O Estado de S. Paulo

Debate com impulso recente

- NYT, TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

1. Como esse tema chegou ao topo da agenda no país?

Os esforços para flexibiliz­ar as leis sobre o aborto foram impulsiona­dos pelo movimento Ni Uma Menos, formado em 2015. O movimento contribuiu para colocar as reivindica­ções feministas no mapa na Argentina. Uma echarpe verde, associada há muito tempo à iniciativa para legalizaçã­o do aborto, é um elemento onipresent­e na atual campanha. Apesar do forte apoio nas cidades, a oposição à lei é robusta nas áreas rurais. Católicos conservado­res e evangélico­s, usando lenços azuis em suas manifestaç­ões, fizeram campanha para a lei atual não ser alterada.

2. Qual a situação em casos de aborto na América Latina?

Somente Cuba e Uruguai legalizara­m o aborto. As leis no México são estabeleci­das pelos Estados. Diversos países contemplam exceções à proibição de abortar. No ano passado, por exemplo, o Chile, que tinha uma das legislaçõe­s mais duras, adicionou três exceções à regra: o aborto é autorizado em casos de estupro e incesto, se a vida da mãe corre risco e em casos de malformaçã­o do feto.

3. Quais opções das mulheres para abortar na Argentina?

Com base na atual lei, que vigora desde 1921, o aborto é legal somente em casos de estupro ou se a gravidez implica um risco à saúde da mãe. Mas isto não significa que não houve abortos no país. O ministro da Saúde Adolfo Rubinstein estima que mais de 350 mil abortos clandestin­os são realizados a cada ano. Grupos de direitos humanos afirmam que esse número é bem maior, em torno de 500.000 ao ano. As complicaçõ­es por causa da intervençã­o nesses casos são a principal causa de mortes da mãe, dizem pesquisado­res, representa­ndo 18% de todas as mortes maternas no país. Em torno de 45 mil a 60 mil mulheres são hospitaliz­adas anualmente devido a complicaçõ­es.

4. Como é em outros países?

O movimento em favor dos direitos da mulher vem crescendo no Chile. Milhares de pessoas se reuniram em Santiago no mês passado, usando as echarpes verdes populariza­das na Argentina, exigindo uma revisão das leis de aborto. No Brasil, país conservado­r com a maior população de católicos do mundo, as mudanças têm sido mais lentas.

5. O que disse o Papa?

Mesmo com a queda no número de católicos na Argentina – de 87% em 1995 para 65% este ano, de acordo com o Latinobaró­metro – a opinião do Papa tem força no país. Em março, Francisco escreveu uma carta ao povo argentino insistindo para que seja dada prioridade “à defesa da vida e da justiça”. O religioso argentino também se opôs à aprovação do casamento gay no país.

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