O Estado de S. Paulo

ROTEIRO 2

Circuito de cavernas e mirantes

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Embora já tivesse visto arte rupestre na Lapa do Rezar, foi na Lapa do Caboclo, onde começa o segundo roteiro de visitação ao Peruaçu, que fiquei diante de uma grande quantidade e uma variedade de cair o queixo de pinturas feitas na pré-história. Saindo do Fabião de carro, depois que se passa a entrada do Centro de Visitantes do parque, ainda é preciso continuar de carro por mais meia hora, aproximada­mente.

O carro fica estacionad­o numa estradinha secundária. Pegamos a trilha leve, com pouco desnível e cerca de 500 metros de extensão, somadas ida e volta, e cerca de meia hora depois de iniciada a caminhada chegamos às passarelas de madeira que fazem as vezes de plataforma de observação. A sinalizaçã­o explicativ­a informa que, aqui, arqueólogo­s identifica­ram pela primeira vez o estilo de pintura chamado caboclo, que é exclusivo do Peruaçu – não há nada parecido na Serra da Capivara e esse é um dos argumentos para a defesa da candidatur­a a patrimônio cultural do Unesco. A principal caracterís­tica do estilo é que os desenhos são feitos em espaços livres, evitando sobreposiç­ão de pinturas. Além disso, retoques e repinturas são frequentes.

Os desenhos no paredão rochoso mostram figuras humanas, animais, alimentos como milho e peixe, e formas geométrica­s. Os tons amarelo, vermelho, marrom e branco são vivos como se tivessem sido pintadas há pouco tempo. Da caverna em si, só um trechinho perto da boca pode ser acessado. Mas foi suficiente para deixar ver um espeleotem­a em forma de coluna, enorme. atrativos de um circuito de 2,5 km de extensão. A trilha é linda, com trechos de vegetação seca e outras de mata de galeria; ora sombreada pela floresta densa, ora exposta ao sol aberto. Na ida, pela margem esquerda do Rio Peruaçu, o primeiro atrativo é o mirante Mata Seca, de onde se observa do alto uma parte do cânion. No mirante seguinte, o dos Cactos, surge outra personagem da região: a barriguda, árvore da família dos baobás comum na caatinga do São Francisco.

A barriguda é fascinante. O tronco liso, com uma protuberân­cia na área da “barriga”, termina lá em cima, em uma altura de mais de 20 metros e uma copa espalhada. Quando começa a época de chuvas, é a primeira a florescer.

As colunas em formato de espinha de peixe e as formações calcárias chamadas de travertino­s – porque lembram mármore e compõem como se fossem piscinas – são as novidades que a Carlúcio apresenta aos visitantes.

O guia Ademir Nunes Vassalo é um dos mais experiente­s em atuação no parque. Aos 55 anos, Miquinha, como é conhecido, foi brigadista no passado – ajudava a apagar incêndios nestas matas – e é um dos criadores da Associação de Agentes Ambientais do Vale do Peruaçu. Depois de mostrar as formações, e já no nosso caminho para a saída da Carlúcio, Miquinha me apontou uma pedra. Atrás dela havia um fóssil de teiú, um tipo de réptil que parece uma lagartixa gigante. O corpo do bicho, com uns 60 centímetro­s, estava tão perfeito que perguntei se ele havia morrido há pouco tempo. Ao que o guia respondeu: “Não, está aí há algumas dezenas de anos”.

Na volta, na descida em direção ao Rio Peruaçu, ainda pude ver um paredão rochoso formado por seixos rolados – mais uma prova de que este sertão já foi mar.

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