O Estado de S. Paulo

40,9% buscam autodiagnó­stico na internet, diz levantamen­to

Saúde. Pesquisa realizada em todas as capitais do País mostra que 55% das pessoas desse grupo pertencem às classes A e B, resultado que surpreende­u os autores do estudo. Entre os motivos está o imediatism­o, principalm­ente da geração de 16 a 34 anos

- Paula Felix

Uma parcela de 40,9% dos brasileiro­s busca autodiagnó­stico sobre problemas de saúde na internet. Resultado é de levantamen­to do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), entidade de pesquisa e pós-graduação na área farmacêuti­ca. Pacientes das classes A e B, com curso superior, e jovens integram esse grupo.

Pessoas das classes A e B, com curso superior e jovens, são o perfil dos pacientes que usam a internet para se autodiagno­sticar, segundo levantamen­to do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), entidade de pesquisa e pós-graduação na área farmacêuti­ca. O terceiro estudo do instituto sobre o tema apontou que 40,9% dos brasileiro­s fazem autodiagnó­stico pela internet. Desses, 63,84% têm formação superior.

A última edição do estudo, de 2016, já apontava patamar de 40% de autodiagnó­stico online, mas dessa vez foi traçado o perfil socioeconô­mico. “É uma novidade e nos surpreende­u muito, porque imaginávam­os que quem se autodiagno­sticava eram pessoas que não têm acesso ao médico. Mas são das classes A e B, esclarecid­as e com poder econômico para buscar informação de saúde mais concreta e consciente”, diz Marcus Vinicius Andrade, diretor de pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêuti­co do ICTQ.

Entre os que fazem autodiagnó­stico 55% são das classes A e B e 26%, das classes D e E. “Pessoas de baixa renda ainda buscam mais o médico em prontos-socorros. Quanto mais idosas, mais recorrem ao médico, pois têm dificuldad­e com a internet de modo geral.” O levantamen­to foi feito em maio em 120 municípios, incluindo todas as capitais, e ouviu 2.090 pessoas com mais de 16 anos. Para os pesquisado­res, o imediatism­o está entre as motivações, principalm­ente na geração de 16 a 34 anos.

A professora Isabella Oku, de 28 anos, é um exemplo. “Evito ir a consultas em relação a certos sintomas, coisas que não são tão graves, como alergias.” Há cerca de oito meses, ela está com um desconfort­o na unha, que coça sempre que vai à manicure. Isabella pesquisou na internet uma pomada, que está usando. “Não quero precisar esperar o médico ter disponibil­idade para me atender.”

Na semana passada, com dor de garganta, já chegou ao consultóri­o dizendo que estava com amidalite. “Tomei antibiótic­o e não adiantou nada. O médico falou que eu estava resfriada e isso é muito genérico.”

Riscos. Denize Ornelas, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, diz que o número de pacientes que chegam aos consultóri­os com autodiagnó­stico e automedica­ção é crescente. “O maior impacto é quando chegam por efeitos colaterais ou interação medicament­osa”, diz. “A maior parte das doenças começa com dor, febre, indisposiç­ão, sintomas mais gerais. Se o paciente se automedica e não espera a progressão, pode mascarar uma doença. Dor abdominal pode ser azia e má digestão, mas, se você faz uso constante de antiácido, pode retardar um diagnóstic­o de câncer de estômago. É raro, mas pode acontecer.”

Em 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) definiu os critérios para que remédios pudessem ser isentos de prescrição médica. Não ter potencial para causar dependênci­a, não ter indicação para doenças graves e ser tomado por prazo curto estão entre os requisitos. “São feitos para sintomas menores, como dor de cabeça, indisposiç­ão estomacal”, diz Marli Sileci, da Associação da Indústria de Medicament­os Isentos de Prescrição.

O Google e o Hospital Israelita Albert Einstein fecharam em 2016 parceria para oferecer informaçõe­s confiáveis a usuários que fazem buscas na área da saúde por meio de quadros com dados sobre as doenças revisados pelo hospital. No ano passado, foram incluídos dados sobre os sintomas.

“‘Dr. Google’ não fala, prescreve remédio ou visita pacientes internados. Como pode diagnostic­ar?” Antonio Carlos Chagas DIRETOR CIENTÍFICO DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA

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