O Estado de S. Paulo

‘É FADIGA... É FILA... VOU BEM POUCO AO MÉDICO’

Analista de negócios relata que só sai de casa com uma bolsinha de remédios básicos

- Juliana Diógenes

Oanalista de negócios Raul Almeida, de 27 anos, está entre os 63% dos brasileiro­s com nível superior que têm o hábito de se autodiagno­sticar pela internet. Ele busca os sintomas de doenças no Google, não gosta de ir ao médico por achar burocrátic­o e cansativo – apesar de ter plano de saúde –, e só sai de casa com uma bolsinha de remédios básicos.

Em uma das últimas vezes que recorreu ao hospital, aguentou três semanas sentindo coceira e tentando se tratar com xarope antialérgi­co. “Estava coçando pouco na primeira semana. Joguei no Google as palavras ‘manchas vermelhas no corpo’. Aí falou que podia ser sífilis ou alergia e para todas essas coisas o tratamento era Benzetacil. Tentei tomar só xarope, mas já na terceira semana estava muito ruim. Precisei ir correndo para o hospital. Cheguei lá e falei: isso é uma bactéria. O médico confirmou e tomei a Benzetacil”, conta.

Para Almeida, a regra é: se o nariz coçou, lava com Rinossoro ou banho quente. Se sentiu dor de cabeça, compra Tylenol e Advil. “Faço automedica­ção total”, admite. Aliás, na bolsa, o que “nunca pode faltar”, diz ele, é Advil. “Aciclovir porque tenho herpes desde pequeno, Strepsys para a garganta é bom ter também. E algum sorinho para lavar o nariz.”

"Esses dias minha gengiva estava sangrando. Joguei no Google ‘gengiva sangrando’. E dizia que podia ser provocada por causa dos dentes. Pensei que provavelme­nte está inflamada porque ainda tenho todos os meus sisos. Não posso tirar os sisos agora por falta de dinheiro. Mas também pode ser outras coisas, né? Pode ser gengivite... Não tenho a confirmaçã­o, mas também não me automediqu­ei.”

O analista de negócios tem plano de saúde da empresa onde trabalha e confessa que não gosta de ir ao médico por “pura preguiça”. “É fadiga, é fila. Você chega lá e tem um monte de gente doente, aquele clima ruim... Tem de esperar senha, se cadastrar. Parece banco. Tenho paciência zero para ficar esperando. É todo um processo.”

Internet. Almeida defende ainda que no Brasil as consultas e as prescriçõe­s deveriam ser feitas por médicos virtualmen­te, seguindo moldes internacio­nais, onde o paciente pode ser consultado online, usando o tablet ou o computador. “Se fosse um cenário assim, com certeza ia ser mais fácil. Mas como é muito burocrátic­o, vou bem pouco mesmo ao médico.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Check list. Almeida leva opções para herpes e garganta, além de soro para o nariz

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