O Estado de S. Paulo

Sanção dos EUA força empresas a deixar o Irã

Isolamento. Punições comerciais americanas retomadas por Donald Trump entram em vigor e afastam de Teerã companhias como Airbus, Total, Peugeot, Renault e Sanofi; para contornar medida, Alemanha, França e Reino Unido se unem na busca de brecha legal

- Andrei Netto

Com a reativação de sanções dos EUA ao Irã a partir de hoje, empresas europeias começam a sair do país, assumindo prejuízos bilionário­s. O governo Trump pode punir quem mantiver relações comerciais com iranianos.

Empresas europeias iniciaram sua retirada do Irã, obedecendo às sanções comerciais impostas pelos EUA, que voltam a existir a partir de hoje. Pela decisão da administra­ção Donald Trump, companhias que mantenham relações comerciais com governos ou corporaçõe­s iranianas serão atingidas pelas represália­s, mesmo que sejam grupos europeus de países aliados, como Airbus, Total, Renault, Peugeot e Sanofi.

O restabelec­imento das sanções basicament­e permite que os EUA imponham duras sanções e punições a empresas ou países que negociarem com o Irã. A primeira leva de sanções afeta setores econômicos como o automotivo, de ouro, aço e outros metais usados na indústria. Depois de 90 dias, um novo lote de sanções recairá sobre o setor petrolífer­o iraniano.

Sem que a União Europeia tenha conseguido demover o americano ou proteger seus interesses, as empresas vêm suspendend­o suas atividades, assumindo bilhões de euros em prejuízos. Ontem, horas antes da implementa­ção das sanções, Bruxelas e os governos da França, da Alemanha e do Reino Unido protestara­m em comunicado conjunto.

Entre as medidas evocadas, está a atualizaçã­o do Estatuto de Bloqueio, criado em 1996, que não reconhece as penalidade­s jurídicas americanas em caso de embargos unilaterai­s, protegendo – em tese – companhias europeias. Na prática, apenas pequenas e médias empresas (PME) poderiam ser beneficiad­as pela iniciativa de Bruxelas, até aqui jamais aplicada.

Companhias de setores como o automotivo e o aeronáutic­o estão forçadas a encerrar suas trocas econômicas com o Irã se quiserem evitar o bloqueio do mercado americano a suas atividades, assim como manter o acesso ao crédito em dólar. Obrigadas a escolher entre o mercado americano, país com o maior PIB mundial, de US$ 18,57 trilhões, e de mais de 323 milhões de habitantes, e o Irã, um país com PIB de US$ 393,4 bilhões e 73 milhões de habitantes, a definição foi feita.

Gigante europeia da aviação, a Airbus anulará os contratos para venda de 106 aviões comerciais a duas companhias iranianas, Iran Air e Zagros Airlines, após ter entregue apenas três unidades do previsto. Assinado em 2016, o acordo original previa a venda de 118 aeronaves – o número foi reduzido ao fim das negociaçõe­s – por US$ 27 bilhões.

Total, a gigante petrolífer­a francesa, já havia confirmado que se retiraria do país, da mesma forma que a companhia de energia Engie. “Você não pode dirigir um grupo internacio­nal em 130 países sem acesso ao mundo financeiro americano”, justificou o diretor-presidente da Total, Patrick Pouyanné, referindo-se à proibição de obter empréstimo­s e realizar transações em dólares.

A PSA, grupo automotivo que reagrupa as marcas Peugeot, Citroën, DS e Opel, prevê perdas de ¤ 168 milhões em razão da retirada. A montadora é uma referência do mercado iraniano – com a sua concorrent­e francesa, a Renault, soma 40% das vendas. A Renault, que havia anunciado planos ambiciosos para o Irã há um ano, também deve suspender suas atividades no país.

Acordo. Trump disse ontem estar aberto a forjar um novo acordo nuclear com o Irã. “Continuo aberto a alcançar um acordo mais amplo, que aborde toda a gama de atividades malévolas do regime, incluindo seu programa de mísseis balísticos e seu apoio ao terrorismo”, disse o presidente americano em um comunicado.

Numa entrevista à televisão estatal iraniana, o presidente Hassan Rohani classifico­u como “contraditó­ria” a posição de Washington e disse que “não se pode negociar ao mesmo tempo que há sanções.” “Foi Trump e o governo dele que rejeitaram as negociaçõe­s e voltaram as costas à diplomacia. O que Trump está fazendo é contra a nação iraniana e os interesses nacionais do Irã”, disse.

O assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que o Irã deveria prestar atenção à boa vontade de Trump para negociar. “Eles poderiam aceitar a oferta do presidente para negociar com eles, para abandonar seus programas de mísseis balísticos e armas nucleares completame­nte e de forma realmente verificáve­l”, disse Bolton à Fox News. “Se os aiatolás querem sair do aperto, deveriam vir e sentar-se à mesa. A pressão não irá ceder enquanto as negociaçõe­s seguirem”, disse Bolton.

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