A felicidade de cada parada no caminho
Pronto: acabou a temporada náutica de Mr. Miles no Mediterrâneo. Depois de quarenta dias de navegação segura (graças aos conselhos que recebeu de seu amigo Amyr Khan Klynk no Brasil), nosso correspondente britânico e sua companheira Trashie desembarcaram no porto de Calvi, na Córsega. O viajante voltou a encantarse com a beleza da ilha francesa – de sua comida e seus vinhos também – embora considere que os corsos não sejam gauleses.
Durante o período no mar, Miles admite que voltou a adquirir um tom de pele semelhante ao que adquiriu quando serviu no Saara sob o comando do marechal Bernard Montgomery. Durante a Segunda Grande Guerra, claro.
A seguir, a correspondência da semana:
Prezado “Sir” Miles: pelo seu modo de ver a vida, deduzo que o senhor foi psicólogo da família real inglesa. Em homenagem à sua coluna, é certo que nossa vida na terra é uma viagem – a propósito, me vem à mente este pensamento (ou provérbio): “a felicidade não é uma estação a que se chega, mas um modo de viajar”. Aliás: existem pessoas que o senhor despreza?
Dionysio Vecchiatti, por e-mail
Thank you, Dionysio. Sou muito amigo de nossa querida rainha, mas, unfortunately, não tenho habilidades em psicologia formal e nada fiz para justificar que me dessem o título de cavaleiro da Coroa. Não sou Sir, portanto. Sobre o provérbio que você menciona, acho ele bonito, mas tendo a pensar que pode haver muita felicidade em cada parada (ou estação) de nossa jornada. Por isso, by the way, viajo.
Sobre a última parte de sua questão, acho que posso me considerar um cidadão pacífico, que não alimenta desprezos. Há, sim, arquétipos que me desagradam pelo que podem fazer de mal aos seus semelhantes. Como diz meu amigo Lord Walter Nephew, há certas pessoas que “nem sequer valem o chão em que pisam”.
Acho a frase um tanto radical. Don’t you agree?
Não simpatizo, as you know, com nacionalistas, sobretudo os extremados. Mas trata-se de um defeito curável: basta que eles viajem para se universalizarem. Assim, quem sabe, saiam da jaulinha embandeirada em que vivem.
Outros defeitos são ainda mais deletérios. A desonestidade é um deles, of course. Não me refiro à corrupção que corrói a humanidade, mas a comportamentos pessoais. Quando aliada ao embuste e à exibição, torna-se uma doença perigosa. Há um editor que se propôs a publicar minhas crônicas na França e enganoume dolosamente.
Claude Mellony is his name – e depois soube que o canaille se notabilizou por não pagar seus compromissos. Mellony tem uma editora sombria com poucos funcionários ditos jornalistas – embora trate-se apenas de uma súcia de analfabetos arrogantes e, as their boss, venais.
Para conseguir sobreviver, o inescrupuloso editor contratou, para sua empresa, uma horda de belas mulheres de vida fácil e virtude difícil – com a função de conseguir verbas em troca de favores sexuais ou aparentados. In other words: um bordel jornalístico. Can you believe me?
Há, as well, em seu lindo país (adoro o Brasil, as you know), uma figura pública de baixa relevância chamada Fábio Pardo. Trata-se de um mentiroso contumaz, que não denigre seus amigos com más intenções. Apenas o faz para seu próprio inexplicável gáudio.
Não desprezo gente assim. Apenas não nutro qualquer empatia com suas atitudes. However, como sempre digo, o melhor é ser um viajante. Quem peregrina pelo mundo evita conviver longamente com gente de má índole. Quando eles começam a exasperá-lo, thank God, você já está na sala de embarque – pronto para descobrir, em qualquer outra parte, que há muito mais gente interessante no mundo do que seres desprezíveis.
Don’t you agree?
‘Quem peregrina pelo mundo evita conviver longamente com gente de má índole’