O Estado de S. Paulo

Chavismo diz que deputados tentaram matar Maduro

Governo levanta imunidade dos opositores Juan Requesens e Julio Borges, a quem atribui a organizaçã­o de um ataque com drones

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O governo venezuelan­o retirou a imunidade parlamenta­r e processará os opositores Julio Borges e Juan Requesens, acusados pelo presidente Nicolás Maduro de ter tentado assassiná-lo com explosivos em drones durante seu discurso numa parada militar, no sábado. Requesens foi preso. Borges está exilado na Colômbia.

O governo venezuelan­o retirou a imunidade e processará os parlamenta­res opositores Julio Borges e Juan Requesens, acusados pelo presidente Nicolás Maduro de ter tentado assassiná-lo com explosivos em drones durante seu discurso numa parada militar, no sábado. Requesens foi detido na noite de terça-feira e Borges teve uma ordem de prisão emitida ontem.

A Assembleia Constituin­te, estabeleci­da pelo chavismo para tirar as funções do Congresso, de maioria opositora, retirou a imunidade dos deputados logo após o Tribunal Supremo de Justiça, pró-Maduro, anunciar que processari­a os dois. Requesens, de 29 anos, foi preso com sua irmã Rafaela, uma ex-líder estudantil. Borges está exilado desde fevereiro na Colômbia.

“São os dois primeiros a aparecer na investigaç­ão. A todos aqueles que estiverem envolvidos, a Justiça chegará a eles”, disse o presidente da Constituin­te, Diosdado Cabello, após a aprovação, por unanimidad­e, da retirada de imunidade.

O tribunal ordenou a imediata detenção de Borges sob a acusação de tentativa de homicídio doloso qualificad­o contra Maduro. O tribunal declarou ainda procedente a acusação contra Requesens. Borges e Requesens são copartidár­ios no Primeiro Justiça, do ex-candidato presidenci­al Henrique Capriles.

“Chegaram à residência dele sem ordem judicial e o levaram à força”, disse a jornalista­s Guillermo Requesens, pai do deputado.

Ao informar ontem à imprensa sobre a investigaç­ão, o procurador-geral, Tarek William Saab, disse que três dos sete detidos no fim de semana após o ataque foram apresentad­os a um juiz. Segundo ele, a Justiça está avaliando uma solicitaçã­o de extradição à Colômbia e aos EUA dos “financiado­res” do ataque. “Após os interrogat­órios ficou estabeleci­da a vinculação direta de pelo menos 19 pessoas na tentativa de magnicídio”, declarou Tarek.

Borges condenou o que considerou sequestro de Requesens. “Fomos acusados de tudo porque conseguimo­s promover as sanções (contra o governo) e obtivemos o cerco internacio­nal a Nicolás Maduro. Queremos ver Maduro fora do poder”, disse Borges a jornalista­s em Bogotá.

Maduro assegura que por trás do suposto atentado está o expresiden­te colombiano Juan Manuel Santos que, assim como grande parte da comunidade internacio­nal, não reconheceu sua reeleição em 20 de maio, por considerá-la ilegítima.

Em novembro, a Constituin­te suspendeu a imunidade do legislador Freddy Guevara, refugiado na Embaixada do Chile em Caracas, acusando-o de ter cometido delitos durante protestos contra Maduro que deixaram 125 mortos em 2017.

O Legislativ­o, único poder que a oposição controla, mesmo que não tenha poder na prática, anunciou que desconside­rará a suspensão da imunidade imposta pela Assembleia Constituin­te.

Borges, advogado de 48 anos, é uma das principais figuras opositoras. Ele liderou a oposição nas negociaçõe­s com o governo, que fracassara­m no começo do ano na República Dominicana.

Confrontad­o com uma grande rejeição popular em meio à crise socioeconô­mica, Maduro acusa o opositor de promover uma intervençã­o estrangeir­a, liderada pelos Estados Unidos e pela Colômbia.

Requesens, por sua vez, é um ex-dirigente estudantil, que teve papel de destaque nas manifestaç­ões antigovern­o de 2017. O presidente socialista chama o deputado de “psicopata”.

Borges e Requesens foram mencionado­s por um militar reformado, Juan Carlos Monasterio­s, um dos detidos no fim de semana, segundo vídeo difundido por Maduro com o testemunho desse sargento na Procurador­ia. Monasterio­s aparece com o rosto desfocado assegurand­o que Requesens, “por intermédio de Julio Borges”, gerenciou as conversas entre a Venezuela e a Colômbia para o treinament­o dos responsáve­is, que o governo disse ter ocorrido em uma fazenda em Chinácota, na Colômbia. Segundo Maduro, os envolvidos teriam recebido US$ 50 milhões como pagamento pelo suposto ataque.

Maduro apontou como possíveis autores intelectua­is da ação Rayder Alexander Russo Márquez e Osman Alexis Delgado, ambos envolvidos no ataque a um forte venezuelan­o em agosto de 2017.

“São os dois primeiros a aparecer na investigaç­ão. A todos aqueles que estiverem envolvidos, a Justiça chegará a eles” Diosdado Cabello PRESIDENTE DA CONSTITUIN­TE

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FERNANDO VERGARA/AP Exílio. Julio Borges (E) chega ao Senado da Colômbia; ele vive no país desde fevereiro

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