Primo de Macri diz ter pago propina a kirchneristas
Nome de Ángelo Calcaterra está nos cadernos de motorista do kirchnerismo que anotou subornos
O primo do presidente argentino Mauricio Macri, o empresário Ángelo Calcaterra, reconheceu ontem ter pago suborno a funcionários dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), em troca de benefícios para obter concessões de obras públicas. O escândalo, que envolve diversos empresários, veio à tona na semana passada e ameaça respingar no presidente argentino.
Calcaterra é ex-proprietário da empresa de construção IECSA e tornou-se um dos principais empreiteiros do país nos anos Kirchner. No período, ganhou o apelido de “príncipe das obras públicas”. Ele compareceu diante da Justiça por ter sido mencionado nos chamados “diários da corrupção”, os oito cadernos em que o ex-motorista da cúpula do kirchnerismo Oscar Centeno anotou detalhes de pagamentos de propinas.
O empresário admitiu ter ordenado o pagamento. Segundo o jornal Clarín, Calcaterra disse que foi pressionado pelos funcionários kirchneristas a pagar para continuar com suas obras. Calcaterra assegurou a um dos promotores do caso, Carlos Stornelli, que fornecerá informações reais e verificáveis sobre os subornos.
A dúvida é até onde o escândalo envolvendo um parente tão próximo e empresas de construção ligadas a sua família pode afetar Macri. Apesar de o processo se debruçar sobre o governo Kirchner, a IECSA também foi beneficiada com obras na presidência de Macri.
Ao se apresentar de forma espontânea, Calcaterra pode pedir proteção da Justiça na condição de “arrependido”, o que lhe permitirá ficar em liberdade. Ele negocia com o juiz do caso os benefícios legais de uma delação premiada.
Calcaterra é filho de María Pía Macri, irmã de Franco Macri, pai do presidente argentino e criador do Grupo Macri, o império de empresas de construção, automotivas e coletoras de lixo. Calcaterra não é um primo qualquer – era o sobrinho preferido de Franco. Tanto que ele repassou a Ángelo, por preços modestos, duas joias de seu império: a IECSA e a construtora Creaurban, dona de 200.000 metros quadrados de casas de luxo.
No ano passado, Calcaterra havia decidido se afastar das empresas, depois da revelação de um escândalo envolvendo a obra do metrô de Sarmiento, em Buenos Aires, feita pela IECSA em parceria com a Odebrecht.