Impasse entre EUA e China é sentido na Alemanha
Dados da economia alemã apontam que a atividade industrial registrou queda importante em junho
A guerra comercial começou a fazer suas primeiras vítimas. Dados oficiais apontaram ontem que as atividades industriais da maior economia da Europa, a alemã, sofreram uma queda importante no mês de junho. A contração foi a maior em mais de um ano e meio, indicando que a tensão comercial iniciada pelo presidente americano, Donald Trump, poderá ter um impacto na economia real.
Se a guerra comercial é essencialmente entre China e EUA, as empresas da Alemanha se deram conta que podem ser afetadas duplamente. Os americanos são os maiores compradores de produtos alemães, enquanto a China é o maior parceiro comercial, por conta da importação alemã de bens de Pequim.
De acordo com os dados oficiais do governo alemão, a carteira de pedidos para a indústria em junho sofreu queda de 4,0%. A contração foi dez maior que a previsão do mercado. O principal motivo da queda foi a redução da demanda externa, em 4,7%. Foram as importações de fora da zona do euro que pesaram mais na queda. A retração, nesse caso, foi de 5,9%.
“Em relação aos últimos acontecimentos, as incertezas causadas pela política comercial provavelmente tiveram seu papel”, apontou um comunicado do Ministério da Economia da Alemanha, em referência às medidas adotadas por Trump.
Além das tarifas impostas pelos americanos contra o aço europeu, a Alemanha também acabou se prejudicando diante das incertezas sobre como ficariam as regras comerciais entre os dois maiores pilares da economia mundial. “Os novos dados decepcionantes mostram sinais iniciais da tensão comercial afetando a economia alemã, o que não é bom para as previsões industriais no segundo semestre do ano”, indicou o economista do ING Bank, Carsten Brzeski.
Os dados foram publicados no mesmo dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou sobre a relutância da Alemanha em reduzir seu superávit comercial, o que estaria contribuindo para as tensões comerciais e pondo riscos a estabilidade financeira global.
Numa entrevista ao jornal Die Welt, o economista-chefe do FMI, Maury Obstfeld, advertiu que “em países com superávit, como a Alemanha, temos visto medidas hesitantes para conter esse desequilíbrio.”
No mês passado, Trump concordou em aplicar tarifas de importação contra carros europeu, enquanto os dois lados negociam um acordo. Quem respirou aliviado com o acordo entre os americanos e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi justamente a indústria de veículos da Alemanha.