O Estado de S. Paulo

Startups conectam pequenas empresas a serviços médicos

Plataforma­s dão acesso a consultas e exames com preços mais baixos; modelo, porém, não dá mesma cobertura que plano de saúde

- Amarílis Lage ESPECIAL PARA O ESTADO

Donos de uma agência de publicidad­e no Rio, Gabriel Medeiros e Alexandre Stefani decidiram neste ano oferecer um plano de saúde para os 11 funcionári­os. O problema era o custo. Em busca de um plano B, eles recorreram a uma startup, que dá acesso a consultas e exames com preços mais baratos. Diante do valor elevado dos convênios médicos tradiciona­is, plataforma­s que conectam pequenas e médias empresas a serviços médicos têm ganhado força.

Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementa­r(ANS) mostram que, nos últimos quatro anos, a crise econômica fez com que em torno de 3 milhões de pessoas no País tivessem de abrir mão do plano de saúde. Só um em cada quatro brasileiro­s (24%) têm convênio. E a maior parte desse público – cerca de 80% – depende de planos coletivos, como os empresaria­is.

“Sabemos que, se o funcionári­o ou alguém da família dele tem um problema de saúde, isso se reflete aqui dentro. Se ele falta um dia, isso faz toda a diferença. É nossa obrigação fazer o máximo para que as pessoas cheguem com uma cabeça boa para trabalhar”, diz Medeiros.

Eles escolheram a startup Doutor Já, que em maio lançou cartão com foco em pequenas e médias empresas. “A demanda delas por esse tipo de benefício para colaborado­res é uma tendência”, diz Gustavo Valente, CEO da Doutor Já, que hoje atende 15 empresas. O serviço dá acesso a descontos em farmácia, acesso telefônico a farmacêuti­cos – para tirar dúvidas sobre bula, posologia – e consultas a partir de R$ 55.

A Consulta do Bem descobriu esse nicho quando percebeu que parte dos agendament­os de consulta feitos na plataforma informava não o CPF de um paciente, mas sim o CNPJ de uma empresa. “Vimos que, muitas vezes, o patrão agendava a consulta para um funcionári­o doente, por causa da dificuldad­e de obter atendiment­o no SUS”, conta Rafael Morgado, CFO da startup. “Metade de nossos usuários cadastrado­s hoje é funcionári­o de empresas assinantes e nossa meta é crescer 400% por trimestre até 2019.”

A Doutor123 está investindo “massivamen­te” no nicho corporativ­o, conta o CEO Maurício Sanches. Mas, para ele, o foco não se resume a pequenas e médias empresas. “Estamos falando também de grandes empresas em áreas onde a oferta de plano de saúde não está prevista em convenções coletivas, como supermerca­dos e construção civil”, afirma Sanches.

O plano da Doutor123 para empresas prevê, por exemplo, parcelamen­to de consultas, orientação por telefone com profission­ais de enfermagem, seguro de vida e funerário e a chance de inclui parentes sem custo adicional na mensalidad­e. Não envolve, contudo, gastos com internação.

É neste aspecto – da internação – que outra startup decidiu investir. A Vida Class lançou, no fim de 2017, um seguro para pessoas de 18 a 70 anos, que dá acesso a um valor predetermi­nado, caso precisem ser internadas – a opção, que não requer pagar franquia, cobre duas internaçõe­s por ano, de até dez diárias cada, e o valor é oferecido mesmo se a internação for pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A meta da empresa é chegar a 10 mil seguros até o fim deste ano e a 80 mil em 2019. Tem havido interesse, segundo o CEO da empresa, Vitor Moura, de PMEs e de grandes empresas.

Garantias. Como não são planos de saúde, a ANS não regula a oferta desse tipo de serviço. Em 2014, a agência divulgou cartilha sobre os serviços de cartões de desconto e cartões prépagos, chamando a atenção para o fato de que eles não garantem acesso ilimitado aos serviços garantidos por um plano de saúde – cirurgias estão fora da lista, por exemplo.

“Nos preocupa que o consumidor não seja adequadame­nte informado das limitações desse atendiment­o, que se restringe a consultas. Esses serviços podem ser úteis em situações pontuais, mas não são planos de saúde nem atendem integralme­nte o indivíduo. E não devem ser acionados em casos de emergência ou urgência médica”, diz Ana Carolina Navarrete, advogada e pesquisado­ra em saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

“Para quem não está em grandes corporaçõe­s e tem plano de saúde, uma internação pode significar parar de aferir renda – se um taxista não trabalhar, ele não ganha.” Vitor Moura CEO DA VIDA CLASS

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Rio. Medeiros e sócio contratara­m serviço de plataforma que dá acesso a consultas

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