Sanção dos EUA força empresas a deixar o Irã
Isolamento. Punições comerciais americanas retomadas por Donald Trump entram em vigor e afastam de Teerã companhias como Airbus, Total, Peugeot, Renault e Sanofi; para contornar medida, Alemanha, França e Reino Unido se unem na busca de brecha legal
Com a reativação de sanções dos EUA ao Irã a partir de hoje, empresas europeias começam a sair do país, assumindo prejuízos bilionários. O governo Trump pode punir quem mantiver relações comerciais com iranianos.
Empresas europeias iniciaram sua retirada do Irã, obedecendo às sanções comerciais impostas pelos EUA, que voltam a existir a partir de hoje. Pela decisão da administração Donald Trump, companhias que mantenham relações comerciais com governos ou corporações iranianas serão atingidas pelas represálias, mesmo que sejam grupos europeus de países aliados, como Airbus, Total, Renault, Peugeot e Sanofi.
O restabelecimento das sanções basicamente permite que os EUA imponham duras sanções e punições a empresas ou países que negociarem com o Irã. A primeira leva de sanções afeta setores econômicos como o automotivo, de ouro, aço e outros metais usados na indústria. Depois de 90 dias, um novo lote de sanções recairá sobre o setor petrolífero iraniano.
Sem que a União Europeia tenha conseguido demover o americano ou proteger seus interesses, as empresas vêm suspendendo suas atividades, assumindo bilhões de euros em prejuízos. Ontem, horas antes da implementação das sanções, Bruxelas e os governos da França, da Alemanha e do Reino Unido protestaram em comunicado conjunto.
Entre as medidas evocadas, está a atualização do Estatuto de Bloqueio, criado em 1996, que não reconhece as penalidades jurídicas americanas em caso de embargos unilaterais, protegendo – em tese – companhias europeias. Na prática, apenas pequenas e médias empresas (PME) poderiam ser beneficiadas pela iniciativa de Bruxelas, até aqui jamais aplicada.
Companhias de setores como o automotivo e o aeronáutico estão forçadas a encerrar suas trocas econômicas com o Irã se quiserem evitar o bloqueio do mercado americano a suas atividades, assim como manter o acesso ao crédito em dólar. Obrigadas a escolher entre o mercado americano, país com o maior PIB mundial, de US$ 18,57 trilhões, e de mais de 323 milhões de habitantes, e o Irã, um país com PIB de US$ 393,4 bilhões e 73 milhões de habitantes, a definição foi feita.
Gigante europeia da aviação, a Airbus anulará os contratos para venda de 106 aviões comerciais a duas companhias iranianas, Iran Air e Zagros Airlines, após ter entregue apenas três unidades do previsto. Assinado em 2016, o acordo original previa a venda de 118 aeronaves – o número foi reduzido ao fim das negociações – por US$ 27 bilhões.
Total, a gigante petrolífera francesa, já havia confirmado que se retiraria do país, da mesma forma que a companhia de energia Engie. “Você não pode dirigir um grupo internacional em 130 países sem acesso ao mundo financeiro americano”, justificou o diretor-presidente da Total, Patrick Pouyanné, referindo-se à proibição de obter empréstimos e realizar transações em dólares.
A PSA, grupo automotivo que reagrupa as marcas Peugeot, Citroën, DS e Opel, prevê perdas de ¤ 168 milhões em razão da retirada. A montadora é uma referência do mercado iraniano – com a sua concorrente francesa, a Renault, soma 40% das vendas. A Renault, que havia anunciado planos ambiciosos para o Irã há um ano, também deve suspender suas atividades no país.
Acordo. Trump disse ontem estar aberto a forjar um novo acordo nuclear com o Irã. “Continuo aberto a alcançar um acordo mais amplo, que aborde toda a gama de atividades malévolas do regime, incluindo seu programa de mísseis balísticos e seu apoio ao terrorismo”, disse o presidente americano em um comunicado.
Numa entrevista à televisão estatal iraniana, o presidente Hassan Rohani classificou como “contraditória” a posição de Washington e disse que “não se pode negociar ao mesmo tempo que há sanções.” “Foi Trump e o governo dele que rejeitaram as negociações e voltaram as costas à diplomacia. O que Trump está fazendo é contra a nação iraniana e os interesses nacionais do Irã”, disse.
O assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que o Irã deveria prestar atenção à boa vontade de Trump para negociar. “Eles poderiam aceitar a oferta do presidente para negociar com eles, para abandonar seus programas de mísseis balísticos e armas nucleares completamente e de forma realmente verificável”, disse Bolton à Fox News. “Se os aiatolás querem sair do aperto, deveriam vir e sentar-se à mesa. A pressão não irá ceder enquanto as negociações seguirem”, disse Bolton.