O Estado de S. Paulo

Brasileiro­s, segundo o general Mourão

Declaração foi feita em Caxias do Sul, na primeira agenda do general como candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro; ele nega racismo

- STRAZZER / LUIZ RAATZ e FILIPE

Em declaração feita ontem em Caxias do Sul (RS), o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), ligou indígenas à “indolência” e africanos à “malandrage­m”.

Candidato à Vice-Presidênci­a da República na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão disse ontem que o Brasil herdou a cultura de privilégio­s dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandrage­m dos africanos. A declaração foi feita em um evento em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando Mourão falava sobre as condições de subdesenvo­lvimento do País e da América Latina.

“E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégic­o. Mas tem uma dificuldad­e para transforma­r isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’ aqui no nosso país, infelizmen­te”, disse Mourão. “Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandrage­m. Nada contra, mas a malandrage­m é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural.”

Mourão participou de almoço da Câmara de Indústria e Comércio da cidade na primeira agenda de campanha dele como vice na chapa de Bolsonaro. A declaração foi antecipada pelo site da revista Veja e confirmada pelo Estado.

No evento, o general também afirmou ser favorável à democracia e voltou a dizer que “intervençã­o militar não é varinha mágica”, apesar de tê-la defendido no passado. Em setembro passado, Mourão chegou a falar na possibilid­ade de intervençã­o militar caso as instituiçõ­es do País não resolvam a crise política, “retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos”. Anteontem, no evento que referendou seu nome para a vice de Bolsonaro, ele admitiu que não foi “feliz na forma como disse isso” e que isso deu “margem para outras interpreta­ções”.

O general da reserva negou que seu comentário tenha sido racista. “Quiseram colocar que o Bolsonaro é racista, agora querem colocar em mim. Não sou racista, muito pelo contrário. Tenho orgulho da nossa raça brasileira”, afirmou. “O que eu fiz foi nada mais nada menos que mostrar que nós, brasileiro­s, somos uma amálgama de três raças, a junção do branco europeu com o indígena que habitava as Américas e os negros africanos que foram trazidos para cá”, disse.

Ele disse ter criticado também os portuguese­s: “Eu falei que a herança de privilégio­s é ibérica, do português que gosta de ter privilégio­s”. Repercussã­o. A fala do general foi criticada por presidenci­áveis. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, afirmou que Bolsonaro e Mourão “se merecem”. “Quando o preconceit­o se junta com a estupidez o resultado é esse”, criticou nas redes sociais. A candidata da Rede, Marina Silva, também avaliou o comentário como preconceit­uoso. “Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidenci­al.”

Já Bolsonaro se desvencilh­ou da declaração de seu vice. “Ele que explique para vocês, se é que ele falou. Eu não tenho nada a ver com isso”, disse (mais informaçõe­s nesta página).

Sobre a crítica de Marina, Mourão disse que respeita a concorrent­e. “Gostaria de sentar e conversar com a Marina, porque aí talvez ela entendesse quem eu sou e não tecesse comentário­s sem conhecer a pessoa. Eu tenho muito respeito por ela, que teve uma origem difícil e por seu mérito ocupa uma posição de destaque no cenário nacional.”

‘Herança’

“Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandrage­m. Nada contra, mas a malandrage­m é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural.” Hamilton Mourão

CANDIDATO À VICE-PRESIDÊNCI­A

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Rio. Em evento, Jair Bolsonaro disse que seu eventual governo terá ‘um montão’ de militares

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