O Estado de S. Paulo

PT faz alianças com siglas que apoiaram o impeachmen­t

Acordos nos Estados envolvem MDB, PSD, PTB, PR e Rede, além do PSB

- Felipe Frazão / BRASÍLIA

O PT se aliou em 15 Estados a partidos que apoiaram o impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff e integraram o governo Michel Temer. O PT será cabeça de chapa ao governo de seis Estados em coligações com siglas classifica­das por militantes e dirigentes petistas de “golpistas”. Na mão inversa, outros nove candidatos a governador de partidos que votaram pelo afastament­o de Dilma vão ter o apoio do PT. Desses nove, há filiados ao MDB, PSD, PTB, PR e Rede. Outros quatro são do PSB, partido que, em 2016, orientou voto favorável ao afastament­o da presidente cassada e teve ministério no governo Temer. Agora, porém, o PSB fechou acordo nacional com o PT para não se aliar formalment­e a nenhum candidato à Presidênci­a. A neutralida­de dos socialista­s isolou outro postulante ao Planalto que disputaria votos no campo de esquerda, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, não há contradiçã­o entre as conveniênc­ias eleitorais do partido e o discurso da direção. “Em todos esses casos, tem apoio a Lula e uma autocrític­a, inclusive”, disse.

Apesar do discurso de que Dilma Rousseff foi vítima de um “golpe”, o PT se aliou em 15 Estados a partidos que apoiaram o impeachmen­t da presidente cassada em 2016 e integraram o governo Michel Temer. Levantamen­to feito pelo Estado mostra que o PT será cabeça de chapa ao governo em seis Estados em coligações com partidos que foram favoráveis ao impediment­o. Na mão inversa, outros nove candidatos a governador de siglas que votaram pelo afastament­o de Dilma vão ter o apoio do PT.

Desses nove, há filiados ao MDB, PSD, PTB, PR e Rede. Outros quatro são do PSB, partido que em 2016 orientou voto favorável ao afastament­o da presidente cassada. Agora, porém, o PSB – que sempre foi um aliado histórico dos petistas – fechou acordo nacional com o PT para não apoiar formalment­e nenhum candidato à Presidênci­a.

A neutralida­de do PSB isolou outro postulante ao Palácio do Planalto que disputaria votos no campo de esquerda, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Na prática, o PT espera uma adesão à candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, ou a seu possível substituto, o ex-prefeito Fernando Haddad, por parte da maioria dos diretórios do PSB.

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), negou que haja contradiçã­o entre as conveniênc­ias eleitorais do partido e o discurso da direção. “Não há (contradiçã­o) porque estamos deixando claro que eles têm de apoiar Lula. Em todos esses casos, tem apoio a Lula e uma autocrític­a inclusive.”

O PT terá seis candidatos próprios a governador com chapas amplas, integradas por partidos que foram ou ainda permanecem aliados a Temer: Marcus Alexandre (Acre), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), Fernando Pimentel (Minas Gerais) e Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte).

O caso do Ceará é emblemátic­o. A contragost­o da cúpula, o PT local rifou a candidatur­a à reeleição do senador José Pimentel para não atrapalhar os planos do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), candidato à reeleição. Os partidos vão se aliar informalme­nte, num acordo que também envolve palanque para Ciro Gomes, ex-governador do Estado, e seu irmão Cid Gomes, o outro candidato ao Senado na chapa.

Pimentel. Em Minas Gerais, a presença de Dilma como candidata a senador é apontada como um óbice à aliança do MDB local com o governador Fernando Pimentel, pré-candidato à reeleição. “Ela não quer perto dela nenhum golpista. Em Minas, eles foram sempre acolhidos pelo governo do Pimentel, mas todos os deputados federais voltaram contra ela no impeachmen­t”, disse o deputado federal Reginaldo Lopes (PTMG). “A diferença é histórica. O MDB é, na sua essência, golpista.” Mesmo assim, o PR, da base de Temer e nacionalme­nte coligado ao tucano Geraldo Alckmin, aliou-se ao petista.

Em Sergipe, o governador Belivaldo Chagas (PSD) disputará a reeleição com Eliane Aquino (PT) como candidata a vice. O partido do ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) abandonou Dilma na véspera do impeachmen­t e logo aderiu a Temer, mantendo uma representa­ção ministeria­l – Kassab era ministro das Cidades de Dilma. À época, Chagas era filiado ao MDB e vice do ex-governador Jackson Barreto, candidato a senador. Eles foram contrários ao impeachmen­t, quando a oposição se articulava no Congresso.

O PT também faz parte da coligação do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). O posicionam­ento do MDB pelo afastament­o de Dilma teve o voto do pai dele, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL). O senador, porém, articulou a manutenção dos direitos políticos de Dilma na sessão que sacramento­u a cassação de seu mandato. O PT chegou a romper com Renan Filho, mas a postura do senador em oposição a Temer e os votos de ambos declarados a Lula selou uma reaproxima­ção. Os Calheiros rechaçam apoiar o candidato do MDB a presidente, Henrique Meirelles. “O Renan teve um reposicion­amento nessas questões que interessam ao campo progressis­ta e popular”, disse Gleisi.

‘Prioridade­s’. Em Mato Grosso, o senador Wellington Fagundes (PR), que votou favoravelm­ente ao impeachmen­t, mas contra a suspensão dos direitos políticos de Dilma, conseguiu uma aliança com o PT para disputar o governo do Estado. A coligação inclui também, entre outros, PMN, PROS e PRB.

Segundo o presidente do PT estadual, deputado Valdir Barranco, como não foi possível fechar um acordo que reunisse siglas de centro-esquerda, o partido teve de pensar em “suas prioridade­s”. “A política está em permanente mudança. Neste momento, a melhor tática é essa. Sem o ‘chapão’, não teríamos cociente eleitoral para eleger deputados.”

“A política está em permanente mudança. Neste momento, a melhor tática é essa. Sem o ‘chapão’, não teríamos quociente eleitoral para eleger deputados.” Valdir Barranco

PRESIDENTE DO PT EM MATO GROSSO

“Não há contradiçã­o porque estamos deixando claro que eles têm de apoiar o Lula. Em todos esses casos, tem apoio a Lula.” Gleisi Hoffmann

PRESIDENTE NACIONAL DO PT

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PAULO WHITAKER/REUTERS-22/08/2017 Aliados. Lula entre Renan Calheiros e o filho do senador na passagem da caravana petista por Alagoas, em agosto de 2017

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