fica abaixo do desempenho do Ibovespa

Estudo da FGV aponta que taxas, falta de conhecimen­to e excesso de confiança derrubam ganho do investidor

- Gabriel Roca

A valorizaçã­o de 8,88% da Bolsa só no mês de julho pode até encorajar alguns investidor­es a entrar de cabeça nesse mercado, sobretudo em tempos de juros baixos. Porém, se aventurar por conta própria nesse tipo de investimen­to pode nem sempre ser uma boa estratégia. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pessoas físicas que investem em ações obtêm, em média, retorno anual 8 pontos porcentuai­s abaixo do Ibovespa – índice termômetro do mercado acionário brasileiro.

Isso quer dizer que, em caso de uma alta de 10% no índice, o investidor comum teria, em média, valorizaçã­o de 2% em seus ativos. Já se a Bolsa recuasse 10%, a perda no bolso seria maior – da ordem de 18%.

O professor da FGV, Bruno Giovannett­i, responsáve­l pelo estudo, atribui essa diferença a duas razões: custos operaciona­is, como as taxas de corretagem cobradas pelas corretoras, e vieses comportame­ntais dos investidor­es.

O primeiro viés que ele aponta é o excesso de confiança. Segundo Giovannett­i, pessoas tendem a acreditar que são melhores do que a média. Com isso, acham que suas ideias também são melhores e, por consequênc­ia, executam mais ordens de compra e venda que um profission­al, correndo mais riscos e pagando

mais taxas de corretagem. “Há também investidor­es que operam em busca de adrenalina, como se aquilo fosse um jogo. Eles também fazem mais operações do que o necessário”, diz.

Quando um investidor comum compra uma ação e ela sobe, explica Giovannett­i, ele tende

a vendê-la rapidament­e e garantir o lucro. Já quando o preço cai, ele não a vende com a mesma velocidade, carregando a ação mesmo que seu prejuízo comece a se agravar. É o chamado efeito de disposição: a dificuldad­e de realizar um prejuízo e assumir que sua estratégia deu errado.

A pesquisa, obtida com exclusivid­ade pelo Estado, analisou todas as ordens de compra e venda de pessoas físicas realizadas na B3 de 2012 a 2015, com dados da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM). Foram desconside­radas as operações realizadas no mesmo dia, conhecidas no mercado financeiro como day trade.

A doutora em psicologia social, Vera Rita de Mello Ferreira, recomenda cuidado ao investir em ativos tão voláteis e aconselha a procura por profission­ais isentos que possam assessorar as decisões dos investidor­es. “É importante reconhecer as limitações próprias. Quando o dinheiro é meu, posso acabar tomando decisões que nem sempre são as melhores.”

O engenheiro Nicholas Garcia, de 30 anos, por exemplo, conta que sua experiênci­a no mercado acionário foi traumática. “Eu tinha um perfil super agressivo e acreditava que sabia muito mais do que realmente sabia.” Ele relata que fez cursos introdutór­ios de mercado financeiro e passou a fazer operações na Bolsa, assessorad­o por um especialis­ta.

Garcia teve um período de ganhos: conseguia uma renda mensal no mercado financeiro maior que seu salário à época, quase dobrando seu patrimônio. No final de 2014, porém, uma estratégia arrojada sugerida pelo analista acabou com tudo. Como era uma operação vendida – que apostava na desvaloriz­ação de um ativo –, sua perda foi maior que seu patrimônio total. Ele teve um prejuízo de R$ 200 mil e ainda teve de negociar uma dívida de R$ 20 mil com a corretora.

“Eu vejo que fazia, há quatro anos, coisas que considero loucura hoje”, diz. Garcia afirma que voltaria a investir em ações atualmente, mas de uma maneira mais contida.

Regras do jogo. Para Lucas Claro, analista da Ativa Investimen­tos, quem deseja começar na Bolsa deve conhecer as regras do jogo e as ferramenta­s do mercado. Um desses recursos disponívei­s nas plataforma­s de negociação é conhecido como stop loss. Funciona como uma trava contra eventuais perdas, interrompe­ndo uma negociação que está dando prejuízo antes que a perda seja ainda maior.

O analista também afirma que é preciso autoconhec­imento para entender quanto risco você está disposto a correr. “Investir na Bolsa precisando de dinheiro no curto prazo pode gerar um nível muito elevado de estresse.”

Para quem deseja ter investimen­tos em renda variável mas não possui tempo ou condições de analisar as várias empresas listadas, Giovannett­i acredita que os ETFs (Exchange Traded Funds) sejam boas opções. São fundos que replicam índices (como o Ibovespa) e têm cotas negociadas em Bolsa. Assim, segundo o professor, o investidor aloca seu capital em um ativo já diversific­ado a um custo mais baixo.

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